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quinta-feira, setembro 11, 2008

O momento mágico e suas conseqüências

Por: Carlos Chagas
BRASÍLIA - Declarou o presidente Lula ao "Clarin" de Buenos Aires que vai eleger o sucessor, provavelmente uma sucessora. No caso, Dilma Rousseff. Não há como duvidar da sinceridade do chefe do governo, mas seu otimismo tem limites. Até agora, sem dúvida por influência do palácio do Planalto, os institutos de pesquisa suspenderam as tomadas de opinião a respeito da sucessão de 2010.
Apesar de constituir-se numa questão até superior às eleições para as prefeituras das capitais, em outubro, a disputa pela presidência da República limita-se às exortações sobre a popularidade do Lula e a um volumoso noticiário conclusivo, de que ele elegerá quem quiser. Pode não ser bem assim. Tanto faz, porque o ano em curso não terminará antes que diversas pesquisas venham a público, já então assentadas nos resultados do pleito municipal. Nessa hora começaremos, a saber, se a popularidade presidencial poderá transferir-se para quem for pleitear o seu próprio lugar.
Completam-se dois anos desde que, nestas linhas, alertamos para o fato de que na ausência de um candidato ou de uma candidata capazes de sensibilizar o eleitorado, o presidente Lula sofrerá monumental campanha para aceitar o terceiro mandato. É claro que ele nega a hipótese, e estará, outra vez, sendo sincero. Não quer continuar tanto pelo desgaste natural de oito anos de exercício do poder quanto por suas convicções democráticas.
Mas... Mas ao redor dele se agitarão, se é que já não estão agitadas, forças tão empedernidas quanto violentas, dispostas a não entregar o poder de forma alguma. No plano partidário, capitaneadas pelo PT, com o PMDB servindo de base de sustentação, mais os penduricalhos.
Por que cederiam espaço aos adversários quando comodamente usufruem benefícios, nomeações e vantagens de toda espécie?
Raciocinam cartesianamente, em função da popularidade do Lula e da satisfação que seu governo provoca tanto nas massas quanto nas elites. Se candidatos a sucessor ou sucessora não demarrarem haverá tempo para que ele mesmo possa dar continuidade ao momento mágico vivido pelo País.
Há quem suponha a realização de um plebiscito, consulta que atropelaria quaisquer sentimentos de respeito à Constituição. Ou a Constituição não pode e não foi mudada ao longo dos anos, inclusive para proporcionar ao sociólogo antecessor o segundo mandato, quando havia sido eleito apenas para um? Quebrada a lei maior uma vez, por que não outra, se for para objetivos iguais?
É assim que pensam, ainda que poucos falem, por enquanto. Obscurecem o princípio democrático da rotatividade, do respeito às normas básicas do regime, mas, como é para permanecerem no poder, ainda mais atendendo ao sentimento majoritário da população, nem dor de consciência sentirão. Resta saber quanto o presidente Lula resistirá, ainda que deva falar mais alto a natureza das coisas. Ou ele também não apregoa a necessidade da continuação de suas realizações? Não é o artífice do momento mágico?
Azeitona na empada do vizinho
Nem todos os aposentados conformam-se em ser postos em sossego. O embaixador Guy Brandão, depois de décadas no serviço diplomático, ocupando as mais altas funções, rejeitou o ócio e resolveu colocar sua experiência a serviço do país. Acaba de preparar detalhado programa capaz de corrigir uma de nossas maiores deficiências, a divulgação externa.
Para ele, quando um empreendimento cresce, maior é a atenção que seus dirigentes dão às incontornáveis necessidades de projetar e consolidar sua imagem. Essa percepção é freqüente na iniciativa privada, mas não encontra correspondência em nossos governos. Fica-se pasmo ao ver o volume de trabalho que inúmeros países empreendem para criar, manter e consolidar a respectiva imagem. Milhões de dólares anuais são empregados para levar adiante essas atividades básicas. E sem nenhuma interrupção, ao longo de décadas, pois o interesse internacional dos estados é permanente e crescente.
"Certas ações e divulgação externa podem ser efetuadas sem custo, sabendo-se utilizar de forma apropriada a respectiva rede de embaixadas e consulados e até de missões junto a organismos internacionais. (...) A imagem internacional de um país é o somatório de tudo quanto é difundido sobre sua realidade. Não havendo irradiação sistemática, ininterrupta e constantemente atualizada, deixa-se a outros a responsabilidade de formar a opinião pública mundial e setorial estrangeira.
Na defesa de que interesses o espaço vazio é preenchido por outro país? Vem a propósito o ditado popular de que ninguém põe azeitona na empada do vizinho, ainda mais quando se trata do Brasil, país emergente, cuja importância internacional é crescente e cuja musculatura está abrindo cunhas em esferas até então detidas por outros."
Divulgação externa, diz o embaixador, nada tem a ver com publicidade, muito menos com propaganda. Representa grave erro de divulgação esconder realidades problemáticas. O que não chega aos olhos e ouvidos de um estrangeiro permanece totalmente desconhecidos, mas em prejuízo de quem?
"No cada vez mais disputado" mundo do comércio internacional a fama de um país, a qualidade de seus produtos e serviços, a diversidade de suas linhas de produção e a cotação de sua capacidade técnica, tecnológica, científica, operacional, financeira e de comercialização - não são apenas resultado de informações esparsas ou de publicidade comercial específica, mas da soma de ações permanentes de divulgação.
Depois de considerações sobre as falhas básicas do Brasil, no setor, Guy Brandão conclui:
"No seu atual valor e ainda mais no de amanhã, o peso específico do Brasil está a requerer do governo a implementação inquestionável de um programa de divulgação externa. Com tal objetivo dispõe ele de dois órgãos em que se alicerça a operacionalidade desse tipo de atividade governamental:
1. A Secretaria de Comunicação Social vinculada à presidência da República, dotada de imprescindível capacidade e hierarquia operacionais para colher nos níveis federal, estadual e municipal, bem como nas entidades privadas, com toda eficácia e celeridade, os dados públicos que constituirão matéria prima do trabalho incumbido por sua razão de ser.
2. O Ministério de Relações Exteriores, executor e principal assessor do presidente da República no que tange a todos os aspectos da política exterior do Brasil, da qual não podem deixar de fazer parte seus interesses de divulgação externa."
O embaixador é um dos dois únicos diplomatas brasileiros com treinamento em divulgação externa, feito na República Federal da Alemanha.
Fonte: Tribuna da Imprensa

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