Leandro Colon
Um seleto grupo de servidores do Senado, incluindo um diretor, consumiu um ano dos últimos cinco viajando pelo Brasil à custa de dinheiro público. É a turma da comissão especial responsável pela participação da Casa em feiras de livros. Os critérios para a nomeação dos seus integrantes são obscuros. Os escolhidos, divulgados anualmente, costumam ser os mesmos. O coordenador também: Júlio Werner Pedrosa, diretor da poderosa gráfica, setor onde o ex-diretor-geral Agaciel Maia começou a trabalhar e montou seu grupo político. A soma das diárias recebidas do Senado revela que Pedrosa passou pelo menos um ano em viagem pelo país desde 2004, assim como outros colegas da gráfica que participam da comissão. A conta bancária deles também engordou: R$ 2 mil de bônus mensais.
Essa comissão ganhou o apelido de "farra do livro" dentro do Senado. A nova, mas velha comissão, foi nomeada na última terça-feira pelo 1º secretário, Heráclito Fortes (DEM-PI). A pedido do Estado de Minas, o site Contas Abertas fez um levantamento no Sistema de Administração Financeira Federal (Siafi) sobre as despesas com esses servidores nesse tipo de evento nos últimos cinco anos. Os números impressionam. Pelo menos R$ 550 mil foram gastos em diárias, sem falar nas passagens aéreas pagas pelo Senado cujos valores não são revelados. No mesmo período, cerca de 2 mil diárias, entre R$ 200 e R$ 300 cada uma, foram pagas à comissão especial do livro.
Em 2006, por exemplo, Júlio Pedrosa recebeu 105 diárias, o que representa mais de três meses fora de Brasília. O valor repassado a ele para as despesas somou R$ 22 mil. No ano passado, o Senado pagou 48 diárias para o servidor comparecer, entre abril e novembro, a Porto Alegre, Ceará, São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Ele só perdeu para outros dois colegas: Anand Rao Adusumulli e José Carlos Britto Gomes, ambos com 82 dias, ou dois meses e 20 dias viajando. Os três, que estão na média de um ano de viagem em cinco de trabalho, fazem parte da comissão de seis servidores que vão cuidar da presença do Senado nas bienais em 2009. Os outros são Arnóbio Santos Neto, Joaquim Campelo Marques e Jacqueline Aguileras Maffias. Todos veteranos em viajar pelo país com diárias pagas pelo Senado.
Bandeira política Nas feiras, a Casa legislativa monta estandes luxuosas para vender e lançar os livros produzidos pela gráfica do Senado. Em 2008, R$ 400 mil foram gastos para a estrutura de eventos desse porte. A participação nessas exposições era uma das bandeiras de Agaciel Maia, exonerado do cargo em março após a suspeita de ocultar uma mansão de R$ 5 milhões. Até o ano passado, ele escolhia os locais onde o Senado iria se apresentar. Em outubro do ano passado, por exemplo, a Casa lançou na feira de livros de São Luís, capital do estado do presidente José Sarney (PMDB-AP), a obra Os papagaios amarelos, sobre a chegada dos franceses à ilha. Na época, Agaciel exaltou a participação do Senado no evento. "Cumprimos nosso dever de sempre estar próximo à população", disse. No período em que ele esteve no poder, a comissão de servidores percorreu ainda Natal, capital do estado do ex-diretor, e a Paraíba, estado do ex-1º secretário Efraim Morais (DEM-PB).
A reportagem procurou os servidores citados por meio da Secretaria de Comunicação Social do Senado. Por escrito, o Estado de Minas perguntou quais os critérios adotados para a escolha dos integrantes dessa polêmica comissão, como é feita a distribuição das diárias e a escolha das cidades escolhidas. Mas nenhum retorno foi dado até o fechamento desta edição. Por telefone, o servidor e integrante da comissão Anand Rao afirmou que caberia a Júlio Pedrosa dar explicações. O diretor da gráfica tem se recusado a dar entrevistas.
Fonte: Estado de Minas (MG)
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