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segunda-feira, setembro 08, 2008

Festa no morro

Por: Carlos Chagas

BRASÍLIA - Quem é viciado em telejornais ou, por obrigação, precisa assistir à maioria deles, espantou-se semana passada com a apresentação de imagens tão belas quanto macabras. As televisões mostraram, num dos morros do Rio, espetáculo de queima de fogos de artifício que nada ficou a dever àqueles encenados em Pequim, dias atrás. É verdade que junto com a feérica apresentação podiam ser vistas balas traçantes cruzando as telinhas em todas as direções, ou seja, mais uma guerra de quadrilhas de narcotraficantes sendo transmitida ao vivo.
Alguns diletantes buscaram saber o por que da comemoração, mesclada ao tiroteio. Enquanto as respostas não chegam, vicejam as especulações. A mais viável delas dá conta de que o crime organizado festejava a crise dos grampos telefônicos.
Porque os bandidos são os maiores beneficiados se, em nome dos direitos humanos, a Abin, a Polícia Federal, as polícias civis e penduricalhos ficam impedidos de investigar práticas ilegais e até ameaças à segurança nacional. Na prática e na teoria essas entidades estão proibidas de grampear os telefones de suspeitos, mesmo com autorização judicial. Em tempos bicudos como os atuais não haverá agentes, inspetor ou delegado com coragem de solicitar a permissão. Serão confundidos com os arapongas do passado, execrados e denunciados como salvados da ditadura.
Sob fogo batido do Congresso, do governo e do Judiciário, encontram-se algemadas as instituições encarregadas de zelar pela lei, a ordem e a própria soberania do país. É proibido ou, pelo menos, muito arriscado, iniciar qualquer ação investigatória.
Excessos praticados pelos órgãos de informação não podem justificar proibições e, em especial, essa ridícula devassa nos equipamentos. Parece incrível que qualquer maleta do tipo "007" deva ser tida como suspeita de invadir as prerrogativas do cidadão comum. Deputados, senadores e juízes querem saber quanto custou, quem comprou e quem vendeu a parafernália, para acusações e até punições que seriam cômicas se não fossem trágicas. Por isso os criminosos soltam foguetes.
"Na minha sala mando eu"
Em recente entrevista a um grupo de jornalistas, como não havia fotógrafos em seu gabinete, o presidente Lula permitiu-se fumar, no caso, cigarrilhas daquelas escuras, cultivadas por ele há décadas, poluindo os pulmões um pouco mais do que cigarros comuns.
Num de seus momentos de descontração, diante da indagação de um repórter sobre se não estava transgredindo lei por ele mesmo sancionada, de proibição de fumar em locais fechados, Lula desabafou: "Na minha sala, mando eu".
Não se passaram quinze minutos para o episódio tornar-se conhecido e logo, mesmo sem coragem de desagradar abertamente o chefe maior, desabaram sobre Brasília censuras de toda espécie. Moralistas juntaram-se a médicos, ONGs mesclaram-se a oposicionistas, todos lamentando e, mais do que isso, exigindo do presidente da República uma retratação.
O fumo faz mal? Faz. O fumo mata? Mata. Mas é preciso enfrentar a situação: se querem acabar com cigarros e cigarrilhas, que tenham a coragem de propor o fechamento das fábricas e a extinção da cultura da planta. Nessa hora, arrepiam-se todos, como coelhinhos. Porque as fábricas contribuem com percentuais de impostos superiores até aqueles recolhidos pela indústria automobilística. Nessa hora, que o tabagismo continue, apregoam os tecnocratas. Além do que, centenas de milhares de agricultores do Sul do país perderiam sua fonte de renda, porque o Brasil é o segundo maior produtor de fumo do planeta.
Impotentes, esses fariseus insistem em perseguir os fumantes. Criam os maiores constrangimentos para quantos foram induzidos a fumar e quantos continuarão sendo, transformados em réprobos pela falta de coragem de a sociedade e o governo olharem a questão de frente. Houve exagero no passado, basta rever filmes antigos onde Humphey Bogart, Ingrid Bergman e quantos outros apareciam em todas as cenas com um cigarro na mão.
É claro que não se deve fumar, muito menos nos elevadores. Nos aviões deixou de existir um espaço aberto pela moderna tecnologia para, lá atrás, os fumantes não incomodarem nem ser incomodados.
O que não dá para aceitar é a discriminação hoje atingindo de mentirinha a sociedade inteira. Nos bares, nos restaurantes, nas áreas de lazer, por que punir aqueles que sempre foram vítimas, transmudando-os em leprosos? Alguns netos do Torquemada já preparam leis proibindo que se fume no próprio carro, no quarto e até nos jardins. Comer feito porcos, pode. Beber como bodes, também, ainda que o excesso de comida e de bebida mate tanto quanto o fumo.
O presidente Lula teve um gesto de resistência em defesa da minoria à qual pertence. Está sendo condenado por sua coragem. Mas se, de repente, anunciasse enviar ao Congresso projeto de lei acabando com a indústria do fumo, como seria recebido?
Aliás, a esse respeito, é bom tomar cuidado. Porque se depender de José Serra, sua primeira proposta como presidente será um decreto mais ou menos nesses termos: "Fumar está proibido em todo o território nacional". E os impostos?
Um dia infeliz
Talvez fosse o sol do sertão, onde desembarcou de terno escuro e gravata. Em Petrolina o presidente Lula exagerou, semana passada. Começou repetindo o discutível diagnóstico de que "o Brasil vive um momento mágico". Mágico para quem, cara pálida? Claro que para os beneficiados pelo bolsa-família, os banqueiros e os metalúrgicos. Como o País é um pouco maior, seria bom consultar a classe média, que vê os preços e os impostos aumentarem com os salários permanecendo os mesmos.
Mas teve mais. Para o presidente, "governar é ver as coisas acontecerem". Sem se ouviu dizer que governar é fazer as coisas acontecerem. É de justiça reconhecer que o atual governo faz muita coisa acontecer, ainda que deixe outro tanto acontecendo sem se importar.
Depois, deixando a modéstia de lado, o Lula acentuou que foi um grande dirigente sindical, "o melhor deste País". Há quem discorde, porque o sindicalismo por ele desenvolvido beneficiou os metalúrgicos de São Paulo, sem fazer caso dos operários de regiões menos desenvolvidas.
Uma briga desnecessária
Não se emenda o ministro Nelson Jobim, da Defesa. Entrou na crise dos grampos telefônicos sem necessidade, tendo em vista que tanto a Abin quanto a Polícia Federal subordinam-se a outros ministérios. Desmentiu de público o general Jorge Felix, do Gabinete de Segurança Institucional, e atropelou instituições que, por haverem praticado excessos, nem por isso devem ser descartadas.
No âmbito das atribuições do Ministério da Defesa incluem-se os serviços de inteligência do Exército, Marinha e Aeronáutica. Como a Abin nasceu do SNI, também vieram de origens espúrias, como o antigo Ciex, o Cenimar e o Cisa. Mas encontram-se, hoje, nos estritos limites de suas atuações necessárias. Dispõem de complicada parafernália eletrônica, para o cumprimento de suas missões. Até de maletas "007". Melhor faria o ministro se saísse do centro das discussões.
Fonte: Tribuna da Imprensa

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