Carlos Newton
Não há dúvida de que o presidente Jair Bolsonaro é um político limitado, embora tenha passado quase três décadas na Câmara dos Deputados. Com toda certeza, até hoje ele não compreendeu o que significa exatamente o sistema democrático, a alternância no poder, o respeito aos adversários políticos, dentro da célebre tese jurídica defendida por Ruy Barbosa para justificar a aprovação de normas legais que assegurassem a existência da oposição. “A lei que protege meu adversário é a lei que me protege”, ensinava o mestre, e não havia como refutar.
Bolsonaro não entende essas sutilezas democráticas, divide a política entre “nós” e “eles”, tem uma visão totalmente deturpada do real significado do regime republicano.
BOICOTE INTENCIONAL – Dentro desse enfoque foi desapontador tomar conhecimento de que o Planalto convocou a primeira entrevista coletiva do atual presidente e deixou de convidar representantes dos três mais importantes grupos de mídia do país – O Globo, a Folha e o Estadão.
Foi uma ofensa à democracia e à cidadania, cometida de maneira proposital, deliberada e acintosa. Vale a redundância, porque nunca se ouviu falar que tivesse ocorrido algo semelhante em qualquer país que se julgue minimamente civilizado.
Será que algum ministro ou assessor de Bolsonaro teve o bom senso de aconselhar que não cometer essa impropriedade? É possível, mas improvável, porque todos temem seus rompantes. E o pior é nenhum jornalista se levantou na coletiva e protestou contra o boicote aos três maiores jornais. Talvez já não se façam mais jornalistas como antigamente…
SÃO ALIADOS – O mais curioso é O Globo, a Folha e o Estadão são os maiores aliados de Bolsonaro na reforma da Previdência. Não há dinheiro que pague a apaixonada defesa que os gigantes da mídia têm efeito, exigindo a aprovação da emenda constitucional nos termos concebidos pelo Planalto. O apoio é incondicional, os três jornais não fazem o menor reparo, não reclamam da exclusão dos militares, nada, nada. Sem falar no servilismo da TV Globo e da GloboNews, que chega às raias da servidão.
Mas nada disso comove Bolsonaro, que não percebe ter se tornado presidente de todos os brasileiros, representando não somente os que o apoiam, mas também aqueles que se opõem ao governo.
###
P.S. 1 – O mais patético é saber que o Planalto não convidou representante da Folha, mas fez questão de chamar um jornalista do UOL. Ou seja, os jornalistas do Planalto não sabem que Folha e UOL significam a mesma coisa, são partes do mesmo grupo jornalístico.
P.S. 1 – O mais patético é saber que o Planalto não convidou representante da Folha, mas fez questão de chamar um jornalista do UOL. Ou seja, os jornalistas do Planalto não sabem que Folha e UOL significam a mesma coisa, são partes do mesmo grupo jornalístico.
P.S. 2 – Essa atitude de Bolsonaro evidencia também que, se ele consulta o núcleo duro do Planalto (Augusto Heleno, Hamilton Mourão, Onyx Lorenzoni, Santos Cruz e Floriano Peixoto), não leva muito em consideração o que lhe sugerem. É uma pena. (C.N.)