Dia 14 de março, menos de uma semana após o Dia Internacional da Mulher, o assassinato de Marielle Franco completa um ano. Ainda que tenha sido homenageada pela escola de samba vencedora do Carnaval carioca, o crime que tirou sua vida segue sem esclarecimento. Para piorar este quadro, políticas afirmativas, inclusivas e protetivas para mulheres negras e periféricas, parecem cada vez mais distantes.
Sabe-se que o crime contra Marielle teve motivação política, mas não é só uma coincidência que a ativista integrava uma das camadas da população mais atingidas pela desigualdade social: mulheres, negras e periféricas sofrem diretamente os reflexos de nossas políticas públicas, ou da ausência delas.
Dados do Ipea (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas) apontam, por exemplo, que as mulheres são mais afetadas pelo desemprego, e entre elas, a situação das negras é mais aguda - cada vez que aumenta o desemprego elas são as mais atingidas, à frente de mulheres brancas, homens negros e brancos.
Neste caso, não é difícil presumir que para se aposentar, estratos sociais mais afetados pela falta de emprego terão maiores dificuldades em cumprir as novas exigências da reforma previdenciária, vendida como menina dos olhos do governo Bolsonaro. Como contribuir durante 40 anos ininterruptos sendo a camada mais afetada pela exclusão, pelo desemprego ou pela informalidade?
Ao negar proteção, a previdência, que deveria combater disparidades, passará então a agravá-las, reforçando desigualdades sociais, étnicas e de gênero, perpetuando a lógica de escravidão que impõe formas de trabalho degradantes e direitos mínimos.
Marielle dedicou sua vida à luta pela igualdade e pelos direitos das mulheres, da população negra, periférica, LGBTs e de todas que vivem qualquer forma de opressão.
Ela nos lembra que é preciso resgatar as políticas públicas como forma de garantir justiça social ao invés de reforçar desigualdades.
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