Por: Carlos Chagas
BRASÍLIA - Está por horas a apresentação de projeto de lei, pelos líderes da base parlamentar oficial, fazendo ressurgir o imposto do cheque e das operações financeiras. Um dos primeiros signatários será o líder do governo no Senado, Romero Jucá. Não deixa de ser estranho, trata-se do mesmo parlamentar que, logo depois da derrota da CPMF antiga, no Senado, declarou alto e bom som que até o final do período do presidente Lula nenhum novo imposto seria criado no Brasil.
Nessa história de horror, vale referir a postura do Palácio do Planalto. Esta semana o presidente queixou-se da falta de dinheiro para a saúde pública. Disse que os senadores deveriam carregar o peso de haver retirado 40 bilhões anuais dos cofres públicos ao negar a prorrogação da CPMF, em dezembro. Um dia depois, mandou avisar que o governo não patrocinaria a apresentação do novo imposto. Se os líderes quisessem, a iniciativa e a responsabilidade seria deles...
Só que os lideres estarão logo apresentando a nova proposta por inspiração de quem? Por ordem de quem?
Para as coisas ficarem pior, apesar de a alíquota dessa apropriação indébita vir a ser menor do que a antiga, vale informar que continuarão isentos do imposto do cheque todos os investimentos estrangeiros. Quer dizer, o Zé da Silva que retira seu salário mínimo do banco estará contribuindo com quatro reais para o governo, mas o especulador-motel, que traz milhões de dólares de tarde, passa a noite e retira-se pela manhã, sairá com juros de mais de seis por cento sobre o capital, mas não contribuirá para melhorar a saúde pública brasileira.
O presidente Lula lava as mãos, em público, ainda que em particular possa atuar para convencer deputados e senadores a endossarem o projeto.
Que venham os caiapós
Apenas amanhã a CPI dos Cartões Corporativos decidirá se deve ou não acarear os dois funcionários envolvidos no vazamento do dossiê elaborado sobre os gastos pessoais do governo Fernando Henrique. Tudo indica que não haverá acareação, já que na noite de quarta-feira passada as bancadas do governo se retiraram do plenário para não dar número e empurrar a decisão com a barriga.
Tanto faz se José Aparecido Pires e André Fernandes serão postos frente a frente, pois mentiram e continuarão a mentir, sem que nada possa ser feito. O ex-controlador das despesas da Casa Civil voltará a repetir ter sido o dossiê preparado por um auxiliar dele, e que transmitiu "sem querer" o texto para computador do amigo.
Já o assessor do senador Álvaro Dias, do PSDB, repetirá ter ouvido de Aparecido que a inspiração para o vazamento do dossiê partiu da chefe de gabinete da chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff.
Parece coisa de comadres. Melhor dizendo, uma farsa, ou melhor, um espetáculo de circo, com a diferença de que os palhaços não se encontram no centro do picadeiro, porque os palhaços somos nós. Às bancadas do governo interessa sepultar o assunto, em especial porque Aparecido declarou, na CPI, que nem Dilma nem sua chefe de gabinete sabiam de nada. Só restará à maioria governista pedir o encerramento dos trabalhos e vangloriar-se de haver poupado a possível candidata à sucessão de 2010.
Esta semana, em Altamira, no Pará, um grupo de índios caiapós deu uma surra e ainda esfaqueou um engenheiro da Eletrobrás, Paulo Fernando Rodrigues, que pouco antes havia defendido a implantação da usina hidrelétrica Belo Monte, na região. O funcionário falou o que eles não queriam ouvir e a reação não se fez esperar.
Já imaginaram se os caiapós vierem para Brasília assistir à sessão da CPI? Vai ser o diabo...
Fonte: Tribuna da Imprensa
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