terça-feira, agosto 26, 2025

Emana de Brasília uma imensa indiferença para com o resto do país


Na horizontal, medindo 13,9 cm x 9,1 cm, a imagem, em preto, aguado cinza, sobre fundo branco, apresenta no centro, há duas figuras humanas esquemáticas, de traços simples, corpo alongado e braços compridos. Cada uma está posicionada de um lado diferente de uma parede vertical escura. Ambas se curvam para frente, introduzindo a cabeça através de uma abertura na parede, de modo que parecem atravessá-la e se encontram no meio. Ao fundo, há outras superfícies retangulares escuras, paralelas entre si, sugerindo mais paredes ou divisórias.

Ilustração de Ricardo Cammarotta (Folha)

Luiz Felipe Pondé
Folha

Há um vírus no ar acometendo nossa liderança: o vírus da delinquência. O país vive em estado constante de medição do tamanho do pau por parte de muitos dos mandatários em exercício nos Três Poderes da República. Isso é mau sinal.

A gangue bolsonarista —batedores de carteira— continua atuando de forma a buscar uma perversão institucional do país. Uma tragédia porque transforma qualquer crítica à gangue petista — profissionais do ramo— numa suspeita de cumplicidade com o desprezo pela ordem constitucional do Brasil.

LULA PERDIDO – Sabe-se que o Lula 3 está perdido. Suportar o novo riquismo em casa é uma empreitada que esgota qualquer um. O Executivo Federal se afoga na incapacidade de governar. A geopolítica brasileira tornou-se ridícula. Alunos do centro acadêmico das ciências sociais talvez sejam mais maduros do que quem toca a diplomacia brasileira, brincando de medir o pau com o “big brother”.

O legislativo, casa de arruaceiros. A imagem que se tem deles, ou, pelo menos parte deles —escapando aqui de generalizações grosseiras— é de que sempre o que vem em primeiro lugar são suas “emendas” que garantem seus currais eleitorais.

Mesmo no debate sobre o papel de exercer freios e contrapesos ao STF, o Senado vai da pura arruaça à irresponsabilidade total de deixar um poder tão poderoso quanto o STF sem qualquer checagem dos limites da sua atuação e impacto na sociedade. Enfim, todo mundo tem rabo preso.

CONTAMINADOS – A entrada de elementos do STF no grupo de contaminados pela delinquência é muito grave. E, neste caso específico, se vê como a delinquência generalizada tomou conta do país, ameaçando mesmo a segurança financeira dos cidadãos, quando um juiz do STF destrói a confiança nos bancos para defender um colega.

Bolsonaristas torcem por uma invasão americana. Não estão nem aí para o fato que essa torcida reforça a ideia de que Bolsonaro sempre teve a intenção de furar o bloqueio constitucional do país. Quanto mais forçam a barra, mais entregam o Brasil e seu indefeso povo nas mãos de juízes do STF que marcham com fervor em direção aos excessos no exercício do seu já enorme poder.

O ministro Alexandre de Moraes já manda e desmanda no país. Estamos à mercê dos seus humores. Agora, o ministro Flávio Dino, num espasmo provinciano, entra em campo devastando a segurança das pessoas que buscam garantir sua vida financeira.

IMENSA INDIFERENÇA – Alguém acha que despachos nacionais têm mais força do que o “big brother”? Que tal se os americanos derrubarem toda a rede?

O que isso tudo revela é a imensa indiferença para com o país que emana de Brasília em relação ao país. O STF hoje manda e desmanda no país e não está nem aí para o que pode acontecer com os brasileiros.

Tomam decisões de costas para o país real e voltados para seus magistrais umbigos. Adquiriram os maus hábitos de quem faz política no Brasil. Uma classe, quase na sua totalidade, indiferente aos destinos do país.

TRAIÇÃO INTELECTUAL – Uma tragédia particular é o fato que não podemos contar com os profissionais que supostamente deveriam nos ajudar a refletir sobre essa catástrofe institucional que se abate sobre nós.

Vivemos a nossa experiência histórica particular de traição dos intelectuais, como dizia o filósofo judeu francês Julien Benda (1867-1956).

Benda diagnosticou a traição dos intelectuais na sua obra “A Traição dos Intelectuais” de 1927, como sendo o equívoco daqueles profissionais das letras e do pensamento que se convertiam ao nacionalismo, ao fascismo e ao comunismo de então, abandonando a tentativa de compreender o mundo e a sociedade para além das suas crenças ideológicas.

DIANTE DE NÓS – Essa traição acontece hoje no Brasil diante dos nossos olhos. A classe que trabalha com o pensamento público atua de forma apaixonada por um dos lados da delinquência nacional.

Ou babam de paixão pelo “time bolsonarista” ou pelo “time PT-STF”.

Esta é a forma específica de manifestação da doença nacional —a irresponsabilidade generalizada— que assola aqueles que deveriam assumir a liderança da tentativa de encontrar uma saída para o impasse em que nos encontramos.

CAPACIDADE DE AVALIAÇÃO – Quando o intelecto se submete a crenças, perde sua capacidade de avaliação da realidade.

A sociedade crê que enquanto sua maioria labuta com a matéria no seu dia a dia, uma pequena minoria labuta com o espírito para que não sejamos uma espécie ainda mais cega do que já somos.

As instituições não andam bem. Situações como essas geram crise de representatividade e o homem hobbesiano, sempre à espreita porque ele é nossa mais íntima alma política, ameaça desperta do sono dogmático da fé pública.


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