Por: Carlos Chagas
BRASÍLIA - Por enquanto, batem cabeça, apresentando números muitas vezes conflitantes. Dizem tratar-se de questões de metodologia, mas tremem de medo quando acusados de estar privilegiando candidatos ligados a partidos ou empresas que encomendam e pagam as consultas eleitorais.
Com as exceções de sempre, falamos dos institutos de pesquisa, já preparados para, na noite de domingo, justificar o descompasso entre suas previsões e a vontade do eleitorado, que acusarão de volúvel e leviano, tendo mudado de opinião à última hora.
Tiveram vergonha, em meio a presente campanha. Abandonaram o expediente de anunciar margens de erro de quatro pontos, "para cima ou para baixo". Assim, errariam menos, mas foi tamanho o ridículo que cortaram o número pela metade. De algumas semanas para cá a margem de erro é de dois pontos...
Pesquisas não ganham eleição, virou mote popular, mesmo se reconhecendo que apontam tendências, quando feitas com honestidade. Existem institutos sérios, é claro, em especial aqueles que não fazem da coleta de opiniões uma atividade comercial.
Convenhamos, no entanto, que boa parte deles manipula dados conforme a conveniência do freguês. De dois em dois anos, dedicam-se às eleições. Chocam todo mundo quando tiram determinado candidato da primeira metade de um dígito e o colocam com mais de 50% da votação. Depois precisarão recuar, mas já influenciaram muita gente.
Não raro os institutos promovem consultas sobre a performance de governos e governantes. E sobre produtos variados. Quem paga sempre receberá a contrapartida de perguntas formuladas com extrema habilidade e malícia para as respostas não desapontarem. A mesma coisa acontece quando investigam audiências televisivas. Imagine-se se vão desagradar os poderosos...
Como são espertos, às vésperas dos pronunciamentos populares, como agora, para o freguês voltar nas próximas eleições precisam acomodar os percentuais. Buscam evitar erros flagrantes. Como fica difícil, porém, vale repetir a explicação já preparada: o eleitor é leviano e volúvel...
Eterno candidato a tudo
Melhor oportunidade não há, quando a Constituição faz vinte anos, para relatar um episódio daqueles idos, perfeitamente aplicável à atualidade. Eleito por aclamação como presidente da Assembléia Nacional Constituinte, o dr. Ulysses Guimarães defrontou-se com sua primeira missão: escolher o relator-geral, a segunda pessoa mais importante em todo o processo.
Não se passaram cinco minutos e logo apresentou-se o eterno candidato a tudo, que mesmo sem ser jurista ou constitucionalista, sequer advogado, pleiteava a espinhosa tarefa.
Quem? Ora, ele mesmo, Fernando Henrique Cardoso. Constrangido raramente o dr. Ulysses ficava, mas daquela vez ficou. Como explicar ao companheiro da bancada paulista faltarem a um sociólogo condições mínimas para funcionar como relator da Constituinte? FHC insistiu e questão foi colocada a voto. Felizmente, venceu Bernardo Cabral, que preenchia os requisitos necessários, além de ter sido presidente da Ordem dos Advogados do Brasil.
Por que se conta essa história?
Porque o ex-presidente da República não se emenda. Mete o nariz em tudo. Esta semana, arvorou-se em pacificador dos tucanos e adjacentes. Anunciou haver obtido do PSDB e do DEM, ou melhor, de Gilberto Kassab e de Geraldo Alckmin, acordo no sentido de que o derrotado apoiaria o vencedor que passasse para o segundo turno e fosse enfrentar Marta Suplicy.
Falta de tato, é evidente, porque os dois candidatos engalfinham-se como nunca, agridem-se e não admitem composições, pelo menos antes de domingo. Acresce que Fernando Henrique é filiado ao PSDB, partido que lançou Geraldo Alckmin como candidato. Sua função seria respaldar ao máximo o correligionário, que assim como o atual prefeito, repudiou solenemente o acordo não encomendado. Repete-se o passado de vinte anos...
Os três mosqueteiros eram quatro
Imaginou-se, primeiro, tratar-se de uma reunião dos presidentes dos países da América do Sul, um repeteco do Unasul que custa a decolar. Não era. Não estavam convidados os governantes maiores da Argentina, Uruguai, Chile, Paraguai e outros países. Circulou depois que se reuniriam os presidentes da Bacia Amazônica. Também não deu afinal o rio Negro, antes rio Içana, nasce na Colômbia e Álvaro Uribe não estava convocado. Nem os presidentes do Suriname e da Guiana.
Como então explicar a reunião, em Manaus, de Hugo Chávez, da Venezuela, Rafael Correa, do Equador, e Evo Morales, da Bolívia, recepcionados pelo presidente Lula?
Objetivos, o encontro teve, mas explicação cerimonial, nenhuma. Serviu para os presidentes da Bolívia e do Equador baixarem a bola e, sob os auspícios do presidente da Venezuela, garantirem ao presidente do Brasil que deixarão de fazer-nos de alvo para a solução de seus problemas internos.
Pelo jeito o Lula falou grosso com os hermanos, ainda que para efeito externo tudo fossem sorrisos e apertos de mão. Os três mosqueteiros, afinal, eram quatro, e o nosso D'Artagnan mostrou-se o melhor espadachim.
Lamentos reservados
Tem gente, no palácio do Planalto e até na equipe econômica, lamentando que o governo Lula não tenha alterado ao menos um aspecto da política neoliberal do antecessor. Trata-se do tempo de permanência do capital especulativo estrangeiro, o capital-motel que chega de tarde, passa a noite e vai embora de manhã, depois de haver estuprado um pouquinho mais nossa economia. Porque desde o período de Fernando Henrique Cardoso no governo que não há tempo. Inexiste sequer o prazo mínimo para os dólares e euros ficarem aqui. Pode ser até cinco minutos, desde que remunerados com os maiores juros do planeta.
Bem que o Lula foi alertado, em sua campanha de 2002, para anunciar que iamos seguir o exemplo do Chile, onde o capital estrangeiro, para entrar, obriga-se a não sair antes de dois anos.
O resultado aí está: a crise americana funciona como um aspirador de pó. O que já saiu de dólares no mês de setembro é uma fábula. Para enfrentar dificuldades de caixa em seus bancos, os investidores estrangeiros retiram suas aplicações, e mais continuarão retirando.
Prejuízo para quem? Se ainda os megaespeculadores nacionais admitissem repatriar os bilhões que mantêm lá fora, ainda seria uma compensação. O problema é que carecemos de mecanismos para levá-los a tanto. Melhor dizendo, o único instrumento de que dispomos é a Polícia Federal, hoje meio na encolha...
Fonte: Tribuna da Imprensa
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