Publicado em 7 de maio de 2021 por Tribuna da Internet
Pedro do Coutto
Reportagem de Malu Gaspar e Mariana Carneiro, O Globo desta quinta-feira, revela que o general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, comandante do Exército, procurou o senador Omar Aziz, presidente da CPI da Covid-19, para dizer que ele fez chegar ao general Eduardo Pazuello uma comunicação sugerindo que em seu comparecimento à Comissão de Inquérito, marcada para o dia 19, não estivesse fardado e sim em trajes civis, pois o cargo que ele ocupou não pertencia à hierarquia militar e sim ao universo político-administrativo.
A comunicação do general Paulo Sérgio representou, sob a inevitável lente política, que o Comando do Exército não faz restrições ou impõe limitações aos trabalhos do Senado, pois, digo eu, se houvesse no pensamento do general Paulo Nogueira alguma restrição de qualquer tipo à convocação de Pazuello, ele teria dito palavras muito diversas das que ele comunicou, revelando tacitamente que o Exército não se encontra em jogo ou em subjugamento do Senado Federal.
BOM RELACIONAMENTO – O general Paulo Nogueira mantém um bom relacionamento pessoal com o senador Omar Aziz, inclusive quando este foi governador do Amazonas, o general foi comandante da 12ª Região Militar com sede em Manaus. Paulo Sérgio Nogueira, quando foi nomeado pelo general Braga Netto e pelo presidente Jair Bolsonaro para comandante do Exército, estabeleceu relações de amizade com o presidente da CPI. Mas este é um outro assunto.
O comandante do Exército informou em primeira mão a Omar Aziz que Pazuello talvez não pudesse prestar depoimento porque dois coronéis com quem ele tinha estado no final de semana estavam sob suspeita de Covid. Paulo Sérgio explicou a Omar Aziz que um dos coronéis, Elcio Franco, ex-secretário executivo de Pazuello na Saúde, também acompanhou o treinamento que o general fez no Planalto, no fim de semana passado, para se preparar para o depoimento e responder às perguntas da Comissão.
AVISO – Paralelamente, a iniciativa do general Paulo Sérgio pode ser interpretada como um aviso politicamente sensível ao presidente Jair Bolsonaro de que o Exército não apoia golpes de Estado e tampouco iniciativas que colidam com o regime democrático e a liberdade.
Pois se o general deu explicações a respeito da convocação de Pazuello, deixou clara a posição democrática do Exército, enviando uma informação importante ao próprio presidente da República: o Exército é uma instituição do Estado e não do governo se ele se distanciar da democracia; e que não é instrumento para implantar a ditadura militar que os apoiadores de Bolsonaro pediram no último sábado.
PROJETO REJEITADO – A reportagem é de Bruno Góes, O Globo de ontem, revelando que apesar dos esforços da deputada Bia Kicis, os deputados que compõem a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara rejeitaram um projeto de interesse do Planalto que limitava as ações do Poder Judiciário e previa a possibilidade de impeachment de ministros do Supremo Tribunal Federal.
A discussão foi intensa e os deputados voltaram-se contra o parecer da presidente da Comissão. Foi rejeitado e a matéria pelo resultado não poderá ser incluída na pauta de votações. O bloco governista vai tentar agora a remessa da proposição ao Senado Federal. O projeto original foi defendido pelo deputado Eduardo Bolsonaro. Como se constata, a Câmara por coincidência do destino, rejeitou exatamente uma iniciativa que também, na tarde de quarta-feira, o presidente Bolsonaro ameaçou a Corte Suprema.
Muito bom o artigo de Merval Pereira, O Globo de quinta-feira, sobre o fato de o presidente Bolsonaro ter ultrapassado o limite na medida em que ameaçou frontalmente o Supremo, estendendo sua ameaça aos governadores e prefeitos do país. Merval Pereira acentuou que o presidente Bolsonaro encontra-se desequilibrado, partindo agora para estabelecer um ambiente político capaz de levar ao autoritarismo.
PRODUÇÃO INDUSTRIAL – Matéria de Leonardo Vieceli, Folha de São Paulo de ontem, revela que em março a produção industrial brasileira recuou 2,4%, pelos dados fornecidos pelo IBGE. Com esse resultado a produção retornou ao nível pré-pandemia, verificado em fevereiro de 2020.
A produção negativa zerou os ganhos acumulados até o início da pandemia. Enquanto isso, o Bradesco revelou ter obtido um lucro de R$ 6,4 bilhões no primeiro trimestre do ano. O lucro do banco foi praticamente igual ao do Itaú para o mesmo período. Assim, continua azul a rota de voo dos principais bancos do país.