André MoreauJornal da ABI
Boa parte dos trabalhadores brasileiros, desde a Lei Áurea, vive por procuração, como escravos modernos que, após cansativas jornadas de trabalho, assistem e/ou ouvem noticiários sobre o que deve ser considerado inevitável para que cheguem ao tão propalado progresso que nunca ocorrerá, nem para os seus senhores.
Assim, diante dos aparelhos de rádio e televisão, em meio a audiovisuais que promovem informações subjetivas objetivando excitar e confortar, a massa é mantida obediente, para descansar e, sem reação diante dos abusos e erros dos senhores do sistema excludente e dos governantes, voltar a produzir no dia seguinte.
IMPOSIÇÃO – Sob controle, a população assiste aos capitães do mato de senhores mais impávidos do que nos tempos da colonização imporem diariamente aos escravos modernos a importância do fim da Previdência Social, que através de um fundo público, garante aos trabalhadores com carteira assinada, aposentadoria, pensão e auxílio, sob a alegação de que é o melhor para todos, com exceção dos militares treinados para mantê-los pacíficos.
A linguagem usada nos noticiários, acirrada nesses tempos de mudança do sistema de governo, é de resignação e impotência diante do que supostamente será melhor para futuras gerações. É a mesma argumentação de meias verdades que foram usadas na ditadura de Pinochet, no Chile, em meio a noticiários que chocaram e geraram medo, para neutralizar o povo.
MISSÃO DE GUEDES – O principal defensor da privatização da Previdência Social – o economista Paulo Guedes, não por acaso formado na Universidade de Chicago – é o principal ministro do governo. Sua missão é impor o fim da Previdência Social no Congresso Nacional, para implantar o modelo chileno de capitalização. Por isso tem tanto espaço nos meios de comunicação conservadores.
Guedes fundou o Banco Pactual, que hoje faz parte do BTG Pactual e o BR Investimentos, do grupo Bozano Investimentos e que opera aplicações em empresas privadas (private equity) através da plataforma de “ofertas globais” Bankerbay, no Chile, juntamente com outras transnacionais, justamente no país onde há o maior número de suicídios já registrado de trabalhadores aposentados, em função do baixo rendimento oriundo do modelo de capitalização que, em média, equivale à metade do salário mínimo.
Guedes representa os senhores da Federação dos Bancos (Febraban), não há a menor dúvida.
FATTORELLI – Por outro lado, a corajosa Maria Lucia Fattorelli – especialista em dívida pública – comprova em estudos acessíveis a todos que a Previdência Social, quando retiradas de sua conta as despesas de Assistência Social para amparar quem nunca contribuiu para o INSS, é superavitária e só será modificada para satisfazer aos banqueiros que capturaram o Estado brasileiro.
A convite do presidente do Rafael Correa, de 2007 a 2008 a especialista brasileira integrou a Comissão de Auditoria Integral da Dívida Pública do Equador, que teve ótimo desempenho e reduziu a dívida nacional em 70%.
Por isso, Fattorelli não tem espaço nos meios de comunicação conservadores, para não interferir no plano de dominação que está sendo implantado.
REDUÇÃO DA DÍVIDA – Em entrevista ao jornalista Luiz Carlos Azenha, a coordenadora da Auditoria Cidadã da Dívida, confirma que a dívida real equatoriana era de 30% do total cobrado pelos bancos credores, que terminaram fazendo acordo com o governo visando evitar ação nos tribunais internacionais.
Fatorelli denuncia que a mídia corporativa e os governos fazem de conta que o assunto é muito árduo, muito difícil de entender e que você não precisa se preocupar com isso. Ou seja, deve pagar e ficar quieto”. E conclui que, se houvesse uma auditoria no Brasil, o valor devido também poderia ter uma redução muito exprssiva.
SEM SERVIÇOS – Fattorelli diz que os cidadãos “pagam a conta através dos impostos e ficam sem os serviços públicos que o dinheiro dado aos banqueiros poderia financiar. Sem o Metrô, os hospitais e as creches que o dinheiro gasto em juros poderia financiar”.
Na entrevista concedida a Azenha, a auditora brasileira lembra que “o crescente grau de endividamento reduz a margem de manobra do governo e o empurra para as privatizações, agora ‘de estruturas de estado’, não apenas de empresas lucrativas, como aconteceu no período da privataria tucana, e é outro ponto controverso, já que petistas insistem que concessões não equivalem à venda de patrimônio.
De volta à senzala, a conclusão não poderia ser outra, o Estado brasileiro serve mais aos banqueiros que aos cidadãos que pagam a conta, uma realidade que expõe os membros da Febraban, como senhores do “Deus Mercado”, que prega a salvação desde que os cidadãos emprestem suas economias a eles, como escravos modernos.