Carlos Newton
Sobre o governo de Jair Bolsonaro, o mínimo que se pode dizer é que se trata de uma metamorfose ambulante, daquelas imaginadas pela genialidade de Raul Seixas. Todo dia é uma novidade, para sacudir a monotonia republicana. A mais recente encrenca envolve o guru Olavo de Carvalho, que nomeou dois importantes ministros e grande número de assessores, escolhidos entre os alunos das aulas que ministra online lá de sua base no estado da Virginia, onde há alguns anos vive a versão brasileira do famoso “homem de Marlboro”, com as camisas quadriculadas, o cigarro na boca e a arma em punho.
Já faz tempo que Olavo de Carvalho se tornou uma espécie de guru da extrema direita brasileira, ao assumir a liderança do advogado e professor Plinio Correia de Oliveira, fundador da famosa TFP (Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade), que morreu em 1995.
SÃO ANTÍPODAS – Curiosamente, Olavo de Carvalho nada tem em comum com o professor Plínio Correia de Oliveira, catedrático da PUC/SP e da Universidade São Bento, o mais jovem e mais votado deputado federal da Constituinte de 1934 e diretor do jornal “O Legionário”, órgão oficioso da Arquidiocese de São Paulo.
De origem fidalga, seu tio-avô era o senador João Alfredo Corrêa de Oliveira, membro vitalício do Conselho de Estado do Império e que referendou a Lei Áurea em 1888, na condição de primeiro-ministro.
Educadíssimo e culto, na verdade o criador da TFP era antípoda de um homem como Olavo de Carvalho, que se comunica aos palavrões, pertenceu ao Partido Comunista, interrompeu os estudos no ensino médio e tornou-se astrólogo, tendo colaborado no primeiro curso de extensão universitária em Astrologia da PUC-SP, em 1979, oferecido a formandos em Psicologia.
SUCESSO NOS JORNAIS – Como substituto de Plinio Correia de Oliveira na defesa da extrema-direita, Olavo de Carvalho conseguiu espaço na mídia e foi articulista em importantes órgãos da imprensa, como Folha de S.Paulo, Planeta, Bravo!, Primeira Leitura, Jornal do Brasil, Jornal da Tarde, O Globo, Época, Zero Hora e Diário do Comércio.
Mas seu radicalismo era tamanho que aos poucos as portas foram se fechando para ele, que então passou a atrair adeptos nas redes sociais e lançou seu curso online, cujo faturamento ocultava do Fisco americano, até ser apanhado em flagrante recentemente.
Para escapar do prejuízo, acaba de lançar uma campanha de arrecadação de recursos que visa pagar o Imposto de Renda, alegando também estar passando por graves problemas de saúde, como aconteceu com o Homem de Malboro, que também era tabagista e morreu de câncer do pulmão.
SOBE E DESCE – No ano passado Olavo de Carvalho ressurgiu na mídia como guru da família Bolsonaro. Sua importância era tamanha que emplacou dois importantes ministros, Ernesto Araújo no Exterior e Ricardo Vélez na Educação, além de nomear grande número de assessores, cuja principal qualificação era serem “alunos” online de seu curso.
De repente, tudo mudou. Araújo foi neutralizado no Itamaraty pelos generais do Planalto e os indicados por Olavo de Carvalho começam a ser demitidos ou esvaziados na Educação. Surpreso, o guru da extrema-direita esboçou um contra-ataque e ordenoua que seus alunos abandonem o governo, mas nenhum deles quer sair, porque não está fácil arrumar emprego aqui fora.
No desespero, Olavo de Carvalho chama os alunos de “fominhas” e ataca aos palavrões os generais, que não lhe dão a menor importância, sabem que nada lhes acontecerá, porque Bolsonaro depende diretamente deles para governar.
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P.S. – Em tradução simultânea, Olavo de Carvalho está cada vez mais enfraquecido, enquanto os militares do Planalto demonstram que enfim têm controle da situação. Quanto a Bolsonaro, o presidente sabe ter um cargo apenas representativo, pois acha que só existe democracia no país porque as Forças Armadas permitem. Então, fica combinado assim.(C.N.)
P.S. – Em tradução simultânea, Olavo de Carvalho está cada vez mais enfraquecido, enquanto os militares do Planalto demonstram que enfim têm controle da situação. Quanto a Bolsonaro, o presidente sabe ter um cargo apenas representativo, pois acha que só existe democracia no país porque as Forças Armadas permitem. Então, fica combinado assim.(C.N.)