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sexta-feira, junho 26, 2020

Heleno mostrou que é um general de verdade, mas Eduardo Ramos se complicou todo…


Augusto Heleno mostrou que um chefe militar não pode mentir
Carlos Newton
A mentira é um risco que pode ser fatal para qualquer homem público e para sempre ficar gravada em sua carreira “como tatuagem”, no dizer da belíssima canção que Chico Buarque e Ruy Guerra criaram para a peça “Calabar”. Foi a mentira sobre Watergate que levou o presidente Richard Nixon à renúncia nos Estados Unidos, em 1974.
UM GENERAL DE VERDADE – Agora, nessa fase conturbada da política brasileira, o general Augusto Heleno honra sua farda e desmente o presidente da República, Jair Bolsonaro, que se revela uma espécie de mentiroso contumaz, quase sempre suas declarações necessitam de tradução simultânea, para evitar que ele morra pela boca, como se dizia antigamente.
Determinados políticos e advogados se acostumam a mentir desde cedo, é como se isso fizesse parte da profissão. Há alguns anos, por exemplo, o famoso advogado José Roberto Batochio, com uma mentira bem colocada, conseguiu evitar a prisão do ex-ministro Guido Mantega.
O CASO MANTEGA – Em 2016, houve vazamento na Lava Jato e Mantega soube que seria preso no dia 22 de setembro. Ligou para o advogado Batochio, que armou uma estratégia.
Mandou Mantega pegar a mulher, que se tratava de câncer, e ir de madrugada para o hospital Albert Einstein. Ao médico do plantão, disse o advogado, Eliane Mantega reclamaria que estava passando mal do estômago e pediria para ser feita uma endoscopia, que só começa a funcionar às 8 horas. Assim, quando a Polícia Federal chegasse ao hospital, Mantega diria que a mulher, cancerosa, estava sendo operada.
O plano deu certo. A PF chegou a prender Mantega, mas o delegado entrou em contato com o juiz Sérgio Moro, que ficou compadecido e cancelou a prisão. A mentira foi descoberta no mesmo dia, quando a imprensa entrevistou Marina, filha de Mantega, que revelou não ter havido cirurgia, mas somente um exame de endoscopia em ambulatório. Assim, quatro anos depois Mantega continua solto, como se fosse um cidadão acima de qualquer suspeita.
O CASO HELENO –  Agora, em ofício à Polícia Federal, o general Augusto Heleno confirmou que não houve problemas na segurança presidencial no Rio de Janeiro nem dificuldade para substituir seus integrantes. Com isso, não somente desmontou as fantasiosas alegações do presidente Jair Bolsonaro, como também desmentiu o general Eduardo Ramos, seu colega de farda e de ministério.
Heleno mostrou que é um general de verdade, enquanto Ramos fez um papel inaceitável para um chefe militar. Ao depor perante o Ministério Público, afirmou o secretário de Governo: “Foi dito pelo presidente Jair Bolsonaro, na mesma reunião do dia 22 de abril de 2020, que, a título de exemplo, se ele não estivesse satisfeito com sua segurança pessoal realizada no Rio de Janeiro, ele trocaria inicialmente o chefe da segurança e, não resolvendo, trocaria o ministro, e nesse momento olhou em direção ao ministro Heleno”.
Isso não aconteceu. Na reunião, Heleno estava à direita do presidente, que ao fazer a advertência, virou à esquerda e olhou direto para Sérgio Moro.
DEPOIMENTO RETIFICADO – No primeiro depoimento, o general Eduardo Ramos foi muito tendencioso na defesa de Bolsonaro, chegando a dizer que “não foi mencionado pelo presidente que se não pudesse trocar o diretor geral da Polícia Federal ou o superintendente da Polícia Federal no estado do Rio de Janeiro ele trocaria o próprio ministro”, acrescentando que “na presença do depoente isso não foi dito na reunião do dia 22 de abril ou em qualquer outro momento”.
No entanto, após concluído o depoimento, o general-ministro teve peso na consciência e pediu para retificar essas afirmações. Tudo isso é extremamente lamentável, até porque o cidadão brasileiro tem o direito de exigir que os chefes militares não mintam, especialmente em depoimento à Polícia.
Em profissões como política e advocacia, a mentira pode ser tolerada, mas em profissões de cunho militar esse desvio de caráter não pode ser aceito, em hipótese alguma.
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P.S. 
– Já ia esquecendo. Em matéria de mentira, ninguém supera Jair Bolsonaro. Dia 24 de abril, quando Sérgio Moro se demitiu, o presidente reuniu o ministério para fazer uma mensagem à Nação. Falou uma série interminável de boutades, para ao final dizer que Moro lhe propusera um acordo para ser nomeado ao Supremo. Foi uma mentira tão safada que mais parecia a Piada do Ano, mas ninguém achou graça(C.N.)

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