Comum nos EUA e Europa, acessório de segurança usado no pescoço de crianças chega ao Brasil em meio a controvérsias
Publicado em 27/03/2011 | Paola CarrielComuns nos Estados Unidos e Europa, as “coleirinhas” para crianças começam a ganhar espaço no Brasil. O acessório é usado como medida de segurança para os pequenos, mas ainda gera polêmica. Há quem acredite que o objeto pode ser ofensivo. Por outro lado, quem usa garante que a “coleirinha” é uma demonstração de afeto e preocupação.
O médico Rodrigo Bagatelli, 32 anos, viu na rua uma criança com o acessório e decidiu pesquisar. Não encontrou em lojas que vendem artigos infantis e fez uma busca na internet. Agora, com a “coleirinha” os passeios com a filha Rebeca, de 1 ano, ficaram mais seguros. “Decidimos comprar porque ela começou a andar com 9 meses e se locomove com muita rapidez.” Hoje, Rebeca pode “explorar” o mundo com os pais mais tranquilos. Bagatelli diz que, em geral, as pessoas não estranham o acessório, mas já houve situações de desaprovação.
O acessório pode ser encontrado em vários formatos. Há pulseiras, macacão ligado à cintura da mãe e simpáticas mochilinhas com temas infantis. Os preços variam entre R$ 19 e R$ 50. Nas lojas de Curitiba ainda é difícil encontrá-lo, mas os lojistas dizem que já há procura. A terapeuta holística Marina Grigoletti usou uma pulseirinha no filho Yuri, na época com 2 anos, quando estava de mudança para a Holanda. Marina estava viajando sozinha com o garoto e tinha muitas malas. “Estava muito preocupada, porque ficamos horas esperando e ele queria brincar e conhecer o lugar.” A terapeuta encontrou o acessório no aeroporto e comprou. “Foi útil durante todo o período que passamos na Europa. Fizemos viagens de trens e metrôs e eu me senti muito mais segura.”
Vânia Dias, gerente de uma loja de produtos infantis, diz que os pais e mães buscam o produto para fazer passeios e viagens com os pequenos. “Ainda há preconceito, mas quem é mãe entende.”
Especialistas
A psicóloga clínica e terapeuta de família Eneida Ludgerno afirma que existem outras opções para a segurança dos filhos. “Ainda sou a favor de pegar na mão e ter o contato corpo a corpo”. Para ela, apesar de a “coleirinha” ser uma restrição para a criança e oferecer segurança, há meios mais próximos e pessoais de se obter confiança nos passeios com os pequenos. Eneida aconselha, por exemplo, começar os passeios em lugares seguros e criar regras de comunicação entre os adultos e as crianças, como andar sempre de mãos dadas. Ela acredita que qualquer ação dos pais nunca tem a intenção de prejudicar, mas é preciso atentar a outros riscos. “Mesmo com a ‘coleirinha’, há outros riscos, como quedas. O olhar dos pais tem sempre de estar nos filhos”.
Apesar das restrições, Eneida afirma que cada família deve definir o que é bom. Para ela, há pais que podem ter receio de usar a “coleirinha” para não expor o filho, mas na hora de dialogar fazem uma fala brava, que pode ser mais danosa do que qualquer outra ação. “O canal de diálogo deve ocorrer sempre pela via amorosa”, recomenda.
Para a psicóloga Cléia Oliveira Cunha a “coleirinha” pode ser uma solução dependendo da idade. Ela recomenda que o produto seja usado somente até os 5 anos. “A partir desta idade os filhos já devem dominar conceitos decorrentes da aprendizagem familiar e social sobre perigo e risco.”
Cléia conta que conheceu a “coleirinha” na década de 70, quando uma europeia da vizinhança usava o acessório nos filhos. Para ela, com a grande concentração urbana as “coleirinhas” podem ser uma alternativa a mais de segurança. A dona de casa Maria Terezinha Sousa teve quatro filhos e hoje ajuda a cuidar da sobrinha de 1 ano e 5 meses. Ela diz que usaria a “coleirinha” só para ir a lugares com grande circulação de pessoas, não no dia a dia.
A gerente Eloise Coelho, mãe de Iago, 1 ano e 4 meses, usaria só em último caso. Ela já viu crianças com “coleirinhas” e diz que as pessoas repreendem os pais porque associam com coleira para cachorro. Já a balconista Tassiane de Godoy não conhecia o produto e não o usaria. Grávida pela segunda vez, ela nunca precisou usar nada parecido com o filho de 6 anos.
Fonte: Gazeta do Povo