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segunda-feira, março 30, 2009

Por dentro e por fora

Editorial
O detalhamento da operação policial que desvendou o mais recente escândalo envolvendo ligações espúrias entre setor privado e área política deixa evidente que o rechaço popular a envolvidos em episódios como o do mensalão não foi suficiente para decretar o fim de práticas inaceitáveis. Entre essas, está a do caixa 2, que tanto dirigentes da empresa acusada de envolvimento, a Camargo Corrêa, quanto da área política se apressaram em negar. A velha prática, porém, aparece sugerida sob diferentes formas, inaceitáveis para cidadãos habituados a lidar com dinheiro por meio de operações bancárias convencionais, pagando taxas e impostos sobre elas. É o que sugerem movimentações elevadas em dinheiro vivo, inimagináveis no cotidiano da imensa maioria dos brasileiros, além de conversas cifradas entre os suspeitos de envolvimento e citações a pagamentos por dentro e por fora como as captadas por escutas pela Polícia Federal.
O país ainda não se livrou do trauma provocado por uma série de denúncias de uso irregular de dinheiro para financiar partidos e campanhas políticas de seus integrantes, a maioria dos que foram citados sequer acertou as contas com a Justiça e o que num determinado momento parecia se transformar no marco do fim de um ciclo ficou apenas na intenção. Velhos e novos nomes estão entre os atuais suspeitos de envolvimento, num episódio no qual contribuições declaradas e as feitas por baixo do pano parecem envolver indistintamente diferentes partidos, passando uma ideia de generalização e até mesmo de normalidade, que não tem como ser aceita pela sociedade. Somada aos desmandos registrados na administração do próprio Congresso, é previsível que essa mais recente denúncia de corrupção irá contribuir para desgastar ainda mais os políticos e a política.
Cada vez que surge uma ponta dessa imensa teia envolvendo dinheiro de segmentos da iniciativa privada de interessados em bancar políticos para obter favores do governo ou de desvio de verba pública para o bolso de inescrupulosos, quem perde é o contribuinte. Invariavelmente, o interesse por trás de contribuições ilegais para partidos políticos está ligado a favores oficiais, licitações fraudulentas e obras superfaturadas, o que em geral resulta em tanto dinheiro, que pelo menos parte acaba indo parar no Exterior. Em consequência, ampliam-se a rede de irregularidades e o número de crimes, incluindo desde evasão de divisas até lavagem de dinheiro e formação de quadrilha, o que compromete a própria democracia.
Se os problemas e as explicações são sempre os mesmos e a perspectiva de punição de desvios na política é limitada, parece óbvio que a capacidade de o país extirpar esse tipo de prática vai depender basicamente da pressão permanente da sociedade. Qualquer solução definitiva exigirá uma reforma política. Mas, antes disso, será preciso assegurar que os políticos, em sua imensa maioria, se comprometam em rechaçar qualquer perspectiva de jeitinho ou de pagamento por fora nas relações com seus financiadores de campanha.
PRESSÃO
Se os problemas e as explicações são sempre os mesmos e a perspectiva de punição de desvios na política é limitada, parece óbvio que a capacidade de o país extirpar esse tipo de prática vai depender basicamente da pressão permanente da sociedade.
Fonte: Zero Hora (RS)

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