sábado, dezembro 20, 2025

Quando o Andar de Baixo Sempre Paga a Conta

Por José Montalvão


Vivemos em um país onde, infelizmente, a lógica da injustiça parece seguir um roteiro previsível: quem está no topo erra, abusa ou desrespeita a lei, mas quem paga a conta é sempre o andar de baixo da pirâmide social. O peso do desgoverno, da má-fé e da impunidade nunca recai sobre os verdadeiros responsáveis — recai sobre o cidadão comum, especialmente aquele que acreditou nas regras do jogo.

Um exemplo claro e revoltante dessa realidade foi o concurso público realizado pela gestão do ex-prefeito. Um certame que, desde sua origem, levantou fortes suspeitas de irregularidades e suposta fraude. Candidatos que estudaram, se prepararam e confiaram na lisura do processo acabaram sendo prejudicados e, diante da ausência de respostas administrativas, não tiveram outra alternativa senão recorrer ao Judiciário.

O problema é que, como quase sempre acontece, o tempo passou. E passou muito. Processos se arrastam, decisões não chegam, e a sensação de injustiça só aumenta. Enquanto isso, os prejudicados seguem com suas vidas suspensas, carregando frustração, prejuízos emocionais e financeiros, esperando por uma solução que nunca vem. A Justiça tarda — e quando tarda demais, deixa de ser justiça.

Do outro lado, os responsáveis pelo suposto esquema seguem “numa boa”. Sem constrangimento público, sem responsabilização efetiva, sem qualquer sinal de que o sistema funcione de forma igual para todos. A mensagem que fica é perigosa: vale a pena errar, fraudar ou abusar do poder, porque as consequências, se vierem, demoram tanto que acabam diluídas no tempo.

Esse tipo de situação corrói a confiança da população nas instituições, desestimula o mérito e fortalece a cultura da impunidade. O concurso público, que deveria ser símbolo de igualdade de oportunidades e justiça social, acaba se transformando em mais um instrumento de exclusão e descrédito.

Enquanto isso, o cidadão honesto — aquele que acredita na lei, no esforço e no direito — segue sendo o elo mais fraco da corrente. No Brasil de hoje, infelizmente, não é quem erra que paga a conta. É sempre o andar de baixo da pirâmide.

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