Carlos Newton
O site do Instituto Ludwig Von Mises não é minha leitura predileta, por defender uma versão econômica superliberalizante que ultrapassa as teses originais do economista austríaco (1881-1973), radicado nos Estados Unidos. Mal comparando, seria como se uma entidade criada para desenvolver as teses de Karl Marx acabasse se tornando ainda mais comunista do que ele.
PARADOXO – Neste século XXI, enquanto o mundo luta para aprimorar a justiça social, o Instituto Von Mises insiste em defender a teoria nada cristã de que “as desigualdades naturais são inevitáveis”. Ao mesmo tempo, abomina as teses intervencionistas do genial John Maynard Keynes, preferindo idolatrar o que há de pior na criatividade de Adam Smith, que é justamente o “laisser faire”, teoria jamais testada em nenhum país do mundo e que acredita ter o mercado poderes absolutamente mágicos e ilusórios, para resolver todos os problemas sociais.
Paulo Guedes tornou-se um mito no Instituto Von Mises, onde é verdadeiramente idolatrado, exatamente porque pretende transformar o Brasil num centro experimental dessas teorias totalmente enlouquecidas, que importantes economistas conservadores como Delfim Netto e Roberto Campos jamais levaram a sério.
CAIU NA RISADA – Durante a Constituinte (1987/88) e nos anos seguintes, quando Delfim era deputado, eu frequentava muito o gabinete dele, inicialmente para discutir as teses econômicas da futura Constituição. Delfim era assessorado pelo jornalista Gustavo Silveira, que o acompanhava desde os tempos do Ministério da Fazenda e às vezes assistia às frequentes entrevistas que Delfim me concedia.
Certa vez, quando indaguei sobre o “laisser faire”, ele caiu na risada e me perguntou se eu conhecia algum país que tivesse se desenvolvido sem ter um Estado forte e capaz de corrigir as distorções do mercado. Realmente, isso “non ecziste”, como diria o padre Quevedo. Mas o Instituto Von Mises e economistas como Paulo acreditam na tese do enfraquecimento do Estado e do “laisser faire”, que hoje em dia poderíamos traduzir como “deixa rolar”.
DÍVIDA-BOMBA – No Brasil, o Instituto Mises está animadíssimo com Guedes e minha surpresa foi ler no site um alarmante artigo, escrito por Ubiratan Jorge Iorio e Leandro Roque, sob o título “A explosiva situação fiscal do governo brasileiro”, em que relata o descontrole da dívida pública, com dados do Banco Central e ilustração de um homem-bomba na tribuna na Câmara.
Quer dizer que o Instituto Von Mises está alarmado com dívida, mas Guedes pouco se importa? Aliás, o ministro jamais toca no assunto da dívida, é como se a reforma da Previdência tivesse o condão de resolver os graves problemas do país.
A verdade é que Guedes está agindo irresponsavelmente em relação à dívida, que é assunto-tabu para a imprensa, devido ao interesse dos banqueiros.
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P.S. – Daqui a pouco vamos publicar artigo de Maria Lucia Fattorelli e Rodrigo Dávila sobre a “maquiagem” dessa dívida descomunal que o Instituto Mises tanto teme e o ministro Guedes tanto desdenha. Vocês vão ficar espantados com a desfaçatez da forma de o governo calcular a dívida.(C.N.)
P.S. – Daqui a pouco vamos publicar artigo de Maria Lucia Fattorelli e Rodrigo Dávila sobre a “maquiagem” dessa dívida descomunal que o Instituto Mises tanto teme e o ministro Guedes tanto desdenha. Vocês vão ficar espantados com a desfaçatez da forma de o governo calcular a dívida.(C.N.)