Pedro do Coutto
O presidente Jair Bolsonaro, que se encontrava no Amapá, telefonou para o presidente da Petrobrás, Roberto Castello Branco, e determinou que o aumento de 5,7% no preço do óleo diesel fosse imediatamente suspenso. Os reflexos tanto da majoração quanto da suspensão do ato do presidente da estatal revelaram mais uma vez a falta de conexão política do governo. Afinal de contas, aumentar o preço foi um ato que atingiria o consumo diário de 1 milhão de barris, significando que o novo preço incidiria sobre caminhões e ônibus principalmente. O consumo do óleo diesel atinge metade do transporte rodoviário do país.
A questão, entretanto, não pode ser vista apenas sob o ângulo econômico e cujo reflexo atingiu fortemente o preço das ações da Petrobrás na Bolsa de Valores de São Paulo.
PARENTE TENTOU – A decisão do Palácio do Planalto, de outro lado, atingiu frontalmente o Presidente da estatal e a aparente independência da Petrobrás em fixar seus preços de acordo com as oscilações do mercado internacional do petróleo.
Tal política, de outro lado, fora tentada por Pedro Parente, quando presidiu a empresa, e culminou com sua saída do cargo no governo Michel Temer. O panorama do petróleo é dos mais complexos. No caso da Petrobrás afeta o valor de suas ações na Bovespa. Mas não é apenas isso.
Atinge também frontalmente a política liberal projetada pelo Ministro Paulo Guedes, a qual sofreu forte golpe na tarde de sexta-feira. Por isso, na minha opinião, o desafio de administrar preços torna-se um dos mais complexos colocados na estrada do governo.
VÁRIAS FACES – O problema não se esgota com o recuo da ideia liberal do Ministro Paulo Guedes, no caso seguida à risca por Roberto Castello Branco. Trata-se de um lance de dados de várias faces. Uma delas o reflexo no custo de vida, reflexo imediato decorrente da elevação inesperada do diesel. Por isso é que faltou articulação por parte da equipe econômica, ao surpreender com a decisão tanto os caminhoneiros quanto o presidente da República.
Esse aspecto ficou evidente na declaração do ministro Paulo Guedes que se encontrava em Washington: “Criou-se um silêncio ensurdecedor”. A contradição não se esgota na frase. Ela abrange todo o quadro político do país.