Por: Carlos Chagas
BRASÍLIA - Dilma Rouseff deporá esta semana na Comissão de Infra-Estrutura do Senado, mas não será indagada apenas a respeito das obras do PAC. Senadores de oposição preparam perguntas relativas à elaboração do dossiê dos gastos da família Cardoso com cartões corporativos. Está disposta a não fugir de qualquer questão, ainda que só deva responder o que quiser, e como quiser. Será o óbvio, a deduzir.
Não se imaginam grosserias, muito menos desrespeito por parte dos inquiridores, sequer que a direção da Comissão abra brechas na rotina dos trabalhos. Sendo assim, depende exclusivamente da chefe da Casa Civil recuperar a imagem esmaecida por sua mais recente entrevista coletiva, há dez dias, quando se complicou em explicações turvas que pouco explicaram.
Engana-se, ao menos por enquanto, quem supõe o presidente Lula abandonando mais um salva-vidas capaz de impedi-lo de levar a democracia para as profundezas. Traduzindo: depois do naufrágio das candidaturas de José Dirceu e Antônio Palocci, a estratégia do chefe do governo é de não deixar naufragar a hipótese de Dilma surgir como candidata do PT à sucessão de 2010.
Registre-se até que nas mais recentes pesquisas sigilosas pipocando por aí a dama de ferro começou a emergir. A exposição explícita a que se submeteu depois do aparecimento do dossiê pode não ter satisfeito a mídia nem o Congresso, mas serviu para apresentá-la ao povão, sempre mais atento à forma do que ao fundo.
Estarão definidas as preliminares da longínqua equação sucessória? Nem pensar. As surpresas e agruras de cada dia costuma modificar sólidas previsões, quanto mais simples raciocínios descompromissados. Continua no páreo todo o tipo de opções, do aparecimento de outro companheiro ou companheira capaz de disparar na reta final, como Patrus Ananias, Tarso Genro ou Marta Suplicy, assim como não se afasta a atropelada por fora de puro-sangue tipo Aécio Neves ou Ciro Gomes.
Jamais se eliminará, também, a possibilidade de interdição da pista, porque o terceiro mandato acaba de receber o reforço de um dos mais importantes empresários de São Paulo, Lawrence Pih, que nem representante é do setor financeiro-especulativo, aquele que permanece à sombra, preparadíssimo para surgir no momento certo. Porque de uma realidade não se duvida: sabem os banqueiros e acólitos que viverão muito melhores dias com mais quatro ou cinco anos de Lula no palácio do Planalto do que com José Serra subindo a rampa.
Aliás, se uma comparação puder ser feita entre os dois, partindo-se do passado, ficará claro que Serra, então acusado de comunista, presidiu a União Nacional dos Estudantes, discursou no comício do dia 13 de março de 1964 e teve sua cabeça a prêmio, precisando exilar-se no Chile.
Já o Lula nasceu do sindicalismo de resultados, jamais contestou o capital ou pregou a socialização dos meios de produção e teve uma ajudazinha do general Golbery do Couto e Silva para criar o PT. Talvez por tudo isso as massas o prefiram, em vez de Serra. Qualquer dia desses aparecerá um sociólogo para interpretar o processo social de cabeça para baixo.
Como o assunto começou com Dilma Rousseff, vale a repetição, para concluir: o presidente Lula, por enquanto, acredita poder elegê-la...
Distorções
Continua o MST saindo dos trilhos e adotando posturas que nada têm a ver com seu objetivo maior, de promover a reforma agrária e ver assentados milhões de sem-terra hoje expostos à pobreza e até à miséria. Organizar-se para forçar o governo a desapropriar terras e liberar aquelas sob posse é mais do que um direito. Trata-se de um dever. Daí se diz que nas últimas décadas o MST tornou-se o único fenômeno político de vulto e de importância acontecido no País.
Até mesmo as invasões de propriedades produtivas podem explicar-se, tendo em vista a utilização fajuta da terra pelos que pretendem tirar dela apenas o lucro, através da especulação.
O que não dá para entender, no entanto, é a ação do MST transcendendo de suas finalidades e enveredando por descaminhos perigosos, ainda que aparentemente justificáveis. Tome-se a interrupção das linhas férreas da Vale do Rio Doce. A empresa pertencia ao patrimônio público, foi alienada e doada a preço de banana podre por um governo de traição nacional, de Fernando Henrique Cardoso. Mas, por conta disso, paralisar suas atividades tem alguma coisa a ver com reforma agrária? Da mesma forma ocupar postos de pedágio em rodovias do Sul. Ou invadir prédios públicos urbanos, sem deixar de fora o próprio Congresso.
Dirão alguns ingênuos que essas iniciativas servem para chamar sobre o MST o foco das atenções nacionais, mas seguindo esse raciocínio, daqui a pouco os sem-terra ocuparão o Maracanã ou o Morumbi, impedindo a realização de partidas de futebol para chamar a atenção nacional. E qual o resultado, senão levar a opinião pública a posicionar-se contra o movimento? Se pretendem transformar-se em partido político, que o façam às claras, arcando com os ônus da atividade. João Pedro Stédile para presidente da República?
Ele tem direito, como qualquer cidadão, mas é preciso assumir, mais atuar por via transversa. Não demora muito e a população, que um dia aplaudiu o MST, voltar-se-á contra os sem-terra, determinando a delícia dos latifundiários.
Ação coordenada
Indaga-se o que poderão fazer as nações em desenvolvimento e os indivíduos, diante do aquecimento global e dos irreparáveis danos ao meio ambiente causados pelo desenfreado crescimento das atividades industriais dos países ricos. Isoladamente, nada, porque se os Estados Unidos recusam-se a assinar o protocolo de Kioto, e se a China insiste em queimar carvão deforma indiscriminada, nem que quiséssemos poderíamos levá-los a repensar a estratégia do lucro a qualquer preço. Como bombardear Nova York ou arrasar Pequim está fora de propósitos e até de possibilidades, qual a saída?
Seria, para alguns cronistas da catástrofe anunciada e próxima, a união dos que mais têm a perder com o aquecimento global. Tem saída, quer dizer, é possível evitar o colapso permanente dos países onde a miséria, a fome e a doença já chegaram ao limite do suportável. Tome-se a América do Sul, agora às voltas com a criação de uma entidade capaz de defender nossos interesses comuns. Viabilizada a aliança, em quinze minutos ela poderia ampliar-se até a América Central e o México, ou seja, levando os latino-americanos a uma ação conjunta.
Qual? A de mostrar à superpotência lá de cima que ela também terá a perder, e mais do que nós, caso permaneça irredutível na egoística busca pelo lucro à custa da saúde de toda a Humanidade. O muro que os americanos constroem para isolar-se da latinidade poderá prestar-se ao oposto, em sentido figurado. A taxação extra dos produtos que vêm de lá, mais o aumento coordenado do preço dos produtos que vão para lá serviriam de alerta.
Utopia? Sonhos de noite de verão em pleno outono no Hemisfério Sul? Pode ser que não. Ou alguém dispõe de outra solução?
Fonte: Tribuna da Imprensa
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