Pedro do Coutto
Numa entrevista ao Valor, também publicada pelo O Globo, edições de ontem, o general Hamilton Mourão afirmou diretamente que o país sofreu uma derrota com o recuo na nomeação de Ilona Zsabór para o Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária. As declarações do vice-presidente expuseram o grau de radicais que apoiam Bolsonaro, conduzindo a uma radicalização que se afasta da democracia. Em O Valor a matéria está assinada por Carla Araujo e Fernando Exman e no Globo levou assinatura de Patrik Camporez.
O general Hamilton Mourão referiu-se a uma situação própria da verdadeira política cujo objetivo tem de ser a construção e não o confronto permanente entre uma facção política e outra. Tanto é assim que o vice-presidente projetou uma imagem bastante forte e inerente ao processo político numa democracia. A capacidade que um governante deve ter como, por exemplo, sentar-se à mesa com pessoas de pensamento contrário.
CLAREZA – Essa imagem foi bastante marcante por sua clareza, pois destaca a realidade não só da política, mas do comportamento humano que é o fato de se conviver com as ideias contrárias as suas. Na minha opinião foi a melhor síntese de um episódio no qual, sem dúvida, o Ministro Sérgio Moro saiu ferido com sua imagem tisnada por uma vacilação demonstrada no pêndulo das horas que separaram a nomeação de Ilona Szabó da sua exoneração. Foram 24 horas que causaram uma diferença enorme entre um ato e outro.
É evidente que Sérgio Moro recuou pela disposição do presidente Bolsonaro em aceitar os argumentos do radicalismo, sem pensar nas consequências. Tanto Bolsonaro quanto Moro deixaram-se envolver pelos fundamentalistas, cujo perfil ideológico os leva a desejarem situações extremadas com base num impulso que, no fundo, nada tem de político. Da mesma forma que em qualquer competição um lado não conseguirá vencer a zero o adversário, a mesma verdade inexorável envolve os radicais.
CAMINHO ERRADO – As últimas atitudes do presidente Jair Bolsonaro destacam-se pela disposição de desmoralizar os adversários. Não é este o caminho de um presidente da República, muito menos o rumo desejado pela maioria esmagadora da população do país.
O episódio Hamilton Mourão se sobrepos ao resultado que consagrou a Mangueira como grande campeã do carnaval. O exemplo pode ser dirigido ao governo: a Mangueira venceu no final da competição marcada por diferenças mínimas de pensamento e percepção.