Publicado em 22 de abril de 2023 por Tribuna da Internet
Luã Marinatto
O Globo
A demissão do general Gonçalves Dias do comando do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), que entregou o cargo após vir à tona um vídeo em que ele circula pelo Palácio do Planalto em meio aos ataques golpistas de 8 de janeiro, não deu fim às dúvidas que pairam sobre o caso. Parte dos esclarecimentos podem vir no depoimento do militar à Polícia Federal (PF), determinado pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Veja, abaixo, algumas das perguntas ainda sem resposta a respeito do episódio.
1 – A PF TINHA CONHECIMENTO DAS IMAGENS?
Na decisão em que ordenou o depoimento de GDias — como o ex-ministro é conhecido —, Moraes lembrou que, no próprio dia 8 de janeiro, havia determinado que a PF obtivesse “todas imagens das câmeras do Distrito Federal” que pudessem “auxiliar no reconhecimento facial” dos extremistas. Vídeos dos circuitos internos do Congresso e do STF, também depredados na data, já foram utilizados para identificar invasores.
Embora o ministro da Secretaria de Comunicação Social (Secom), Paulo Pimenta, tenha afirmado que todas as imagens já constavam no inquérito da PF, ainda não está claro se a gravação que veio à tona agora já foi, de fato, analisada pelos investigadores.
2 – COM QUEM LULA TRATOU DO CASO DAS IMAGENS?
Nesta quinta-feira, Paulo Pimenta, afirmou que Lula solicitou, logo após os ataques, acesso às imagens das câmeras do Planalto. Segundo o titular da Secom, o presidente chegou a questionar especificamente sobre o conteúdo do equipamento posicionado no ponto em que Gonçalves Dias foi flagrado circulando. “Disseram que essas imagens não existiam”, pontuou Pimenta.
Ele não esclareceu, no entanto, quem deu essa resposta a Lula, nem quando, nem se foram apresentadas justificativas ao presidente para que as gravações estivessem indisponíveis. Segundo a jornalista Andreia Sadi, do portal G1, Dias informou à cúpula do Planalto que o equipamento que o gravou estava quebrado.
3 – ESSAS IMAGENS FORAM EXCLUÍDAS OU OMITIDAS?
A partir do relato de Paulo Pimenta, sobre a inexistência informada a Lula do conteúdo da câmera em questão, surgem outras dúvidas adjacentes.
Se não havia imagens àquela altura, como elas foram tornadas públicas agora?
É preciso esclarecer, assim, se o material foi deliberadamente excluído e depois recuperado de algum modo — e por quem — ou se o interlocutor citado pelo titular da Secom simplesmente mentiu sobre o assunto — e por quê.
4 – E O PRÓPRIO GONÇALVES DIAS, SABIA DAS IMAGENS?
Em entrevista à GloboNews no dia da demissão, o general negou ter relação com o trecho do vídeo que mostra outro membro do GSI orientando e até oferecendo água a invasores. O ex-ministro alegou que “colaram” sua imagem a práticas com as quais ele não teria relação.
“Aquilo é um absurdo, não sei de onde vazou”, argumentou.
GDias não explicou, entretanto, se sabia da existência da gravação na qual ele próprio aparecia, tampouco se informou ao presidente deste fato.
5 – POR QUE O GSI COLOCOU EM SIGILO ESSAS IMAGENS?
Antes de a CNN Brasil tornar pública a gravação que derrubou o general, o GSI se recusou a entregar o material à CPI dos atos golpistas da Câmara Distrital do DF e à deputada federal Adriana Ventura (Novo), que requisitaram formalmente o arquivo. À CPI, o órgão alegou que seria inviável repassar as imagens em função do seu tamanho.
Para a parlamentar, foi usado o argumento de que poder-se-ia revelar a identidade de servidores militares que trabalham no Planalto. Além disso, em diferentes pedidos apresentados via Lei de Acesso a Informação (LAI), a negativa se dá com o argumento de que o conteúdo se encontra submetido a um sigilo de cinco anos.
6 – HÁ IMAGENS PARECIDAS DE OUTRAS CÃMERAS?
Com as sucessivas negativas do GSI sobre a divulgação do conteúdo, que acabou tornado público apenas parcialmente, ainda não se sabe se a íntegra das gravações do Planalto traz outras imagens constrangedoras ou com potencial de desgaste para o governo.
É possível, por exemplo, que mais agentes do órgão tenham sido flagrados em algum nível de interação suspeita com os extremistas que invadiram o prédio.
Além da omissão do Gabinete de Segurança Institucional, há também a omissão da Guarda Presidencial.
7 – O QUE GDIAS FAZIA NO PLANALTO NAQUELE DIA?
Na entrevista à GloboNews, o general afirmou que só entrou no palácio depois que ele foi invadido e seu objetivo seria retirar golpistas do interior do edifício. Ele não explicou onde estava antes dos ataques ou por que chegou ao local em tão pouco tempo, ou se reportou a presença ali — tanto dele quanto de subordinados — para o presidente Lula, informando de imediato sobre sua atuação para desmobilizar a ofensiva golpista.
GDias alegou que sua interação com os golpistas era apenas uma tentativa de retirá-los do terceiro e do quarto andar, “para que houvesse a prisão no segundo andar “. Depois, ele teria apenas verificado “se as portas estavam fechadas e se não houve depredação”.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – O repórter Luã Marinatto faz um resume perfeito da situação. Mostra que o general não somente mentiu ao presidente, dizendo que a câmera estava quebrada, quando também convenceu Lula a decretar sigilo para esconder sua participação capciosa no incidente, como ministro responsável pelo Planalto. Ou seja, chamar esse elemento de “general” é uma ofensa ao Exército brasileiro. (C.N.)