Carlos Newton
Paulo Guedes é um personagem ardiloso e controverso, para dizer o mínimo. Jamais poderia ter sido convocado pelo presidente da República para gerir a economia, com todos os poderes, recebendo carta-branca com apenas uma restrição – ao reformar a Previdência, poupar ao máximo os militares. O resto – todo o resto – ficou por conta dele, como se fosse um homem perfeito, um São Francisco de Assis em versão econômico-financeira. Mas não é nada disso, Guedes é um pecador inveterado, que não pode ver dinheiro.
CURRÍCULO – Tem um passado nebuloso, que inclui os inquéritos a que está respondendo pelas aplicações que fez para fundos de pensão que beneficiaram suas próprias empresas, a ponto de a direção do Funcex, da Caixa Econômica Federal, ter denunciado a gestão temerária dele à Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc), que constatou os prejuízos e encaminhou a denúncia ao Ministério Público.
O prejuízo que deu aos fundos está mais do que está comprovado. Se suas aplicações tivessem dado lucro, por óbvio nem haveria a investigação. Justamente por isso, o pecador Guedes tenta escapar dessa denúncia como o diabo foge da cruz. Primeiro, recusou-se a depor ao Ministério Público e agora se esconde sob o manto sagrado do foro privilegiado no Supremo.
PRÓ-BANQUEIROS – É inacreditável que Bolsonaro tenha colocado um economista desse tipo para cuidar dos cofres públicos. Em sua santa ingenuidade, o presidente da República não percebe que Guedes é um ferrenho defensor dos banqueiros, está pouco se preocupando com o interesse público.
Nesta quarta-feira, o ministro mentiu abertamente na Comissão de Constituição e Justiça, ao afirmar que não vai entregar a capitalização para os bancos. Vai entregar a quem, então? Ora, ele admite que pretende seguir o modelo do Chile, com o sistema sendo operado pelas AFPs [Administradoras de Fundos de Pensão], controladas por bancos ou seguradoras, que são irmãos xifópagos.
Para os trabalhadores, o sistema não deu certo no Chile, mas tem sido altamente lucrativo para os bancos e seguradoras. Os fundos de pensão que fazem a capitalização no Chile são geridos por seis AFPs, das quais cinco são estrangeiras, e uma delas é do banco BTG Pactual, do qual Guedes foi um dos fundadores. Mas é claro que isso é apenas coincidência.
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P.S. – O modelo previdenciário foi criado na sangrenta ditadura de Pinochet, que hoje Bolsonaro tanto exalta, espantando e até horrorizando os chilenos. No inicio, o sistema fez sucesso internacional, mas hoje está absolutamente fracassado. Já foi abolido ou modificado em todos os países que o adotaram. No Chile, desde o governo de Michelle Bachelet estão sendo estudadas modificações e discute-se até a estatização do sistema. O assunto é inquietante, apaixonante e intrigante. Vamos voltar a ele, até porque há detalhes que são coisas muito grandes para esquecer, como diz Roberto Carlos. (C.N.)
P.S. – O modelo previdenciário foi criado na sangrenta ditadura de Pinochet, que hoje Bolsonaro tanto exalta, espantando e até horrorizando os chilenos. No inicio, o sistema fez sucesso internacional, mas hoje está absolutamente fracassado. Já foi abolido ou modificado em todos os países que o adotaram. No Chile, desde o governo de Michelle Bachelet estão sendo estudadas modificações e discute-se até a estatização do sistema. O assunto é inquietante, apaixonante e intrigante. Vamos voltar a ele, até porque há detalhes que são coisas muito grandes para esquecer, como diz Roberto Carlos. (C.N.)