Pedro do Coutto
Foram duas contradições marcantes as publicadas nas edições de ontem em O Estado de São Paulo e em O Globo. Aliás O Estado de São Paulo focalizou os dois episódios, mas O Globo deu mais destaque à versão de Olavo de Carvalho sobre a exoneração de pupilos seus pelo atual ministro da Educação. Vamos por partes.
Numa entrevista a Eduardo Rodrigues, em O Estado de São Paulo, o secretário de Trabalho do Ministério da Economia, Bruno Silva Dalcamo, afirmou que a melhora do nível de emprego no país, que hoje atinge 12 milhões de desempregados depende da aprovação da Emenda Constitucional que modifica o sistema da Previdência Social no Brasil. Na minha opinião, ele inverteu a questão: a melhora da Previdência Social é que depende do aumento do número de empregos.
CONTRADIÇÃO 1– Isso porque, digo mais uma vez, a Previdência arrecada sobre a folha de salários. Portanto, se a folha cresce, consequentemente aumenta a receita do INSS. Ou seja, o secretário do Trabalho destaca um poder econômico da Previdência, que de fato não o possui.
O grau de investimentos no país poderá crescer, porém mais em função do avanço da economia do que a redução de gastos com aposentados e pensionistas. Observem os leitores um aspecto essencial. O projeto do governo de reforma tem como alvo a redução de despesas do INSS. Não quer dizer que a redução desses gastos vá se deslocar para os investimentos públicos. Isso porque a meta é corrigir o déficit antes de investir na economia. Apenas isso.
CONTRADIÇÃO 2 – A segunda contradição ressaltada ontem foi publicada pelo O Globo e também pelo O Estado de São Paulo. Em O Globo a matéria foi de Natália Portinari, André de Souza e João Paulo Saconi. Em O Estado de São Paulo, o duelo entre o filósofo e o ministro está na reportagem de Renata Cafardo, Isabela Palhares e Matheus Lara.
A contradição não deixa de possuir um toque de humor, que está no fato de Olavo de Carvalho dizer que orientou seus alunos a deixarem o governo, enquanto Vélez Rodriguez afirma ter feito um expurgo nos quadros do MEC dos seguidores de Olavo de Carvalho. “Foi para organizar a casa”, diz ele. Os dois jornais publicam os nomes dos afastados.
OS INIMIGOS – Olavo de Carvalho em documento enviado àqueles que seguem suas aulas online, disse que “o presente governo está repleto de inimigos do Presidente e do povo brasileiro”. Ele postou a mensagem na madrugada de sábado.
O desencontro da versões deve ser, logicamente, do conhecimento do presidente Jair Bolsonaro. O chefe do governo deverá tomar alguma posição a respeito desse fato, uma vez que Olavo de Carvalho indicou dois ministros em seu governo: o titular das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e o da Educação, o próprio Vélez Rodrigues.
Assim, a questão torna-se mais confusa. No caso, o indicado Vélez Rodrigues tinha em seus quadros pupilos de quem o indicou para o governo.