Helio Fernandes
Vice-prefeito de São Paulo, sem voto, sem urna, sem povo, Kassab se valeu do carreirismo de Serra. Candidato à Prefeitura com o terceiro orçamento da República, Serra garantiu na campanha: “Ficarei 48 meses no cargo”. Já se falava que a segunda candidatura municipal era trampolim para a conquista do governo do Estado.
Aconteceu, Serra ganhou e saiu, Kassab assumiu 33 meses, novamente sem voto, sem povo, sem urna. Pela modificação da Constituição por FHC e a inclusão da reeeleição na política brasileira, Serra e Kassab se acertaram muito bem.
Outro membro do PSDB, Geraldo Alckmin, já havia se beneficiado vastamente. Ficou três mandatos SEGUIDOS, se aproveitando da doença de Mario Covas, o eleito de verdade. E Alckmin é novamente governador, em 2014 decidirá: mais um mandato em São Paulo? Ou uma nova derrota para presidente? Como é moço, pode se reeeleger governador, deixar nova derrota presidencial para 2018.
Derrubado em 1945, com a eleição marcada e realizada para 33 dias depois (as datas, 29 de outubro e 2 de dezembro), não tendo havido qualquer restrição ou INELEGIBILIDADE, Vargas dominou tudo. Como a Constituição da época permitia, Vargas (e Prestes) se candidatou a deputado por 7 estados e a senador por um. Eleito para os dois cargos (Prestes no Distrito Federal se elegeu ao mesmo tempo deputado e senador), Vargas precisava optar. Lógico, os dois preferiram o Senado, mais importante e com mandato maior.
Getulio, aproveitando os 15 anos do Poder, criou dois partidos, o PSD e o PTB, lá em cima já falei nos objetivos, que se localizam principalmente em São Paulo. O principal Estado da Federação e logicamente o mais rico. Juscelino era simples prefeito de Belo Horizonte, se elegeu deputado, não tinha o menor interesse, precisava do mandato.
O primeiro e único presidente desse importantíssimo PSD, foi o genro de Vargas, Amaral Peixoto. O PSD ganhou a eleição de 1945 com a UDN em segundo lugar. O PTB ficou em terceiro, não havia outro, mas distante dos dois. Cresceria mais tarde.
A UDN, atacada duramente depois, teve enorme importância no que parecia o fim da ditadura. Tão prestigiada, que como o Partido Socialista (de João Mangabeira, Hermes Lima, Domingos Velas e outros) não teve tempo de se formar, organizaram dentro da UDN, o que se chamou de “Esquerda democrática”. Hermes Lima foi o deputado mais votado, com 13 mil votos, naquela época um assombro.
A Constituinte eleita em 1945 e começando a trabalhar em 1946, foi dominada pelo PSD. Formaram a “Comissão dos 37”, que fazia tudo. O presidente dessa Comissão, Nereu Ramos, ex-governador e interventor de Santa Catarina. O vice era Prado Kelly, jurista, depois ministro do Supremo. Mas Nereu era onipotente, autoritário e todo poderoso. Quando alguém discordava dele, dava um murro na mesa e explodia; “Maioria é maioria, e estamos conversados”.
A Constituinte de 1946 foi importante, promulgou em 7 meses e 19 dias a melhor Constituição deste país com tantas delas. De 1946 a 1950, período fascinante da política brasileira. Não apenas fascinante, mas de muito maior qualidade e representatividade do que o que viria depois e é a vida pública dominada pela mais frenética e odiosa corrupção.
Nesse período, só se tratou, lógico, da sucessão do Marechal Dutra, um dos piores Presidentes da República. Os outros foram 4 marechais (Floriano, Deodoro, Hermes da Fonseca, o citado Dutra) e apenas um civil, o inigualável, inimitável e indefensável Fernando Henrique Cardoso.
Nessa eleição de 1950, o PSD revelou e demonstrou toda a genialidade. Como a própria cúpula do PSD proclamava, o partido “jamais divergia e só tomavam decisões por unanimidade”. Não APOIARAM a candidatura Vargas, fundador do partido, presidido pelo genro. Lançaram o nome de Cristiano Machado, Vargas se candidatou pelo PTB.
O PSD votou em massa em Vargas, três consequências. 1 – Vargas voltou ao poder, facilmente. 2 – O PSD dominou o governo. 3 – Criou-se então o verbo “cristianizar” (do nome do candidato derrotado), recompensado pelo cargo de Embaixador do Brasil no Vaticano.
Juscelino ainda sem repercussão nacional, surpreendentemente se elegeu governador de Minas. Portanto, não podia ser citado por Kassab, a família de Juscelino com todo o direito de protestar. Mas Kassab não teve intenção, foi apenas falta de cultura, de conhecimento, de discernimento. E esse PSD não vai prosperar, não o elegerá coisa alguma. A não ser que pretenda ser deputado.
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PS – Essa é a realidade. No golpe de 1964, o PSD, ainda presidido por Amaral Peixoto (já almirante, ministro, governador, interventor, embaixador) teve enorme importância e influência na “eleição” de Castelo Branco.
PS2 – Negrão de Lima, um dos “cardeais” desse PSD (também com riquíssima biografia), levou Castelo Branco à casa de Joaquim Ramos (irmão de Nereu e 8 vezes deputado federal), para conversar com Amaral e Alckmin. No dia seguinte, levaria o próprio JK para conhecer Castelo.
PS3 – Sem perder tempo, Castelo garantiu a JK: “Presidente, quero manter a democracia e a eleição de 1965. Só posso garantir isso se for aprovado pelo Congresso. Como chefe do Governo Provisório, não conseguirei”.
PS4 – O que Juscelino poderia fazer? Não tinha a menor força, recomendou, seus correligionários se surpreenderam, mas votaram. Menos de três meses depois Juscelino estava cassado, por ATO de Castelo.
PS5 – Kassab está ganhando na notícia, é o máximo que pode conseguir. Procura se aproveitar da divisão dentro do PSDB, tentando jogar Serra contra Aécio. O cacife de Kassab é muito pequeno.