Publicado em 27 de setembro de 2022 por Tribuna da Internet
Elio Gaspari
Folha/O Globo
Faltando poucos dias para a eleição, ninguém haveria de prestar atenção em outras coisas. Pois a Agência Nacional de Saúde Suplementar, a xerife das operadoras, liberou a movimentação pelas empresas de R$ 12 bilhões das provisões destinadas a garantir a solidez do mercado.
Assim como as companhias de seguros, as operadoras de saúde são obrigadas a manter uma provisão para proteger a clientela. Os ativos garantidores desse mercado vão a R$ 33 bilhões. O mimo justificou-se porque no primeiro semestre deste ano as operadoras tiveram um prejuízo de R$ 691,6 milhões.
IMPREVISTO? – Visto assim, nada mais natural: há um mercado, ocorre um imprevisto e sacam-se recursos das provisões destinadas a protegê-lo. Imprevisto? Entre 2019 e 2021 as operadoras de saúde lucraram R$ 32,7 bilhões. Quando uma empresa dá lucro, distribui dividendos. Quando dá prejuízo, pode ir aos acionistas.
Proteger o mercado? O prejuízo de 2022 não foi linear. As seguradoras lucraram R$ 944 milhões no setor de saúde. Ganha um fim de semana num garimpo ilegal quem souber como um setor precisa de gambiarra porque teve um prejuízo de R$ 691,6 milhões se um de seus segmentos teve um lucro de R$ 944 milhões.
Não é o conjunto das operadoras que passa por um mau momento. São empresas e modos de gestão triunfalistas ou temerários. No mundo das operadoras de saúde privada existem diversos tipos de companhias. Algumas são verticalizadas, outras são cooperativas ou mesmo seguradoras. Como as quitandas, todas dependem de gestão.
FALTA DE CONTROLE – Afrouxar as normas de acesso às provisões que garantem a solidez das operadoras é um estímulo à má gestão. O grande problema dessas empresas é a absoluta falta de controle dos custos (y de otras cositas más, como salários e bônus).
As novidades tecnológicas abriram a porta do mercado para empulhações. A Agência Nacional de Saúde Suplementar dispõe de quadros e informações suficientes para expor as enganações. O mimo de R$ 12 bilhões é uma girafa, mas, pelas suas conexões, há empresas que cobiçam um jardim zoológico, avançando livremente sobre todos os R$ 33 bilhões das provisões.
Houve um tempo em que os bancos brasileiros faziam o que bem entendiam porque se julgavam protegidos por uma lei, segundo a qual não podiam quebrar. Quebraram quase todos. As operadoras de planos de saúde julgam-se invulneráveis. Confundem boas conexões com boa gestão. Esse foi o modelo das empreiteiras.