Jan Niklas
Estadão
A bancada ruralista protocolou pedidos de investigação e prisão contra o líder do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), João Pedro Stédile — que viajou na comitiva de Lula para China —, por conta de declarações do ativista consideradas como “ameaças” aos proprietários rurais.
Representantes do agronegócio acusam o MST de incitar “invasões” no campo, enquanto os sem-terra negam que vão fazer uma “onda de invasões”, mas sim manifestações e eventuais ocupações apenas em “latifúndios improdutivos”. A bancada ruralista também aumentou a pressão para a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre o MST.
OFENSIVA AMPLA – A Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) enviou o ofício contra Stédile ao Ministério Público do Distrito Federal, Procuradoria Geral da República (PGR), Ministério Público do Estado de São Paulo, Advocacia-Geral da União (AGU) e ao Tribunal de Contas da União (TCU).
O pedido da bancada ocorre em reação ao anúncio do MST sobre as ações do “Abril Vermelho”, tradicional mês de mobilização do grupo em prol da reforma agrária. Em um vídeo divulgado pelos sem-terra, Stédile afirma que, para chamar atenção às demandas dos ativistas, estão previstas ocupações no campo em todo o país.
“Neste mês de abril nosso movimento fará muitas manifestações em defesa da reforma agrária. Haverá mobilizações em todos os estados, seja marchas, vigílias, ocupações de terras, as mil e uma formas de pressionar para que a Constituição seja aplicada. E que latifúndios improdutivos sejam desapropriados e entregues para as famílias acampadas”, diz o líder do MST.
CLIMA DE INSEGURANÇA – A fala foi lida pelos ruralistas como uma “ameaça” que gera um “clima de insegurança” do campo. Em nota divulgada pela FPA, o líder da bancada e deputado federal Pedro Lupion (PP-PR), classifica as ações do MST como “crime”.
Ele diz que ainda cabe ao governo Lula (PT) a responsabilidade de acalmar o movimento, historicamente aliado do atual chefe do Palácio do Planalto.
“O Presidente da República chegou a usar boné do MST na campanha, então acredito que eles possam dialogar para impedir que essas situações ocorram. A propriedade privada precisa ser respeitada e esse anúncio de cometimento de crime feito pelo líder do movimento deve ser combatido pelas autoridades”, diz Lupion na nota divulgada pelo FPA.
NA CHINA COM LULA – Stédile é um dos integrantes da comitiva brasileira que foi para a China e viajou ao lado de vários representantes do agronegócio levados pelo governo para fechar acordos comerciais com o país asiático.
Ao portal Metrópoles, o líder do MST disse que teve uma boa interação com o grupo. “É uma convivência democrática. Os deputados que vieram a maioria são progressistas Estamos falando o tempo inteiro sobre agricultura e no que a China pode nos ajudar”, disse o ativista.
O prestígio dado por Lula ao líder do MST ocorre em meio à pressão que os se- terra vêm exercendo no governo para terem suas pautas atendidas. Por outro lado, o petista busca equilibrar os agrados à sua base histórica com acenos para conquistar o agronegócio, setor alinhado ao bolsonarismo.