BRASÍLIA - A oposição não conseguiu provar que o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e só uma peça de propaganda e a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, desinflou e tirou da cena política o dossiê das contas do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Dilma nem precisou da blindagem que a bancada governista montou para protegê-la dos possíveis ataques da oposição durante seu depoimento de ontem em audiência na Comissão de Infra-Estrutura do Senado.
A oposição também não conseguiu explorar as versões contraditórias do Planalto sobre o dossiê, ouviu sem réplicas contundentes as explicações sobre o PAC e uma pergunta do senador Agripino Maia (DEM-RN), logo no início da sessão, facilitou tudo para a ministra. Agripino levantou a suspeita de que Dilma mentira, sob tortura, durante o regime militar, e poderia, por isso, estar mentindo sobre o dossiê.
O senador provocou reações entre governistas e oposicionistas e até fora do Congresso. A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) acusou Agripino de fazer uma "insinuação infeliz". Em nota oficial, o presidente da Ordem, Cezar Britto, disse: "Na ditadura, a mentira era um direito de resistência inerente a todo cidadão, que não pode ser obrigado a se auto-acusar, ainda mais quando ameaçado de tortura ou de morte."
No Planalto, com duas horas de depoimento, os assessores mais próximos do presidente já avaliavam que Dilma ganhara "o primeiro round". "Ela saiu dessa sessão maior do que entrou", afirmou o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR). Ao final, ele foi ainda mais enfático: "A oposição sai daqui com uma dor de cabeça: um candidato governista a mais para 2010."
"Batendo nela, a oposição fez a ministra passar de 2% para 8% nas pesquisas para presidente. Depois dessa sessão, deve ter pulado para uns 12%. Já deve ter passado o Aécio Neves", ironizou o senador Renato Casagrande (PSB-ES), vice-líder do bloco de oposição.
Até então, Dilma vinha resistindo a comparecer ao Congresso para explicar a montagem do dossiê por conta do desgaste que o assunto produzia na sua imagem pública. Principal pré-candidata do governo à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma sabia que uma exposição excessiva às críticas da oposição poderia ter forças até para tirar seu nome da corrida sucessória.
O bom desempenho na audiência, entretanto, fortalece a ministra, como avaliam abertamente seus aliados. "Ela acertou em tudo. Até na cor", comentou a líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC), ao chamar a atenção para o terninho verde que a ministra escolheu para usar em seu depoimento à Comissão de Infra-Estrutura do Senado.
Dilma chegou pontualmente às 10h ao gabinete do presidente do Senado, Garibaldi Alves (PMDB-RN), e teve de esperar pelo anfitrião, que chegou logo em seguida e fez questão de acompanhá-la até a sala da comissão.
Ao longo da caminhada de cerca de 80 metros, Dilma seguiu cercada por seguranças, líderes governistas e de partidos aliados e petistas de vários Estados. Mas, para espanto geral, sem atropelos. Sorridente, ela comentou que a cena da qual fazia parte mais parecia uma "cerimônia de casamento". Logo atrás, o líder do governo na Câmara, Henrique Fontana (PT-RS), apostava que a ministra daria "um show", em seu depoimento aos senadores.
Dentro do plenário da comissão, Dilma também teve platéia vip. Garibaldi Alves fez questão de ficar sentado ao seu lado durante toda a primeira parte da sessão. Mais tarde, para não interromper seu depoimento, adiou a realização da ordem do dia do Senado para a manhã seguinte. Acompanhando a fala da ministra, estavam aliados como Renan Calheiros (PMDB-AL) e Roseana Sarney (PMDB-MA).
O senador Wellington Salgado (PMDB-MG) foi até mais além na demonstração de seu apreço pela ministra. Quis homenageá-la, como "mãe do PAC", dizendo que era pelo Dia das Mães, no próximo domingo, e entregou um presente fechado numa caixinha através da senadora Ideli. A oposição implicou com o mimo, dizendo que o Código de Ética dos servidores proíbe o recebimento de presentes de valor superior a R$ 100.
Wellington pediu, então, a caixa de volta e não entregou o presente, um pingente de ouro com o formato do Brasil. Mas, naquela altura, depois da "ajuda" dada pela oposição, Dilma já nem precisava de mais nenhum agrado para deixar o Senado satisfeita.
Fonte: Tribuna da Imprensa
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