Publicado em 6 de abril de 2023 por Tribuna da Internet
João Gabriel de Lima
Estadão
Os israelenses viveram um momento histórico ao longo desta semana. Eles foram às ruas contra o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu, que ameaçava reduzir os poderes da Suprema Corte do país – expediente que, na Venezuela de Hugo Chávez e na Hungria de Viktor Orbán, deu início a uma escalada autoritária.
Ao decretar uma greve geral e protestar de forma vibrante nas ruas, a sociedade civil israelense fez com que Netanyahu recuasse do arreganho despótico.
DEMOCRACIA EM AÇÃO – “Está sendo uma experiência fascinante ver as engrenagens da democracia em ação. Ver como a população influencia as decisões do governo e como o governo reage rápido e até se pauta pelos horários das manifestações”, diz Sérgio Berezovsky, fotógrafo de carreira brilhante no jornalismo brasileiro.
Ele foi a Israel para compromissos familiares, viu-se engolfado pelo momento histórico – e fala de sua vivência nesse episódio.
Um estudo recente mostra que existem duas forças capazes de deter uma escalada autoritária: partidos políticos sólidos e uma sociedade civil organizada, capaz de ir às ruas quando o governante ameaça as instituições.
RANKING DA DEMOCRACIA – O estudo foi feito com dados do V-Dem, instituto sediado na Suécia que elabora o mais detalhado ranking de qualidade democrática da atualidade. Um de seus autores é o presidente da entidade, o cientista político Staffan Lindberg.
A plataforma do V-Dem reúne dados de todos os países do mundo a partir de 1900. O estudo sobre como deter o autoritarismo abarca 110 anos, entre 1900 e 2010.
Alguns casos pontuais são citados, como os colapsos partidários na Venezuela e na Bolívia, que abriram espaço para a ação de autocratas, e também é mencionado o papel da sociedade civil americana na contenção dos impulsos autoritários de Donald Trump.
MONITORAR O GOVERNO – Segundo os estudiosos, a ação da sociedade civil não se restringe aos momentos de mobilização. Ela é também importante para monitorar os governos nos intervalos entre os pleitos, dado que o julgamento definitivo dos eleitores só se dá no dia da eleição.
Não à toa, criticar e desmerecer a sociedade civil – especialmente as organizações não governamentais – é um refrão clássico dos que não toleram os regimes de liberdade.
“Há um clima de entusiasmo democrático, sem violência, num país que está acostumado a levar sua vida normalmente mesmo em momentos tensos”, diz Berezovsky. Mas nada garante que Netanyahu não fará uma nova tentativa para “deixar o Judiciário de joelhos”, como escreveu o americano Thomas Friedman em artigo publicado no Estadão. Se isso acontecer, espera-se, a sociedade civil israelense estará outra vez a postos para cumprir seu papel.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Excelente artigo de João Gabriel de Lima. Faltou apenas destacar que é a sociedade civil que paga a conta da podridão dos Três Poderes, que hoje contamina até mesmo as Forças Armadas, conforme o Tribunal de Contas da União tem constatado. (C.N.)