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sábado, novembro 27, 2021

O Ocidente escolheu a autodestruição




Os promotores do bem não dão conta de enxergar as consequências imprevistas de suas ações. 

Por Theodore Dalrymple 

A ordem celestial, como dizem os chineses, foi removida do mundo ocidental. Ou, como os gregos antigos teriam dito ao seu modo, os deuses primeiro enlouquecem aqueles a quem querem destruir.

Uma espécie de loucura ou desejo de autodestruição se instalou no mundo ocidental, versátil em suas manifestações. Enquanto a China constrói porta-aviões, o Ocidente demonstra sua determinação militar indicando almirantes que mudaram de sexo. Enquanto a China abre minas de carvão para usinas de energia, o Ocidente não consegue garantir que as luzes vão continuar acesas durante o inverno que se aproxima. Mas, mesmo assim, dentro em breve, vai autorizar apenas veículos elétricos. Muitos milhões de veículos elétricos.

Por trás dessa loucura, a população suspeita de corrupção, tanto moral quanto financeira. Sem dúvida os políticos nunca foram exemplares em sua conduta. Mas um desdém perigoso pela classe política se tornou muito predominante. Perigoso porque, por mais que desprezemos os políticos, o homem (como nos disse Aristóteles) é um animal político, e não precisamos nem podemos funcionar sem eles. Com exceção da Suíça, talvez, onde a população não sabe nem o nome do chefe de Estado, que é tão irrelevante para eles quanto o nome da capital do Paraguai é para um cavaleiro mongol.

Só que, quando menosprezamos nossos políticos, logo expressamos um desejo de uma figura providencial, uma espécie de salvador, que acaba nos lembrando de que as situações podem ficar bem piores do que estavam. É por isso que os chamados “não políticos”, ou figuras que posam como “não políticos”, têm hoje maior visibilidade do que nunca nas democracias. Sempre me lembro da resposta que um camponês peruano me deu quando perguntei por que ele tinha votado em Fujimori na eleição que o levou ao poder: “Porque não sei nada sobre ele”. (Na verdade, Fujimori de fato melhorou as coisas. Ou talvez eu devesse dizer que as coisas melhoraram quando ele estava no poder, uma vez que o Sendero Luminoso, o Khmer Vermelho da América do Sul, foi destruído durante seu governo. Um feito que na época foi de uma importância transcendente, mais importante do que qualquer outra coisa.)

A resposta do camponês peruano foi muito instrutiva, sugerindo de fato um profundo pessimismo sobre a qualidade das pessoas que seguiram carreira política no passado: qualquer um é melhor do que eles. Isso não é verdade porque, com pouquíssimas exceções, sempre existe alguém pior. Mas, mesmo assim, a atitude é compreensível.

O vento não sopra o tempo todo

Alguma noção das coisas é muito necessária, tanto em questões pessoais quanto políticas, porque sem noção as reações catastróficas se tornam prováveis. Em meio à insatisfação, é difícil fazer isso. E estamos sempre insatisfeitos, porque a insatisfação é uma condição permanente da humanidade. Quer seja mais perigoso pensar que nada pode melhorar ou que nada pode piorar é uma questão a ser debatida, provavelmente sem uma conclusão definitiva. Algumas pessoas valorizam mais evitar o mal do que promover o bem, e nenhum está sempre correto.

No momento, promover o bem, ou o suposto bem, parece estar em ascendência. Aliás, os promotores do bem estão tão encantados com a benevolência de suas próprias intenções que não dão conta de enxergar as consequências imprevistas de suas ações ou políticas: é provável que a própria ideia de consequências imprevistas seja algo desconhecido para sua forma de pensar.

Por exemplo: na Europa, o interior foi salpicado com enormes turbinas de vento. Quando os Savonarolas (uma referência ao padre italiano Girolamo Savonarola, que viveu entre 1452 e 1498 e se tornou famoso por seus sermões apocalíticos na cidade de Florença) da ecologia olham para elas, não veem feiura nem destruição da beleza visual do campo. Eles tampouco ouvem os rangidos. Também não pensam na morte cruel dos pássaros que ficam presos nela. Na verdade, eles pensam e quase enxergam, ou acham que enxergam, a suposta redução nas emissões de dióxido de carbono que essas monstruosidades supostamente geram.

Quer elas façam isso ou não, ou quer elas apenas transfiram o custo ecológico para outro lugar (para a China, por exemplo, onde a maior parte das turbinas eólicas é fabricada) sem dúvida é uma questão complexa, que a maioria desses Savonarolas não considerou nem é capaz de considerar — assim como, aliás, eu também não sou. Os Savonarolas estão encantados com a pureza de suas próprias intenções.

De toda forma, o vento não sopra o tempo todo, nem mesmo no Mar do Norte, de modo que nenhum país pode contar totalmente com essas turbinas para o seu fornecimento de energia. Alguma outra fonte precisa ser encontrada para desempenhar a função de backup quando as turbinas eólicas estiverem paradas.

Infelizmente, todas as outras formas de gerar eletricidade, com exceção da energia solar recaem sob a interdição ecológica. (O Sol não brilha sempre, e os painéis solares também são produzidos na China, sem dúvida de forma poluente). Dessas opções, o carvão é a pior. Mas o petróleo e o gás natural são igualmente condenáveis. A geração de energia nuclear está propensa a acidentes cujas consequências seriam incalculáveis. O potencial da energia hidrelétrica é limitado em muitos países, além disso, ela também tem efeitos ecológicos nocivos.

Assim, parece que a única solução é abrir mão da eletricidade e da calefação às pessoas comuns num país frio, ainda que as populações não fiquem totalmente felizes nem agradecidas em não alimentar aparelhos eletroeletrônicos, quanto mais congelar no escuro.

Enquanto se restringe, a China — o maior gerador de poluição de todos os tipos do mundo — explora seus interesses nacionais, sem dúvida se divertindo com o espetáculo do Ocidente. E o Ocidente se torna cada vez mais dependente dela em todas as suas formas de consumo, graças a uma espécie de raciocínio louco e utópico, do tipo que as universidades há tempos tentam infundir na juventude.

Quanto aos veículos elétricos, não conheço ninguém que não acredite que sua adoção no Ocidente seja resultado de um lobby político corrupto da indústria, em vez de qualquer preocupação com o bem-estar do meio ambiente ou com o clima (não que o fato de que não conhecer ninguém que não acredite nisso seja evidência de que é verdade). Mesmo que essa crença seja falsa, o potencial para uma grave instabilidade caso a classe política insista que as pessoas relativamente pobres comprem carros elétricos caros é bastante considerável. E então o governo chinês poderá dizer, como já diz, que o modelo autoritário provou ser amplamente superior à nossa democracia. E talvez a nossa população comece a acreditar nisso.

Revista Oeste

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