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quinta-feira, setembro 01, 2022

Trinta minutos de jogo para a terceira via



Soraya representa os bolsonaristas arrependidos

Por Fernando Exman 

Foi na quinta-feira de manhã, durante sabatina realizada por Valor, “O Globo” e CBN, quando talvez a senadora Simone Tebet (MDB) tenha verbalizado em público pela primeira vez o seu desapontamento com a demora dos partidos que um dia sonharam em construir uma única candidatura de terceira via à Presidência da República. Fez um desabafo importante, mas, muito provavelmente, tarde demais.

“Não tenho meias palavras. Então, vou ser bem direta”, afirmou ela ao introduzir o assunto. E logo prosseguiu: “Acho que as pessoas jogaram a toalha muito cedo em torno desse nome ‘terceira via’. O desespero de achar o menos pior... No desespero de achar que vai dar no primeiro turno, e eu nunca achei que a eleição daria no primeiro turno e havia essa possibilidade, no final do ano passado já desacreditaram a terceira via. Esse é um ponto pacífico que precisa ser colocado”.

Com razão, a candidata ponderou que não se pode menosprezar a batalha que resultou na escolha de seu nome para encabeçar a coligação formada por MDB, PSDB, Cidadania e Podemos. Ela lembrou que o posto foi disputado por dois ex-ministros, um da Justiça e outro da Saúde, além do presidente do Congresso Nacional. Não citou o ex-governador de São Paulo, João Doria (PSDB), com quem por tempo demasiado rivalizou pela indicação do que hoje é chamado de centro democrático. “Eu era a café com leite”, completou.

Sua candidatura, agora, está servida. Mas o problema de Simone é que tanto ela quanto Ciro Gomes (PDT) têm pouquíssimo tempo para reverter a atual tendência de a eleição desembocar num segundo turno entre o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Além disso, os dois dispõem de estruturas modestas em Estados estratégicos. Possivelmente teriam destino mais alvissareiro, se tivessem conseguido mobilizar amplas bases em todas as unidades da federação.

Ainda assim, ambos receberam uma notícia positiva com a divulgação da mais recente pesquisa Ipec: oscilaram positivamente na sondagem, para respectivamente 7% e 3%, contra poderosos 44% de Lula e 32% de Bolsonaro. Mas podem avançar mais nas próximas sondagens, as quais já captarão as reações do eleitorado ao debate promovido pelas TVs Bandeirantes e Cultura, pelo jornal “Folha de S. Paulo” e o portal UOL.

O debate, aliás, é considerado um ponto de inflexão na campanha de Simone. A emedebista jogou mais solta do que as peças de propaganda a apresentavam, e evitou ser usada como escada por Lula. Quando o ex-presidente a chamou para dialogar sobre corrupção para atacar Bolsonaro, a senadora aproveitou a oportunidade, mas também lembrou que ocorreram malfeitos nas gestões petistas.

Por outro lado, não conseguiu dominar a bandeira contra o chamado Orçamento secreto. Na visão de um aliado dela, a partida marca 30 minutos do primeiro tempo e o jogo só vai começar a esquentar para valer agora, depois da exposição proporcionada por seguidas entrevistas, a realização do primeiro debate e o início da propaganda em rádio e televisão.

O segundo tempo começa depois do dia 7 de setembro, quando se medirá o apoio de Bolsonaro nas ruas. “As pessoas vão agora pensar nas eleições para valer”, diz. “O que demorou quatro ou cinco meses para oscilar até agora vai, na reta final da campanha, oscilar em dias.”

Simone vive uma fase de crescimento entre formadores de opinião e agentes econômicos. Precisa, contudo, reverter esse “momentum” em votos. Só assim manterá a esperança de estar bem posicionada para fazer uma ultrapassagem, no caso de o imponderável também marcar esta campanha presidencial, ou poder se apresentar como a interlocutora que reunirá o MDB em torno de Lula - inclusive cacifando-se para algum cargo no primeiro escalão.

Em comparação a Ciro Gomes, a diferença é que há tempos o pedetista é visto como uma possível alternativa a Bolsonaro e Lula. Atacando hora aqui o atual chefe do Poder Executivo e momento acolá o petista, Ciro tenta posicionar-se para a eleição atual desde 2018, quando ficou na terceira colocação. No entanto, praticamente empacou com um dígito nas pesquisas de intenção de voto, uma situação que pode levar à conclusão que cada polo está consolidado com cerca de 30% de votos. Sobraria, portanto, 40% dos eleitores para os outros postulantes ao Palácio do Planalto tentarem atrair.

Nesse cenário, acredita-se, existe espaço para furar ambas as bolhas. Mas dois aspectos precisam ser cada vez mais considerados.

O primeiro fator é a avaliação segundo a qual parcela considerável da população estaria acanhada em dizer que votará em Bolsonaro, uma vez que o presidente tem sido criticado de forma contundente por importantes formadores de opinião, embora esteja disposta a evitar o retorno do PT ao poder a qualquer custo. Ou seja, o percentual de intenções de votos do presidente estaria subestimado neste momento.

O segundo aspecto é o risco de crescimento do absenteísmo. E a razão disso é a maior facilidade para justificar a ausência no dia da votação dada pelo aplicativo disponibilizado pela Justiça Eleitoral. A justificativa poderá ser feita no dia da eleição ou depois, contanto que o eleitor esteja fora do seu domicílio eleitoral ou possa comprovar, após o pleito, a impossibilidade de votar. Um aumento no número de abstenções só beneficia quem está à frente da disputa.

Mas uma desidratação provocada por um movimento de voto útil na reta final da campanha é ainda a principal preocupação das candidaturas alternativas.

Neste momento, Ciro pode evitar esse infortúnio e Simone tem tudo para terminar a campanha maior do que entrou. Enquanto isso, a expectativa de estrategistas do que se convencionou chamar de terceira via é que Felipe d’Avila fique onde está, com cerca de 1%, apesar de sua candidatura ter o potencial de ajudar o Novo a consolidar-se como uma sigla diferente na selva da política brasileira. A dúvida que eles ainda têm é qual o percentual do eleitorado que pode se sensibilizar com o papel de bolsonarista arrependida desempenhado por Soraya Thronicke (União).

Valor Econômico

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