Pedro do Coutto
Em artigo publicado no Globo desta segunda-feira, Fernando Gabeira, com sua experiência no universo político, busca um horizonte para as urnas de 2022, considerando a hipótese de o quadro de 2018 se repetir em matéria de correntes partidárias. Devo assinalar que acompanho sempre seus artigos e seus comentários na GloboNews. São isentos, claros como um copo d’água, o que os torna bastante importantes.
Entretanto, está um pouco distante o desencadeamento da sucessão presidencial, pois em matéria de política dois anos são um longo percurso. Nesse espaço de tempo acontecem fatos inesperados, surpreendentes, que fazem com que as análises tenham de ser renovadas ao longo do percurso.
MUDANÇA DE RUMO – Da mesma forma como acontece nos projetos econômicos, que na maioria dos casos tornam praticamente obrigatória a revisão dos planejamentos originais, a política também é cheia de mudanças.
Um exemplo de surpresa. A ruptura entre Bolsonaro e Hamilton Mourão. Como dizia o senador Benedito Valadares, a teoria na prática é outra coisa. Outra frase do velho político mineiro: ”É melhor um adversário cordial do que um correligionário hostil”, disse em 1960, referindo-se à eleição em Minas, quando Tancredo Neves perdeu para Magalhães Pinto.
Mas esta é outra questão. Penso que o quadro de 2022 não será igual ao que marcou as urnas de 2018. Há dois anos, Lula, Dilma e o PT foram os responsáveis pela vitória de Bolsonaro. Depois do Mensalão, os escândalos do Petrolão e da Lava Jato mostraram que a roubalheira foi institucionalizada. Lula dividira a Petrobrás em capitanias financeiras.
BOLSONARO NA MIRA – Na próxima sucessão o que estará sob julgamento é a atual administração do presidente, que permanece sem partido mas que age colocando seus objetivos e problemas acima das suas maiores vontades, esquecendo-se do interesse coletivo.
Surgiu a candidatura de João Dória, Lula lançou Haddad, Luciano Huck é uma incógnita, da mesma forma que qualquer outro nome venha a surgir, inclusive Ciro Gomes. Podem dizer que o apresentador da TV Globo certamente terá poucos votos, mas seu apoio não será igual a zero. Lembro que no futebol, se por um gol se vence, por um ponto também se perde.
No que se refere à economia, matéria de Tiago Braga em O Globo, Huck segue a linha de Armínio Fraga. Além disso, devem surgir os candidatos de sempre como a frase que ficou célebre no filme “Casablanca”.
TRUMP ENROLADO – Reportagem de Beatriz Bulla, correspondente do Estadão em Washington, edição de ontem, revela que o advogado Bruce Castor, que funcionou na defesa De Donald Trumpo irritou fortemente o próprio ex-presidente.
Castor repetiu a posição do senador republicano Mitch McConnell. Ambos consideraram que não pode haver impeachment para alguém que não está mais no governo. No entanto, afirmaram que Trump pode ser processado e até condenado por incitamento a desordem, cujo desfecho foi a invasão do Capitólio, com cinco mortes.
Os democratas e seis republicanos estão tentando levar Trump à prisão.