Por: Carlos Chagas
BRASÍLIA - Nem Gabeira, nem Eduardo Paes. Muito menos Kassab e Marta. Quintão e Márcio Lacerda, também. O mesmo para Maria do Rosário e José Fogaça. Inclua-se no rol os demais candidatos a prefeito das capitais onde se realizará o segundo turno e se terá uma coincidência no mínimo singular: nenhum deles prometeu que, eleito, cumprirá o mandato até o fim. Traduzindo: são todos aspirantes às eleições de governador dos respectivos estados, em 2010.
Parece significativa a onda de renovação nascida das eleições municipais. Primeiro porque, salvo exceções, os favoritos quebraram ou estão quebrando a cara. Não ousaram, em suas campanhas, perdendo espaço para aqueles que, mesmo sem ousar, surgem diferentes. Com as exceções de sempre, vale repetir. Funciona, também, o desgaste dos governadores atuais, precisamente por não terem inovado.
A pergunta que se faz é se as eleições gerais marcadas para daqui a dois anos ficarão fora dessa tendência. Pode ser que não. O eleitorado adora surpreender, esmerando-se em dar sustos na ortodoxia, qualquer que ela seja.
Todo esse preâmbulo se faz em função das eleições presidenciais. Muita água passará debaixo da ponte, mas alguém garante que a disputa pelo palácio do Planalto se limitará a Dilma Rousseff, de um lado, e José Serra, de outro? Mesmo incluindo-se na relação Aécio Neves e Ciro Gomes, quem garante que outro nome ainda hoje desconhecido não será capaz de atropelar? De quando em quando a sociedade reage diante daqueles que se imaginavam donos de sua opinião. Poderemos estar nas preliminares desse fenômeno. Principalmente se os candidatos clássicos mantiverem suas propostas rotineiras, já conhecidas.
Um pretendente à presidência da República que defender a pena de morte para crimes hediondos, por exemplo, deixará de sensibilizar os eleitores? Se avançar mais no reino do inusitado, prometendo enquadrar o Legislativo e o Judiciário, não despertará entusiasmo? Caso se comprometa com a obrigatoriedade de permanecerem presos os criminosos do colarinho branco, os especuladores e os malandros com bilhões aplicados fora do território brasileiro, sem direito a habeas-corpus, conquistará quantos milhões de votos?
O que dizer do candidato disposto a enfrentar a ferro e fogo o narcotráfico e o contrabando, tratando bandidos como devem ser tratados? Ou aquele que se dispuser a acabar com a farra dos bancos, anunciando a estatização dos que vivem das benesses dos cofres públicos? Algum com coragem de anunciar que não permitirá mais a humilhação do Brasil por parte de vizinhos ensandecidos?
Nas prateleiras da indignação do cidadão comum existem mil outros produtos prontos para ser oferecidos. É bom prestar atenção, apesar dos excessos que despertará esse tipo de ajuste de contas entre o eleitor e os candidatos.
Reuniões conflitantes
Segunda-feira o presidente Lula pretende reunir representantes dos países da América do Sul para examinar a crise financeira que atinge o mundo inteiro. Nada de medidas uniformes por parte dos bancos centrais, mas algum acerto de iniciativas capazes de evitar cabeças batendo sem necessidade.
Já para novembro, anuncia-se que o presidente George W. Bush convocará presidentes e primeiros-ministros não só dos países ricos, mas com direito à presença de governantes de países emergentes. O Lula já está convidado, tudo indicando poder falar em nome do subcontinente.
O diabo é que as duas reuniões serão conflitantes. Os ricos querem e até já começaram a mandar para os emergentes e os pobres a conta da lambança que fizeram. Outra coisa não exprime essa inusitada alta do dólar, para a qual tecnocratas e economistas amestrados dispõem de montes de explicações esotéricas. Só não explicam de onde sai parte das centenas de bilhões de dólares injetados nas economias dos países ricos. Porque saem dos pobres e dos emergentes.
Negociar sempre será positivo, quanto mais reuniões aconteçam, melhor. Até para abrigar o direito de estrilar, de nossa parte. O problema está em muitos de nossos representantes, engajados na estratégia e nos interesses dos poderosos lambões...
Estava escrito há milênios
Alertados pelo vexame do primeiro turno, os institutos de pesquisa até que não subordinaram completamente seus resultados a seus interesses, mas, mesmo assim, de hoje até domingo será tempo de ajustar os números. Não querem enfrentar outra vez o descrédito de suas previsões.
Aplicarão, no entanto, o mesmo raciocínio canhestro de que o eleitor mudou o voto, à última hora, ou de que o percentual de indecisos era muito grande. Mentira. Nas capitais onde se realizarão eleições para o segundo turno, mais de 90% dos eleitores já sabem em quem votar. Os resultados a ser divulgados na noite do dia 26 estavam escritos há milênios.
Reforma ampla ou limitada?
A partir dos resultados finais das eleições, voltará a ser cogitada no Palácio do Planalto a inevitabilidade de uma reforma do ministério. Só não se sabe se será ampla, como parecia programado, ou restrito, diante da crise financeira mundial. É possível que alguns ministros tenham sido salvos pelo gongo, mas em função da nova balança de poder, estará o presidente Lula diante da necessidade de promover retificações.
Especular é sempre perigoso, mas corre em Brasília a suposição de que, para não ser punido pelos erros da companheira Marta, seu candidato a vice-prefeito, Aldo Rabello, poderá ocupar o Ministério da Defesa. Nesse caso Nelson Jobim, do vitorioso PMDB, iria para o Ministério da Justiça no lugar de Tarso Genro, do derrotado PT. É bom parar por aqui para não incorrermos em erro ou, no reverso da medalha, para não intranqüilizarmos ninguém.
Até porque, entrará na equação um fator ainda indefinido, no caso, as eleições para as presidências do Congresso. Se mantida a aliança PMDB-PT, com um presidente do PMDB na Câmara e outro do PT, no Senado, é provável que os peemedebistas conquistem mais espaço. Insistindo nas duas presidências, porém, o PMDB poderá colher desagradáveis surpresas. Convém aguardar.
Fonte: Tribuna da Imprensa
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