Dora Kramer
Do hospital onde estava internado em São Paulo, o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra, falou na semana passada com Aécio Neves por telefone na Europa. Terminou a conversa otimista com a possibilidade de o ex-governador de Minas Gerais aceitar ser candidato a vice na chapa presidencial com José Serra. Transmitiu essa impressão à cúpula do partido, que aguarda em silêncio, admite a torcida e, para além desse limite, não se permite avançar.
As chances aumentaram, mas não há nada decidido, inclusive porque o ex-governador de Minas Gerais voltou ao Brasil neste fim de semana e só retomará a agenda de trabalho nos próximos dias. O primeiro tema da pauta é a eleição estadual mineira.
Com um olho na situação regional e outro no cenário nacional, Aécio deve resolver se reconsidera ou não a decisão de concorrer a uma vaga no Senado para integrar a chapa presidencial como vice de José Serra. É provável que ainda nesta semana se reúna com Serra, Fernando Henrique Cardoso, Sérgio Guerra e Tasso Jereissati, para discutir o assunto.
O assunto que estava aparentemente fora de cogitação voltou a circular a partir de onde menos se esperava: Minas Gerais, pois os correligionários de Aécio sempre impuseram as maiores resistências à composição da chamada chapa puro-sangue.
Pelo menos com o nome do ex-governador como candidato a vice. Consideravam essa hipótese uma ofensa ao estado, um papel subalterno, uma demonstração de arrogância dos paulistas que queriam pôr Minas “a reboque” na eleição.
Pois enquanto os paulistas cumpriam à risca a quarentena de silêncio imposta por Aécio, eis que de Minas começaram a surgir movimentos na direção oposta à posição anterior. Do bastidor saíram à cena aberta quando o secretário-geral do PSDB mineiro, Lafayette de Andrada, disse na quinta-feira que existe “um grande desejo da militância do partido e dos mineiros de um modo geral de que Aécio aceite ser vice na chapa de José Serra.
O que teria operado tão radical mudança? É o que se perguntam também até outro dia os acusados que solapar a altivez dos mineiros. Primeiro: traduzem o que vai à mente de Aécio? Mesmo de longe, dificilmente seus correligionários diriam algo que contrariasse suas posições.
Segundo: qual o ganho objetivo de deixar o plano do Senado para abraçar o projeto da vice? Hipóteses aventadas. Uma: como a prioridade de Aécio é manutenção do poder político em Minas, seus aliados teriam ficados preocupados com o destino da candidatura de Antonio Anastásia, vice de Aécio, hoje no exercício do cargo. Ele aparece na pesquisa Vox Populi com 17% contra 45% para Hélio Costa do PMDB. A presença de Aécio numa chapa presidencial, estariam raciocinando, teria mais poder de “puxar” o candidato a governador que uma candidatura ao Senado. Despertaria o sentimento de “Minas lá” no Planalto.
Outra: candidato ao Senado, Aécio terá necessariamente de descartar um aliado, Itamar Franco, já que são duas vagas em disputa, ele se elegeria certamente e a segunda provavelmente ficaria para o campo adversário: PT ou PMDB.
Mais uma: candidato a vice, Aécio ajuda a oposição a não deixar “escapar” de maneira danosa os votos de Minas para Dilma Rousseff o que, se acontecer, também resultará em prejuízos para ele. Locais e nacionais.
E se perder como vice? Terá apostado alto, podendo manter o governo estadual. Se José Serra perder a presidência e Aécio for para o Senado e o PT ou o PMDB ficarem com o governo de Minas, será senador de minoria e terá perdido o controle político do estado.
E qual o efeito sobre o eleitorado da chapa puro-sangue? Aécio Neves costuma dizer que impacto político é coisa efêmera. Mas os tucanos não desprezam a eficácia do instrumento. Acham que aliado ao desempenho da dupla, à complementação de atributos de personalidade, à liderança política que exercem nos dois maiores colégios eleitorais do país não garante a vitória, mas é boa parte do caminho andado.
Ainda assim, em se tratando de mineiros, ninguém ainda sabe direito qual é o rumo certo.
Fonte: Gazeta do Povo