Carlos Chagas
Virar a mesa é a promessa do senador Pedro Simon, caso o líder do governo, Romero Jucá, quarta-feira, apresente pedido de vista ou de emenda ao projeto da ficha-limpa, na Comissão de Constituição e Justiça do Senado. Ignora-se a extensão e o conteúdo da ameaça feita pelo representante do Rio Grande do Sul, porque “virar a mesa” envolve múltiplas iniciativas. Poderá investir fisicamente contra o líder, no caso da apresentação de emenda, como, também, exigir do presidente da CCJ, Demóstenes Torres, que dê apenas duas horas para Jucá examinar o projeto, na hipótese do pedido de vista, quando a praxe indica uma semana.
Sua metralhadora comporta outros alvos, como o próprio presidente do Senado, José Sarney, e os líderes dos diversos partidos, porque conforme o senador gaúcho, todos se comprometem com a aprovação imediata, mas muitos têm feito a ressalva de “eu farei tudo o que estiver ao meu alcance, mas se não der, paciência…”
Não haverá paciência para Simon, que pretende a CCJ com quorum qualificado, votando o projeto antes das seis horas da tarde. O plenário pode ser convocado logo a seguir para a aprovação e, antes das 22 horas da quarta-feira, o texto chegaria ao palácio do Planalto, para sanção do presidente da República. No caso, José Alencar, dada a viagem do Lula ao exterior.
No entender do senador, o projeto não é o melhor, modificado que foi pela Câmara, mas constitui um ponto de partida para permitir sua aplicação nas eleições de outubro. Quem tiver ficha-suja, ou seja, condenado por tribunais, teria negado o registro pela Justiça Eleitoral. Qualquer emenda interposta pelo Senado determinaria seu reenvio aos deputados e a perda de prazo para validade este ano, precisamente o que parece pretenderem Romero Jucá, outros senadores e, quem sabe, o governo. Daí, vale repetir, sua disposição de virar a mesa…
Equação invertida
Virou praxe, no Congresso, registrar o Senado aprovando determinados projetos avançados, de interesse nacional, mas a Câmara, em seguida, engavetando as propostas. Isso aconteceu com a reforma política, o fim do fator previdenciário, o reajuste dos aposentados e outras iniciativas. Muita gente até concluía tratar-se de um jogo de cartas marcadas. Os senadores votariam na certeza de que os deputados fariam a sua parte, rejeitando mudanças contrárias aos interesses da classe política ou do governo.
Desta vez, inverteu-se a equação. Mesmo com defeitos, a Câmara aprovou o projeto da ficha-limpa. Se o Senado engavetar, ou empurrar com a barriga, deixando a matéria para as eleições de 2012 em diante, estarão expostas as entranhas de um jogo sujo destinado a desmoralizar um pouco mais a prática política. Justifica-se a exortação mais ouvida nos últimos dias, de que para honra do Senado, a proposta tem que ser votada.
Guerra de números
Pela mais recente pesquisa do instituto Vox Populi, divulgada no fim de semana, Dilma Rousseff ultrapassou José Serra. A candidata disporia de 38% das preferências populares, enquanto o ex-governador, 35%. Para o Ibope, tinha sido o contrário. Resta aguardar a Datafolha, para o desempate.
Claro que há euforia no PT, assim como certa cautela no ninho dos tucanos, mas, com todo o respeito, a hora não parece de certezas. Várias etapas precisarão ser vencidas, a maior das quais quando se iniciarem os debates entre os já então formalmente indicados e começar o horário de propaganda eleitoral gratuita. As eleições de governador influirão decisivamente na votação presidencial, assim como a presença ostensiva do presidente Lula na campanha.
De qualquer forma, importa registrar: pela primeira vez, Dilma está na frente, até mesmo nas simulações para o segundo turno.
Os verdadeiros interessados
Nenhuma opinião ouviu-se ainda dos candidatos presidenciais a respeito de um dos maiores escândalos da atualidade, o controle dos fundos de pensão das estatais pelos governos, quaisquer que sejam. Cada novo inquilino do palácio do Planalto, desde o tempo dos generais-presidentes, controla os bilhões decorrentes dos descontos dos funcionários das empresas públicas para suas aposentadorias. Todos fazem questão de nomear os administradores dos fundos, destinando as aplicações de tamanhos recursos para projetos de interesse de suas administrações, uns justos e necessários, outros nem tanto. Foi assim, por exemplo, nas privatizações promovidas por Fernando Henrique Cardoso, como vem sendo nos oito anos do Lula, em investimentos variados. Não seria o caso de promover uma consulta aos verdadeiros interessados, os funcionários do Banco do Brasil, da Petrobrás, da Caixa Econômica, dos Correios e outros, para saber como querem ver aplicadas suas poupanças?
Fonte: Tribunadaimprensa