Gustavo Schmitt e Sérgio RoxoO Globo
Entre os 4 milhões de seguidores do presidente Jair Bolsonaro no Twitter , o perfil @gomes28774783 chama atenção. Sua atuação na rede social se restringe quase exclusivamente à defesa de assuntos de interesse do governo. Ele já chegou a fazer 16 tuítes em um minuto. Do dia 9 ao 27 deste mês, foi responsável por 3.170 publicações, o que dá uma média de uma a cada dez minutos.
O perfil @gomes28774783 faz parte de um grupo de apoiadores de Bolsonaro no Twitter com participação ativa, no último mês, em três casos: ataque ao jornal “O Estado de S. Paulo” com base em uma declaração falsa atribuída a uma repórter, na ofensiva contra a nomeação da cientista política Ilona Szabó para um conselho do Ministério da Justiça, e na defesa da atuação de Bolsonaro na viagem aos Estados Unidos.
LEVANTAMENTO – Realizado com auxílio do Laboratório de Estudos e Imagem de Cibercultura (Labic) da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), o levantamento do Globo constatou que um grupo de 5.843 perfis fez publicações em todos os três episódios. Apesar de representarem 9% do total de usuários que se engajaram nesses temas, foram responsáveis por quatro em cada dez postagens. @gomes28774783 foi o campeão, com 1.033 publicações.
— Os dados revelam que perfis atuam deliberadamente tentando impor uma narrativa em relação aos fatos. Como essa rede parece não ser 100% orgânica, ou seja, não é uma rede plenamente espontânea, isso leva a crer que há um mecanismo forte agindo por trás dessa máquina — afirma Sergio Denicoli, diretor de Big Data da AP/Exata, empresa especializada em análise de redes sociais.
CONTAS SUSPENSAS – Após O Globo enviar ao Twitter uma lista de 20 perfis que seriam citados nesta reportagem, três foram suspensos temporariamente na noite de sexta-feira. porque a empresa constatou comportamento suspeito. Pelas regras da plataforma, são passíveis de restrição contas que apresentam indícios de publicações automatizadas para turbinar um assunto. Nesses casos, são solicitadas informações, como um número de telefone, para provar que há um usuário real por trás do perfil.
O Twitter não comentou o bloqueio das contas, mas informou que “trabalha globalmente e em escala para detectar e combater proativamente spam e agentes mal-intencionados que têm como objetivo manipular as conversas na plataforma”.
Para Pedro Bruzzi, da startup Arquimedes, que faz análise do comportamento de usuários da internet, o núcleo de apoiadores pode ter o auxílio de robôs. “Quando esse grupo trabalha unido, ele tem capacidade para transformar qualquer pauta em assunto mais comentado. É possível que haja robôs, mas a gente não tem como afirmar isso”.
PESO DIFERENTE – Os apoiadores de Bolsonaro também costumam atuar em outras redes sociais, mas, na avaliação de especialistas, o Twitter tem um peso diferente. “Os estudos demonstraram que o Twitter é o local onde nascem temas que serão discutidos” — diz Bruzzi.
Apesar de serem ativos nas redes sociais, o presidente, seus filhos Eduardo e Carlos, e aliados, como o ideólogo de direita Olavo de Carvalho, não aparecem no mapeamento porque nenhum deles usou todas as hashtags analisadas.
A avaliação do comportamento dos 5.843 perfis bolsonaristas mais ativos nos três casos leva à constatação de que há dois grupos distintos atuando. O primeiro é formado pelos chamados influenciadores, que fazem poucas postagens, na maioria das vezes de autoria própria, e chegam a um grande número de usuários porque são muitos retuitados. O segundo é composto pelos propagadores, que quase não fazem postagens próprias, mas retuítam os influenciadores e são os campeões gerais de postagens.
PROPAGADORES – @gomes28774783 faz parte dos propagadores. Das suas 1.033 publicações, 99,13% foram retuítes. Criado em novembro de 2018, o perfil não tem foto e segue apenas seis pessoas — Bolsonaro, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), três ministros e a conta oficial do Palácio do Planalto.
Sua forma de agir ficou evidente no caso em que o jornal “O Estado de S. Paulo” foi atacado. Na ocasião, fez 573 postagens e ajudou a alavancar a hashtag “estadaomentiu” aos assuntos mais comentados do Twitter. O perfil não aceita mensagens, por isso O Globo não conseguiu contatar o responsável.
O principal entre os influenciadores é Allan dos Santos, sócio do Terça Livre, site que iniciou os ataques à repórter Constança Rezende, do “Estado de S. Paulo”, com a publicação de uma declaração falsa. “Minha resposta é peremptória. Não tem nada organizado. Não tem nenhum tipo de coordenação” — disse Allan.
PERFIL FALSO – Allan dos Santos chegou a usar postagens de um perfil falso no Twitter para atacar a repórter. Depois, publicou uma errata dizendo que o perfil não era o de Constança. No dia 23, xingou o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). “Pago impostos e pago o salário do Rodrigo Maia. Ele tem que me tratar como patrão e eu devo tratá-lo como funcionário” — disse Allan sobre o caso.
Um perfil do site de Allan já foi bloqueado pelo Twitter. Ele atribui o fato a um bug e a ataques de pessoas que são contrárias ao seu pensamento.
Entre os dez maiores influenciadores, há perfis como @TheGodFather_75 (Dom Corleone), que no dia 10 de março, quando Constança foi alvo de ataques, fez 121 postagens. A conta começou a postar às 0h01 daquele domingo e só parou às 2h07 da segunda-feira (11). Após um intervalo de cinco horas, Godfather voltou a postar a partir das 7h26 e seguiu mais uma maratona. até as 4h35 do dia 12. Nesse período, foram 238 tuítes. O autor da conta se descreve como de perfil conservador, “cidadão de bem” e “pai de família”. Procurado, o governo não se manifestou.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – O mau uso da internet e das redes sociais, com utilização de robôs, não é novidade alguma. O que espanta é que a família Bolsonaro julgue que governar significa usar abusivamente as redes sociais. É uma ilusão à toa, à moda de Johnny Alf. Em ponto tempo esses “alunos” de Olavo de Carvalho vão descobrir que governar não significa divulgar, mas executar. Espera-se que não percebam essa realidade tarde demais. (C.N.)
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – O mau uso da internet e das redes sociais, com utilização de robôs, não é novidade alguma. O que espanta é que a família Bolsonaro julgue que governar significa usar abusivamente as redes sociais. É uma ilusão à toa, à moda de Johnny Alf. Em ponto tempo esses “alunos” de Olavo de Carvalho vão descobrir que governar não significa divulgar, mas executar. Espera-se que não percebam essa realidade tarde demais. (C.N.)