Pedro do Coutto
Essa é minha impressão dos ataques que o filósofo Olavo de Carvalho dirige à cúpula militar do Palácio do Planalto, principalmente ao general Hamilton Mourão. Revoltado com os ataques do escritor, o general Carlos Alberto Santos Cruz decidiu responder diretamente em uma entrevista a Thais Bilenky, acusando o autor dos ataques de usar termos chulos e inconveniente. Ao mesmo tempo, acentuou o “desequilíbrio emocional” do pensador Olavo de Carvalho. A matéria foi publicada ontem na edição da Folha de São Paulo.
Olavo de Carvalho mostra-se sempre pronto para o ataque àqueles que são alvo de sua antipatia. Mas não percebe, ou percebe mas não liga, que está fazendo um esforço pessoal para desestabilizar a própria equipe do Executivo.
EM MÁ HORA – Sem dúvida, a hora não poderia ser mais imprópria, já que Bolsonaro empenha-se na tentativa de aprovar o projeto de reforma da Previdência. No último ataque que postou nas redes sociais, o escritor ofendeu por igual os generais que se encontram trabalhando no Palácio do Planalto. Um deles é o general Santos Cruz, atual secretário do Governo.
Na semana passada, o general Hamilton Mourão foi alvo das críticas e restrições colocadas nas redes sociais por Olavo de Carvalho. Mourão não desejou responder. Mas o general Santa Cruz resolveu tomar essa iniciativa.
Os episódios e crise se repetem e acentuam uma divisão entre o formulador de teses do governo e os militares no exercício de suas funções no Palácio do Planalto.
BOLSONARO ATINGIDO – Na verdade o entrechoque não interessa politicamente a ninguém, mas prejudica o presidente Jair Bolsonaro. São coisas imprevistas que fazem parte do jogo político. Entretanto, as críticas não vêm da oposição e sim por parte daquele que se apresenta como mentor dos rumos do Executivo.
Trata-se de um equívoco absoluto, porque o poder não se divide, e muito menos pode existir uma fratura entre um plano administrativo e outro que envolve a atuação da própria equipe governamental.
DESAGREGADOR – Para mim, o problema maior reside no conflito que Olavo de Carvalho tenta conduzir para frente do palco de Brasília, com uma postura desagregadora.
Em vez de somar, o filósofo divide opiniões pessoais que inevitavelmente abalam a base governamental e parlamentar do presidente da República.
O reflexo imediato é o de aumentar as dificuldades para aprovar a reforma da Previdência nos termos polêmicos e confusos do projeto Paulo Guedes, que por si só já é extremamente controverso.