Daniel GullinoO Globo
O vice-presidente Hamilton Mourão colocou em dúvida, nesta segunda-feira, a influência do escritor Olavo de Carvalho no governo de Jair Bolsonaro, em meio a uma série de mudanças realizadas no Ministério da Educação (MEC) envolvendo Olavo. Mourão disse que não saber “até que ponto” vai a influência do escritor, que indicou os ministros da Educação (Ricardo Vélez) e das Relações Exteriores (Ernesto Araújo), e afirmou que Vélez está tentando organizar a pasta.
— Não sei até que ponto existe essa influência. Acho que o ministro está tentando organizar as coisas. Tem ocorrido alguns problemas que vocês já olharam, a questão do hino nacional, outras coisas que suscitaram polêmica, então acho que ele está tentando organizar as coisas.
SEM DISPUTA – O vice-presidente também considera que não há uma disputa entre os discípulos de Olavo e os militares do governo, ressaltando que não vê uma “ala militar” com atuação única.
— Em primeiro lugar, não tem área militar. Tem alguns militares que foram designados pelo presidente para funções. Cada um está zelando pela sua área.
Mourão tem sido alvo constante das críticas de Olavo, que disse ter se arrependido de tê-lo apoiado. Na semana passada, questionado sobre os ataques, o vice riu e limitou-se a responder: “Beijinhos”.
CRISE NO MEC – A influência de Olavo no MEC causou uma disputa nos últimos dias. Na sexta-feira, o escritor orientou seus alunos a abandonarem os cargos que ocupem no governo. Ao Globo, ele explicou que se motivou pela informação de que “espertalhões” dentro da administração de Bolsonaro estariam atuando para frear a “Lava-Jato da Educação”, uma investigação sobre corrupção em contratos do ministério de gestões passadas.
No domingo, Bolsonaro pediu a Vélez o afastamento de Ricardo Wagner Roquetti da direção do MEC. Sua exoneração já foi publicada. Ex-aluno de Olavo, Roquetti promoveu mudanças na equipe do ministério, rebaixando funcionários ligados ao escritor. A atitude causou revolta no ideólogo, que usou as redes para pressionar pela saída do coronel.
CONSOLAÇÃO – Um dos atingidos pelas mudanças foi o assessor especial do MEC Silvio Grimaldo. Em texto publicado em sua página no Facebook, Grimaldo anunciou que pediria exoneração, alegando que pessoas ligadas a Carvalho se tornaram indesejadas no MEC e foram transferidas para cargos que, na prática, são apenas um “prêmio de consolação”.
Olavo também culpa Roquetti pelo episódio da carta enviada pelo MEC às escolas municipais, mencionado por Mourão, em que o ministro pedia aos diretores imagens das crianças cantando o hino, além de encerrar a correspondência com o slogan de campanha de Jair Bolsonaro, o que é proibido por lei. Depois de críticas, o ministério recuou do pedido.