Por: Carlos Chagas
BRASÍLIA - É bom prestar atenção. Em Ribeirão Pires, foram 22 fuzis e 98 pistolas. Em Caçapava, sete fuzis. Tudo roubado de estabelecimentos do Exército em menos de uma semana. Não se contam os ataques a sentinelas de quartéis, a postos e viaturas das Polícias Militares e a seguranças de bancos e empresas variadas, em todo o País, acontecimentos quase diários.
Por certo não está em andamento uma operação política subversiva, muito menos a preparação de alguma guerrilha urbana ou rural nos moldes dos anos setenta. Verifica-se, isto sim, uma ação do crime organizado ou desorganizado na busca de instrumentos de trabalho. O contrabando de armas já não basta, custa caro. Melhor para os bandidos apropriar-se gratuitamente de material moderno e, salvo engano, disponível.
Fica por conta dos serviços secretos militares apurar a origem e o destino dessas operações criminosas, mas para nós, aqui de fora, uma conclusão surge inevitável: se aumenta o roubo de fuzis e pistolas é porque aumentou a demanda pela sua utilização. Traduzindo: o crime alarga seu raio de ação. Breve as estatísticas revelarão número maior de assaltos, defesas mais eficazes dos territórios sob seu domínio, ampliação da insegurança no meio social.
Por que isso acontece? Elementar, também: porque cresce o número de indivíduos sem alternativa para sobreviver fora do crime. São minoria, é óbvio, mas começam a dar o sinal de sua presença. Numa palavra, trata-se o aumento da criminalidade de um dos mais perniciosos reflexos do desemprego. Nem todos os cidadãos postos na rua da amargura dispõem de coragem para viver da caridade pública ou estatal, recorrendo ao mísero salário-desemprego ou ao Bolsa-Família. Dirão os sociólogos haver inclinação para o crime, na maior parte dos que optam por ele, e é verdade. Só que o diagnóstico não evita a doença. Devem preparar-se o País e as autoridades para a multiplicação dos assaltos, latrocínios, sequestros, ocupações, arrastões, tráfico de drogas, rebeliões em penitenciárias e tudo o mais que se imagine no universo das atividades criminosas. Por conta das demissões em massa que se sucedem mesmo parecendo pequeno o percentual dos demitidos lançados na ilegalidade.
Adiantaria muito pouco dobrar o número dos efetivos de segurança, se isso pudesse acontecer, por conta de velho e inevitável axioma malthusiano: a polícia pode até crescer em proporção aritmética, mas os bandidos, em proporção geométrica.
Redução perigosa
Para ficar em assunto que comprova as dificuldades de nossas instituições ligadas à segurança, uma notícia lamentável: em 2008 o Exército incorporou 70 mil recrutas em seus quartéis. Este ano serão 48 mil, em todo o País. A redução deve-se à falta de recursos, nem valendo a pena falar que de uma década para cá tem sido antecipados os desligamentos. Não há dinheiro sequer para o rancho, durante o ano inteiro, sendo que em determinados estabelecimentos castrenses o expediente termina antes do almoço, para não ser servido.
A grande maioria dos jovens economicamente menos aquinhoados luta para servir nas Forças Armadas, buscando um pequeno salário, mas condições para seguir carreira ou aprender uma profissão. Tratam-se, Exército, Marinha e Aeronáutica, de escolas de vida e de cidadania, além de instituições imprescindíveis à nossa sobrevivência como nação. Com equipamento obsoleto, cortes orçamentários e abandono de sua própria matéria-prima, o soldado, onde iremos parar?
Festival de obscurantismo
Acentua um velho e querido amigo, cujos méritos jamais o fizeram afastar-se do Vaticano, que só é católico quem quer. Ninguém está obrigado a seguir os postulados, as lições e as instruções da cúpula da Igreja. Assim, em vez de protestar contra a excomunhão dos médicos pernambucanos, praticada pelo arcebispo de Olinda e Recife, deveriam seus críticos desligar-se da religião que lhes dá suporte espiritual e moral. Desapareceram a fogueira e a tortura para os heréticos que discordavam das interpretações e dos dogmas dos Papas. Todo indivíduo é livre para aceitar ou rejeitar a doutrina católica sem mais sofrer perseguições e penalidades, como no passado.
Tudo bem, trata-se de um raciocínio linear, mas não elide a indignação de quantos, pretendendo continuar católicos e fazer jus ao Reino dos Céus, discordam de certas posturas do comando eclesiástico mundial, considerando-as retrógradas e passíveis de revisões necessárias. A condenação da pílula e da camisinha, por exemplo, sem maiores considerações teológicas a respeito da finalidade do sexo exclusivamente como fator de reprodução.
Esta semana, além da excomunhão dos médicos, fomos surpreendidos com outra obscuridade, daquelas incapazes de contar com o apoio da maioria católica. Informou o Vaticano que a máquina de lavar roupa constituiu fator maior para a libertação da mulher do que a pílula e a camisinha.
Aqui para nós, andam estreitando tanto o caminho da Humanidade para a bem-aventurança que logo surgirá um novo Lutero a confundir o planeta.
"Abate-los amigavelmente
A Segunda Guerra Mundial havia terminado na véspera com a rendição incondicional do Japão e o comandante-em-chefe da Marinha Americana passou telegrama ao comandante da Quinta Frota, operando no Pacífico: "A partir de 22 de agosto cessarão todas as hostilidades, devendo os antigos adversários ser tratados como amigos. Poderão, no entanto, ocorrer atos isolados de agressão, em especial por parte dos "kamikases". Qualquer aeronave japonesa que se aproxime de nossas belonaves deverá ser abatida amigavelmente".
A história se conta a respeito das relações entre o presidente Lula e o PMDB. Está o partido em aliança com o governo, mas, pelas instruções do palácio do Planalto, qualquer pronunciamento dos líderes peemedebistas contra a candidatura de Dilma Rousseff deverá ser rebatido, e até abatido, com toda a força das estruturas governamentais...
Fonte: Tribuna da Imprensa
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