por: Carlos Chagas
BRASÍLIA - Certas coisas, só no Brasil. Como dizia mestre Gilberto Freire, neste país das impossibilidades possíveis, o carnaval ainda acabaria caindo na Sexta-Feira Santa. Será possível a existência de órgãos de informação, segurança, inteligência, espionagem ou que outro nome se lhes dê, proibidos de vigiarem prováveis, possíveis ou hipotéticos inimigos?
Faz parte do jogo acompanhar as atividades dos adversários. Em muitos casos, trata-se de questão de sobrevivência das nações a que servem. Como ficaria a CIA, o FBI, o MI-6, o KGB, o Mossad e penduricalhos, se impedidos de colher informações, mesmo censurando telefones e sucedâneos? Autorizados pela Justiça, sem dúvida. Quando imprescindível, por certo. Essas e outras instituições não raro praticam horrores, quebram a privacidade de quem não deveriam, para dizer o mínimo. Que sejam policiadas, mas extintas, como sobreviveriam os respectivos países.
É claro que horrores acontecem, por conta dessas necessidades. Nem precisamos lembrar os tempos do monstro que o general Golbery do Couto e Silva confessou haver criado o SNI. E os antigos serviços dos ministérios militares. Apesar dos exageros, o princípio é válido: quem detém maior número de informações ganha a guerra.
Impedir a Abin de promover escutas telefônicas representa asneira tão grande quanto tentar dirigir um carro sem gasolina no tanque. É claro que devem ser não apenas proibidos, mas punidos, quaisquer excessos praticados à sombra dessa necessidade. Repousa aqui a diferença entre democracias e ditaduras, coisa que o PT acabará aprendendo.
A Abin nasceu em berço nada esplêndido, podre, como sucessora do famigerado SNI. Ninguém discutiu, no entanto, a necessidade de sua existência, organismo imprescindível para o presidente da República saber o que se passa nos obscuros porões e até nos horizontes ensolarados do País. Se o chefe do governo não lê os relatórios, o problema é dele. Ignora-se, como de Direito, investigações e métodos da Abin, porque se tornados públicos revelariam aos inimigos estratégias de defesa da soberania, do território, da economia, da ciência e demais valores essenciais à nossa sobrevivência como nação.
Por conta do passado abominável que vivemos certos ingênuos alguns tolos e muitos malandros tentam neutralizar a Abin. Fica evidente que se alguns de seus integrantes extrapolam, servem a interesses escusos e tentam reviver o passado, só merecem o repúdio nacional. E a cadeia. Mas algemar a instituição sob o pretexto de defender a democracia, mais do que ignorância, é burrice. Ou má-fé.
A estrela sobe
A ida do presidente Lula a Belo Horizonte, na noite de quarta-feira, teve como pretexto a entrega de uns tantos carrinhos movidos à eletricidade, para os garis limparem as ruas.
Na verdade, muito mais importante foi à conversa entre o presidente e Aécio Neves, no Aerolula, na viagem da capital federal à capital mineira, já que o governador foi obrigado a vir a Brasília para pouco depois seguir de volta a Belo Horizonte, na imperial companhia. O Lula ficou feliz com o mais recente pronunciamento do Aecinho, que reconheceu a evidência do lançamento de um candidato, ou candidata, saído do PT, para disputar a presidência da República em 2010.
Seja Dilma Rousseff, seja outro, se a chefe da Casa Civil não emplacar, o raciocínio do governador mineiro é de que PSDB e PT têm tudo para se aliar, em futuro não tão remoto assim. Qualquer que venha a ser o futuro presidente, alguém do PT ou alguém do PSDB, os dois partidos dispõem de todas as condições para superar as divergências atuais e partir para a elaboração de um modelo comum para governar o País. Porque, segundo Aécio Neves, as identidades doutrinárias entre tucanos e petistas suplantam quaisquer divergências pessoais.
Até agora a gente não sabe se o governador mineiro disputará ou não a convenção partidária, contra José Serra. Outras alternativas existem como a dele, Aécio, ser o vice-presidente na chapa do governador de São Paulo, ou eixar o PSDB, candidatando-se pelo PMDB. De qualquer forma, a tese é de busca da unidade, coisa que hoje parece quase impossível, mas, amanhã, ninguém garante...
Mudou a agenda
Caso o presidente George W. Bush venha mesmo ao Brasil, antes de deixar a Casa Branca, precisarão os cerimoniais de lá e de cá mudar a agenda das conversas. Porque até pouco o chefe do governo americano parecia inclinado a vir para reforçar a campanha dos combustíveis alternativos ao petróleo, etanol na frente. Possivelmente visitaria uma das regiões onde mais se planta cana e até receberia uma cantada do Lula para ir trocando o álcool de milho, que os Estados Unidos produzem, pelo sucedâneo cultivado aqui.
Agora, já se imagina que Bush será convidado a um sobrevôo no mar alto, olhando lá de cima a imensa riqueza que o Brasil pretende aproveitar. O risco é de o presidente Lula, no helicóptero junto com o ilustre passageiro americano, ser convidado a olhar pela janelinha e identificar, ao longe, navios da Quarta Frota da Marinha dos Estados Unidos.
A volta do bom filho
Faltou às autoridades pernambucanas sensibilidade para, ontem e anteontem, em Petrolina e Recife, durante a visita do presidente Lula, identificarem com mais entusiasmo a origem do visitante. Afinal, o chefe do governo nasceu em Garanhuns, Pernambuco, estado que nunca lhe faltou eleitoralmente.
Na ânsia de aproveitarem a presença no estado do presidente mais popular das últimas décadas, os aliados lá de cima empenharam-se muito mais em tirar dele dividendos para as eleições de outubro. Mil fotografias foram tiradas, consentidas ou eventuais, que a massa de candidatos a vereador e a prefeito aproveitará já na próxima semana, no horário de propaganda gratuita.
Em vez de perguntarem a Lula o que Pernambuco pode fazer por ele, concentraram-se em inverter a indagação, ou seja, o que ele pode fazer por Pernambuco. Terá o presidente saído meio desapontado de suas origens?
Fonte: Tribuna da Imprensa
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