Sábado, 09 de Março de 2019 - 08:40
por Júlia Zaremba, Fernanda Canofre, Paula Sperb e Estelita Hass | Folhapress
Foto: Reprodução / Poder 360
Com lembrança à vereadora assassinada no Rio Marielle Franco e críticas ao presidente Jair Bolsonaro, milhares de pessoas participaram de atos para marcar o Dia da Mulher nesta sexta-feira (8) nas capitais.
Houve participantes cobertos de lama na capital mineira, para lembrar a tragédia de Brumadinho.
Em São Paulo, a manifestação foi permeada por gritos contra o presidente, a reforma da previdência e a violência contra a mulher -a vítima mais lembrada foi Marielle, cujo assassinato completará um ano em 14 de março.
O protesto reuniu movimentos feministas, de defesa de minorias e sindicais. A multidão começou a se reunir às 16h em frente ao Masp (Museu de Arte de São Paulo), e começou a seguir até a praça Roosevelt por volta das 18h30.
"Ô Bolsonaro, seu fascistinha, a mulherada vai botar você na linha!", cantava um grupo de mulheres, em meio a batucadas de caixas. "Nem recatada, nem do lar, a mulherada está na rua para lutar!", continuaram.
O governador João Doria (PSDB), o prefeito Bruno Covas (PSDB), a ministra Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos) e o ministro Sergio Moro (Justiça) também viraram alvo dos manifestantes. Por outro lado, exaltaram a Mangueira, vencedora do Carnaval deste ano com samba que prestou homenagem a Marielle.
Blusas com o rosto da vereadora morta, faixas de Lula Livre, tatuagens com slogans feministas e cartazes com a hashtag #elenão predominavam.
Vendedores viram o ato como uma oportunidade para vender no vão do Masp quadrinhos, ímãs e botons com o rosto de mulheres como Frida Kahlo, Malala Yousafzai e Dilma Rousseff, que custavam entre R$ 4 e R$ 50.
A fotógrafa Mirelle Matias, 38, que mora na França há 10 anos, participou pela primeira vez do protesto. Veio acompanhada da filha, Alice, de 3 anos, que carregava uma placa escrita "dias mulheres virão".
"Temos hábito de participar de protestos na França. Não tinha como não vir nesse", diz. "Não adianta se manifestar só em rede social. Para derrubar um governo, só indo para a rua. É hora da resistência."
Também é a primeira vez que a estudante Lara Torrezan, 18, participa. "Agora que sou maior de idade, tenho mais liberdade. Minha mãe não deixava. Acha que é bobeira, mas mesmo assim eu vim", diz. "Temos que mostrar o nosso valor na sociedade."
A professora de artes Monica Franco, 37, protestava contra a violência contra a mulher. Carregava uma placa com números de levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública que mostrou que 536 mulheres foram agredidas por hora em 2018. "É um dado muito forte. Quero mostrar o quanto somos agredidas. Que não se trata de 'mimimi' nem nada disso", diz.
Em Belo Horizonte, um grupo de pessoas cobertas de lama, carregando cartazes que lembravam as mortes de LGBTs, o retorno do Brasil ao Mapa da Fome e os números dos feminicídios de 2019 no país puxou a caminhada, na zona central. Entre as pautas, também críticas ao presidente e à reforma da previdência, e defesa do aborto seguro e legal. Ainda foi lembrado o pedido de liberdade para o ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva (PT) e protestos de luto por Brumadinho.
"Lembramos da tragédia hoje por conta da quantidade de mulheres que morreram ou seguem desaparecidas. É um ato de denúncia de todo tipo de assassinato de mulheres, de toda a violência contra nós e solidariedade às famílias", diz a professora Michele Ramos, 27.
O atual contexto político do país foi o que trouxe a economista Kássia Viana, 45, pela primeira vez aos atos. "É um dia que deve servir para protestarmos unidas. 8 de março é para rever conceitos e buscar direitos". Com ela, as três sobrinhas - Carolina, 24, Maria Eduarda, 19, e Isabela, 18 -seguravam cartazes com frases contra assédio e por direitos. "Quis sair do discurso e ir para a atitude. Comecei a sentir que preciso disso, porque o discurso machista está muito perto da gente, na nossa família, mas pode mudar", diz ela.
No Rio, milhares de mulheres e alguns homens fecharam as duas vias da avenida Rio Branco, uma das principais do centro carioca, num ato para marcar o Dia Internacional da Mulher. Elas andaram por mais de um quilômetro, da igreja da Candelária até a região da Cinelândia.
Referências à Marielle eram frequentes, inclusive um bandeirão levado também à torcida da Mangueira na apuração das escolas de samba no sambódromo na última quarta (6). A agremiação homenageou a parlamentar no desfile deste ano.
Uma grande bandeira com os escritos "Juntas somos gigantes" e "Marielle presente" carregada por mulheres de pernas de pau, com ou sem blusa, foi à frente da caminhada em clima de cortejo de carnaval, seguidas por baterias. Algumas manifestantes usavam glitter e adereços reciclados da folia, como os brincos "girl power".
Como em São Paulo, o tom do protesto foi de oposição ao presidente e à reforma da previdência. A viúva de Marielle, Mônica Benício, tirou fotos com fãs e marchou junto ao grupo com um megafone aos gritos de "Por Marielle quero justiça, eu não aceito um presidente da milícia".
Um manifesto lido pelas organizadoras no início do ato e repetido pelas presentes criticou, além da proibição do aborto, as declarações da ministra Damares e as políticas de segurança do ministro Moro e do governador do Rio, Wilson Witzel (PSC).
Em Porto Alegre, as manifestações iniciaram ainda pela manhã, com discussões abertas sobre feminicídio e reforma da previdência, no Largo Glênio Peres.
Pela tarde, um "livraço" pediu a valorização da educação, já que as mulheres são a maioria dos professores do ensino básico. Simultaneamente, todos abriram um livro e leram um trecho em voz alta.
"Troque já esse vestido/troque o padrão do tecido/saia do sério, deixe os critérios", leu ao microfone a deputada federal Maria do Rosário (PT-RS). O poema escolhido é de autoria de Alice Ruiz.
As agricultoras também protestaram e levaram os produtos da reforma agrária para uma feira no local. "Se para as mulheres urbanas é difícil, para as mulheres do campo é pior, não há acesso a todos serviços. Temos menos visibilidade e teremos nossas aposentadorias prejudicadas", disse Salete Carollo, integrante da Via Campesina.
No final do dia, uma caminhada partiu da Esquina Democrática, local conhecido pelos protestos durante a ditadura. O assassinato de Marielle também foi lembrado na capital gaúcha.
Em Curitiba, as manifestantes se concentraram em frente ao prédio da UFPR, no centro da cidade, e saíram em caminhada pelo calçadão da Rua XV de Novembro. Em cartazes, elas protestavam contra a violência doméstica, a violência obstétrica e a flexibilização do porte de armas.
Um pequeno grupo carregava faixas pedindo "Lula livre" -o ex-presidente está preso na capital paranaense, após ter sido condenado por corrupção e lavagem de dinheiro.
Houve participantes cobertos de lama na capital mineira, para lembrar a tragédia de Brumadinho.
Em São Paulo, a manifestação foi permeada por gritos contra o presidente, a reforma da previdência e a violência contra a mulher -a vítima mais lembrada foi Marielle, cujo assassinato completará um ano em 14 de março.
O protesto reuniu movimentos feministas, de defesa de minorias e sindicais. A multidão começou a se reunir às 16h em frente ao Masp (Museu de Arte de São Paulo), e começou a seguir até a praça Roosevelt por volta das 18h30.
"Ô Bolsonaro, seu fascistinha, a mulherada vai botar você na linha!", cantava um grupo de mulheres, em meio a batucadas de caixas. "Nem recatada, nem do lar, a mulherada está na rua para lutar!", continuaram.
O governador João Doria (PSDB), o prefeito Bruno Covas (PSDB), a ministra Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos) e o ministro Sergio Moro (Justiça) também viraram alvo dos manifestantes. Por outro lado, exaltaram a Mangueira, vencedora do Carnaval deste ano com samba que prestou homenagem a Marielle.
Blusas com o rosto da vereadora morta, faixas de Lula Livre, tatuagens com slogans feministas e cartazes com a hashtag #elenão predominavam.
Vendedores viram o ato como uma oportunidade para vender no vão do Masp quadrinhos, ímãs e botons com o rosto de mulheres como Frida Kahlo, Malala Yousafzai e Dilma Rousseff, que custavam entre R$ 4 e R$ 50.
A fotógrafa Mirelle Matias, 38, que mora na França há 10 anos, participou pela primeira vez do protesto. Veio acompanhada da filha, Alice, de 3 anos, que carregava uma placa escrita "dias mulheres virão".
"Temos hábito de participar de protestos na França. Não tinha como não vir nesse", diz. "Não adianta se manifestar só em rede social. Para derrubar um governo, só indo para a rua. É hora da resistência."
Também é a primeira vez que a estudante Lara Torrezan, 18, participa. "Agora que sou maior de idade, tenho mais liberdade. Minha mãe não deixava. Acha que é bobeira, mas mesmo assim eu vim", diz. "Temos que mostrar o nosso valor na sociedade."
A professora de artes Monica Franco, 37, protestava contra a violência contra a mulher. Carregava uma placa com números de levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública que mostrou que 536 mulheres foram agredidas por hora em 2018. "É um dado muito forte. Quero mostrar o quanto somos agredidas. Que não se trata de 'mimimi' nem nada disso", diz.
Em Belo Horizonte, um grupo de pessoas cobertas de lama, carregando cartazes que lembravam as mortes de LGBTs, o retorno do Brasil ao Mapa da Fome e os números dos feminicídios de 2019 no país puxou a caminhada, na zona central. Entre as pautas, também críticas ao presidente e à reforma da previdência, e defesa do aborto seguro e legal. Ainda foi lembrado o pedido de liberdade para o ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva (PT) e protestos de luto por Brumadinho.
"Lembramos da tragédia hoje por conta da quantidade de mulheres que morreram ou seguem desaparecidas. É um ato de denúncia de todo tipo de assassinato de mulheres, de toda a violência contra nós e solidariedade às famílias", diz a professora Michele Ramos, 27.
O atual contexto político do país foi o que trouxe a economista Kássia Viana, 45, pela primeira vez aos atos. "É um dia que deve servir para protestarmos unidas. 8 de março é para rever conceitos e buscar direitos". Com ela, as três sobrinhas - Carolina, 24, Maria Eduarda, 19, e Isabela, 18 -seguravam cartazes com frases contra assédio e por direitos. "Quis sair do discurso e ir para a atitude. Comecei a sentir que preciso disso, porque o discurso machista está muito perto da gente, na nossa família, mas pode mudar", diz ela.
No Rio, milhares de mulheres e alguns homens fecharam as duas vias da avenida Rio Branco, uma das principais do centro carioca, num ato para marcar o Dia Internacional da Mulher. Elas andaram por mais de um quilômetro, da igreja da Candelária até a região da Cinelândia.
Referências à Marielle eram frequentes, inclusive um bandeirão levado também à torcida da Mangueira na apuração das escolas de samba no sambódromo na última quarta (6). A agremiação homenageou a parlamentar no desfile deste ano.
Uma grande bandeira com os escritos "Juntas somos gigantes" e "Marielle presente" carregada por mulheres de pernas de pau, com ou sem blusa, foi à frente da caminhada em clima de cortejo de carnaval, seguidas por baterias. Algumas manifestantes usavam glitter e adereços reciclados da folia, como os brincos "girl power".
Como em São Paulo, o tom do protesto foi de oposição ao presidente e à reforma da previdência. A viúva de Marielle, Mônica Benício, tirou fotos com fãs e marchou junto ao grupo com um megafone aos gritos de "Por Marielle quero justiça, eu não aceito um presidente da milícia".
Um manifesto lido pelas organizadoras no início do ato e repetido pelas presentes criticou, além da proibição do aborto, as declarações da ministra Damares e as políticas de segurança do ministro Moro e do governador do Rio, Wilson Witzel (PSC).
Em Porto Alegre, as manifestações iniciaram ainda pela manhã, com discussões abertas sobre feminicídio e reforma da previdência, no Largo Glênio Peres.
Pela tarde, um "livraço" pediu a valorização da educação, já que as mulheres são a maioria dos professores do ensino básico. Simultaneamente, todos abriram um livro e leram um trecho em voz alta.
"Troque já esse vestido/troque o padrão do tecido/saia do sério, deixe os critérios", leu ao microfone a deputada federal Maria do Rosário (PT-RS). O poema escolhido é de autoria de Alice Ruiz.
As agricultoras também protestaram e levaram os produtos da reforma agrária para uma feira no local. "Se para as mulheres urbanas é difícil, para as mulheres do campo é pior, não há acesso a todos serviços. Temos menos visibilidade e teremos nossas aposentadorias prejudicadas", disse Salete Carollo, integrante da Via Campesina.
No final do dia, uma caminhada partiu da Esquina Democrática, local conhecido pelos protestos durante a ditadura. O assassinato de Marielle também foi lembrado na capital gaúcha.
Em Curitiba, as manifestantes se concentraram em frente ao prédio da UFPR, no centro da cidade, e saíram em caminhada pelo calçadão da Rua XV de Novembro. Em cartazes, elas protestavam contra a violência doméstica, a violência obstétrica e a flexibilização do porte de armas.
Um pequeno grupo carregava faixas pedindo "Lula livre" -o ex-presidente está preso na capital paranaense, após ter sido condenado por corrupção e lavagem de dinheiro.
Bahia Notícias