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sábado, maio 02, 2009

A CIDADE É A NOSSA REALIDADE



* Laerte Braga
O fator decisivo para a Revolução Francesa foram os burgos. As cidades. O esvaziamento do poder dos senhores feudal. A percepção da importância e da força das cidades. Não importa que as características do movimento tenham sido como derivado da própria palavra burgo, características burguesas. Foi o primeiro instante de afirmação da cidade no contexto de tempo e espaço, evidente, no mundo Ocidental. Na Grécia antiga, berço da nossa civilização, ou da forma de ser de nossa civilização, as cidades, a polis, abrigava a essência do que viria a ser a nação grega do ponto de vista histórico. Hoje temos consciência e se não ainda a adquirimos devemos buscá-la que a cidade é a realidade imediata de cada um de nós. O resto é ficção jurídica. Não existe Nação forte sem cidade forte. A palavra cidadão lembra cidade. O exercício da cidadania se dá na cidade. É na cidade que nascemos, que crescemos, nos formamos, constituímos nossas famílias, nascem nossos filhos, produzimos, vivemos e morremos.É nesse ciclo que continuamos a vida nos nossos descendentes. Os últimos anos, principalmente depois da queda da União Soviética, com a chamada Nova Ordem política e econômica, as cidades têm sido esvaziadas e perdido o seu poder. O poder de decidir sobre seus destinos. Educação, saúde, meio-ambiente, toda uma gama de problemas que dizem respeito direto ao cidadão e seus direitos por conta do Estado centralizado, do poder tecnológico em mãos de poucos e da obsessão de uma forma de progresso que, na prática, por não ser comum a todos os cidadãos acaba sendo privilégio de uns poucos. A ditadura militar retirou da cidade e dos cidadãos, lógico, direitos básicos e fundamentais que não foram repostos pela Constituição de 1988, à medida que os castelos políticos dos donatários das novas capitanias hereditárias (Sarney no Maranhão e no Amapá, por exemplo) não permitiram. Querem as cidades submetidas ao jugo dos seus interesses mesquinhos e coronelescos e para isso se valem do poder local, de cada cidade, para perpetuar uma situação de crescente e contínua injustiça. Usam todos os meios e a centralização permite que o próprio Judiciário seja instrumento de opressão. Não vamos encontrar saída e nem vamos legar aos nossos filhos um mundo justo e livre, se não formos capazes de resgatar a importância e o peso das nossas cidades como instrumentos de construção de uma Nação forte e livre. Daí a importância da comunicação local. Que foge às formas de espetáculo da sociedade em nossos dias e que nos impinge uma cultura padronizada e única como sendo verdade absoluta, em detrimento de valores essenciais de cada uma das nossas cidades. De sua história. De sua gente. Esse o desafio que enfrentamos. A comunicação. É partir da capacidade que vamos adquirir pela compreensão e percepção da história, que vamos a partir das cidades, de cada uma de nossas cidades, promover o reencontro com valores como liberdade, solidariedade, fraternidade, colocar cada tijolo de um mundo onde possamos respirar ar puro em todos os sentidos, falo inclusive do moral, do ético, tomando a ética como sendo a do bem. Não nos valem, em boa parte das vezes, as grandes chaminés, ou os grandes fornos do chamado progresso se não formos capazes de nos reconhecermos no outro, no vizinho, no amigo, no próprio adversário, mas na cidade. Na preservação de cada um canto e recanto, não importa quantos anos tenha a sua cidade, de cada passo dado em cada calçada, pisada por nossos ancestrais, em última instância, os que nos possibilitaram a vida. Recobrar o sentido cidadão da vida. Muitas vezes procuram desqualificar a cidade em nome do suposto progresso com adjetivos negativos. O maior de todos os adjetivos de uma cidade é sua identidade. E sua identidade é seu povo que forja. O resto? O resto é o resto. São as bandas, os coretos, as cadeiras na calçada no fim da tarde que fazem do ser humano, exatamente um ser humano e não um objeto consumidor. É o comadrio e compadrio no seu sentido de solidariedade e afeto. A mão estendida Essa é a nossa primeira luta. É na cidade que encontramos roseiras e frutos. E na cidade que colhemos as rosas e os frutos.


* Laerte Braga é jornalista e analista político nascido em Juiz de Fora, trabalhou no Estado de Minas e no Diário Mercantil.

Presenteou este Blog com a matéria acima, tendo em vista o mesmo haver atingido 200 mil visitações com muito suor, sangue e lágrmas.

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