Por: Helio Fernandes
O PSDB mais interessado na CPMF do que o próprio Lula
Na quinta-feira, às 3 horas da tarde, Romero Jucá, desolado, desalentado e desanimado, dizia a Agripino Maia, líder do DEM, que Lula só chama de PFL: "Não podemos votar a CPMF hoje". Surpreendido, Agripino Maia perguntou: "Isso é oficial?" E Jucá, sem ânimo e sem saída, respondeu: "Por enquanto não, mas falo com você dentro de pouco tempo".
Na sexta-feira, revelei: telefonando para 3 senadores, queria saber o clima, me informaram dos gabinetes, "o senador viajou para seu estado". Conhecendo muito bem os três, sabendo que votariam contra ou a favor, mas votariam, concluí que não haveria votação.
Romero Jucá, ainda na quinta, disse a um grande amigo deste repórter: "No momento estamos com 44 votos, talvez 45, não dá para votar". Quase no mesmo instante, Roseana Sarney, depois de conversar demoradamente com o pai, confessava: "Podemos chegar a 46 votos, no momento é o máximo que conseguimos".
Às 6 horas em ponto, sob protestos (e até revolta) gerais, o líder do governo, Romero Jucá, comunicava: "Não votaremos a CPMF hoje, assumo o compromisso de votar na terça-feira". Confusão geral. Agripino foi para a tribuna, sabia que não havia nada a fazer, perguntou o óbvio: "A base não vota hoje por que sabe que não tem os 49 votos?" Ninguém respondeu.
Às 7 da noite de sexta ficava tudo acertado, o que fazer? A votação seria adiada para terça (amanhã) com uma "ordem do dia exclusiva", começando às 9 da manhã. Alguns senadores, zombeteiramente, perguntavam: "Onde o PT-PT iria buscar os votos que faltam". Não há dúvida que foi uma saída. Na quinta perdia, amanhã ainda há esperança.
E essa esperança vem do inimigo mais do que adversário PSDB, que saiu da convenção estraçalhado. Jereissati queria ser reeleito presidente, teve o veto de FHC, que disse: "Reeleição é prova de fraqueza". Jereissati queria então a liderança do partido, FHC fechou a questão pela reeleição de Artur Virgilio.
Jereissati considerou que a impossibilidade dele ser reeleito e a reeleição de Artur Virgilio, hostilidade a ele. Virgilio foi criticadíssimo até por gente do PT-PT, como o senador Suplicy: "Meus parabéns, mas o senhor prejudicou a renovação". Não haveria renovação alguma com Jereissati pulando da presidência para a liderança.
A grande batalha, e que pode resolver a votação, se trava dentro do PSDB. Se o partido FECHAR A QUESTÃO contra a CPMF, dificilmente alguém mudará. Mas se o PSDB considerar que a QUESTÃO É ABERTA, então o Planalto-Alvorada consegue os 49 votos, talvez até mais.
Podendo escolher 3 senadores, votarão pela prorrogação da CPMF: Lucia Vania (Goiás), Cicero Lucena (Paraíba) e Eduardo Azeredo (Minas Gerais). Como disse no título desta matéria, alguns governadores do PSDB "querem a CPMF para eles".
Jornalões e colunistões arriscaram: "Se perder, o governo imediatamente entra com outro projeto". É possível, é possível, mas se for aprovado, só em julho. Duas votações na Câmara, duas no Senado, na Comissão de Constituição e Justiça e mais duas em cada casa, no plenário.
PS - Falei em julho porque sou otimista. O que o Planalto-Alvorada pede a Deus: que o PSDB ABRA A QUESTÃO. Serra e Aécio fazem força.
Francisco Dornelles
5 vezes deputado, 3 vezes ministro, cheio de cursos e conhecimento, votará pela CPMF, mas "cheio de restrições".
O PSDB não pode esquecer de maneira alguma de lances estranhos, esdrúxulos e estravagantes da sua própria história. São dois fatos, para lembrar ainda hoje, em duas oportunidades.
Essa CPMF foi criada por FHC e portanto pelo PSDB. Hoje, quando estiver decidindo se fecha a questão CONTRA a CPMF, não se esqueça: essa CPMF vem da ética, da estética e da genética da própria legenda. Será um momento difícil, como mostrei acima.
Se a cúpula fechar a questão será obedecida? E o que é que se pode chamar de CÚPULA, nesse PSDB que saiu destroçado e desmemoriado dessa convenção que CONDENOU a reeleição e EXALTOU a reeleição?
O novo presidente do PSDB (seu novo Tolstoi, Sergio Guerra e Paz) será obedecido? Ou corre o risco de sofrer aparte contestatório de Jereissati, Artur Virgilio, Álvaro Dias e mais e mais? O ego de FHC "egolatrizou" a legenda.
De qualquer maneira, hoje e amanhã serão os últimos dias de Pompéia para o PSDB. Tudo o que acontecer nas próximas 48 horas estará bem próximo de 2010, de Serra e Aécio. E de Lula.
De Francisco Dornelles, elucidativo e explicativo: "A CPMF tem o encanto da facilidade da cobrança. Mas é uma incidência retrógrada, regressiva e cumulativa, que incide sobre o consumo".
E conclui: "A CPMF incide sobre exportações, estimula a desintermediação bancária e alcança as pessoas de baixa renda".
O ex-ministro 3 vezes diz que é favorável à CPMF, "pela urgência", mas que ela tem "muitas disfunções".
A reunião de hoje do PSDB para o FECHAMENTO ou não da questão da CPMF será tumultuadíssima. Terá mais seguranças do que parlamentares. Para cada convencional, contrataram dois "pardais".
O senador Mao Santa é o grande inovador do Senado. Em matéria de discursos, pela palavra, as citações e a gesticulação.
E pela referência ao nome de vários senadores. Todos se dirigiam ao presidente, o ex-governador do Piauí cita "fulano e beltrano", diretamente.
De todos os 81 senadores, muitos poderiam ser candidatos a presidente. Como o cargo pertence ao PMDB, que tem 20 senadores, 18 poderiam disputar, com chance ou sem ela. Renan e Leomar Quintanilha, os únicos no partido majoritário, afastados de tudo.
Ninguém tinha dúvidas a respeito do comportamento e a reação de Chávez diante do resultado do REFERENDO. A palavra que usou, MERDA, é o que sente pelo povo. Dos dois lados.
E não ficou nisso: vai fazer depuração entre os companheiros, dezenas serão afastados. Explicação do próprio Chávez, logicamente não publicada: "A abstenção de chavistas nos derrotou".
Garibaldi presidente do Senado? É de morrer de rir ou de tristeza. Numa bancada de 20, apareceria em 17º pela competência, representatividade e credibilidade. Se for eleito, Renan deixará saudades.
Renan está sendo aconselhado a pedir licença do mandato, por 120 dias. Estava licenciado da presidência, seria ótimo (para ele) só voltar depois de fevereiro. Vão cumprimentá-lo, esquecidos de tudo.
Luiz Estevão está em plena campanha para voltar ao Senado em 2010. Tem muito dinheiro, nenhum constrangimento, costuma dizer com segurança e sem arrogância: "São duas vagas, uma tem dono". Tem?
Orestes Quercia faz uma força terrível para ressuscitar. Riquíssimo, dono de vastas terras que ligam SP a Minas, não pode ficar longe da política. Mas como voltar ao Poder?
Quem quiser praticar ato de generosidade e doar órgãos que podem salvar vidas deve inscrever a decisão na Carteira de Identidade. O único que não precisa é FHC. Ninguém DOOU tantos órgãos quanto ele.
Hoje bem cedo, assim que abrisse a sessão do Senado, Roseana Sarney e Romero Jucá, em nome do Planalto-Alvorada, poderiam fazer a seguinte declaração: "A partir da prorrogação da CPMF, estrangeiros passariam a pagar Imposto de Renda e CPMF". Ganhariam na certa.
Renan não comparecerá amanhã. É um voto certo que o Planalto perde.
Fartei de dizer aqui, seguida e repetidamente: o Planalto-Alvorada só colocará a CPMF em votação quando tiver certeza de que já tem os 49 votos necessários ou indispensáveis. Marcou para quinta.
Às duas da tarde da mesma quinta, telefonei para 3 senadores, pedindo informações, "eles viajaram" para seus estados. Como são cumpridores dos deveres e compromissos, concluí: "Não haverá votação".
Debates e mais debates, discussões e mais discussões, o presidente interino rindo muito. Às 7 da noite, Romero Jucá anunciava que não haveria votação, ficava para terça, i-m-p-r-o-r-r-o-g-á-v-e-l.
Aparentemente a oposição se "fechara" nos 36 votos. Confirmados, o Planalto-Alvorada ficaria no máximo com 45. Ganhariam?
Só que a votação não poderá passar de terça-feira (amanhã). Perdão, poderá não haver votação, se a "base" se retirar e não der número. Mas aí, o fiasco será completo, tudo desmoronando. O que fazer?
XXX
Romeiro Neto, criminalista, contador de histórias, ganhador de julgamentos considerados impossíveis, é agora lembrado pelo filho. E o fez da melhor maneira: num livro simples mas elucidativo. Poderia publicar 10 livros com cada um dos 10 Romeiros que conheci. Antes da amaldiçoada mudança da capital, almoçávamos muito na Minhota. (Por onde passaram grandes figuras, incluindo Osvaldo Aranha, que deixou um filé delicioso com seu nome).
Ele ia para o tribunal, eu para a Câmara dos Deputados, saíamos a pé pela Rua São José para os nossos destinos diários e apaixonados.
Romeiro criminalista e homem do júri era um. O Romeiro desligado de tudo, conversador infatigável, outro completamente diferente. Naquela época, que maravilha viver. E um prefácio de Carlos Lacerda, que no 1º ano de Direito se refugiava em Vassouras para não ser perseguido pela polícia. Obrigado aos dois Romeiros.
Fonte: Tribuna da Imprensa
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