Brasil enfrenta riscos com a disparada dos preços, mas situação do País é mais confortável hoje graças ao álcool.
Leandro Modé
A escalada dos preços do petróleo já leva muitos analistas a considerar factível uma hipótese que algum tempo atrás pareceria risível: que o mundo esteja caminhando para um terceiro choque da commodity. Seu impacto na economia global não seria tão forte como na década de 1970, quando ocorreram os dois choques anteriores. Mas uma redução no ritmo de crescimento é dada como certa. Se serve de consolo, o Brasil, segundo especialistas, está melhor preparado para enfrentar o cenário de águas turbulentas.Na semana passada, o barril do tipo leve (WTI) para entrega em junho bateu recorde todos os dias na Bolsa Mercantil de Nova York (Nymex, na sigla em inglês). Ao final da sexta-feira, valia US$ 125,96, o maior valor da história, mesmo em termos reais, ou seja, descontada a inflação. A alta na semana foi de 8,3%. Em 2008, chega a 33% e, nos últimos 12 meses, a 81%. Já há até quem diga que a disparada pode ir mais longe. Na terça-feira, um relatório do Banco Goldman Sachs chacoalhou o mercado ao prever que a cotação pode bater nos US$ 200. "A chance de um barril entre US$ 150 e US$ 200 nos próximos 6 a 24 meses parece estar aumentando", afirmou um texto assinado pela equipe de analistas de petróleo. Os investidores prestaram atenção ao alarme porque esse mesmo time publicou um relatório em 2005 segundo o qual as cotações podiam alcançar US$ 105 nos anos seguintes - o que ocorreu. "Se estamos ou não vivendo o terceiro choque do petróleo depende da forma como conceituamos esse movimento", pondera o professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e diretor do Centro Brasileiro de Infra-estrutura (CBIE), Adriano Pires. " Se considerarmos que em 1973 e 1979 os preços dispararam de um dia para o outro por causa da falta de oferta, a resposta é não", diz. "Mas, se interpretarmos esse nível de preço como conseqüência de oferta reprimida e da falta de novos investimentos em produção, seria um choque parecido com o de 1979."Ministro da Fazenda na época do primeiro choque, o professor emérito da Universidade de São Paulo (USP) e ex-deputado federal, Delfim Netto é menos cauteloso. "Provavelmente, sim", diz, em resposta à questão sobre o terceiro choque. Em uma economia global que já sofre os efeitos da recessão nos Estados Unidos e da desaceleração na Europa e no Japão, a disparada do petróleo é uma má notícia. No entanto, os especialistas não acreditam em crises mundiais como as que se sucederam aos choques das décadas de 70. "Haverá alguma desaceleração, mas nada dramático", avalia o professor da USP Simão Silber. "O mundo, que estava crescendo na faixa de 5% ao ano, vai se expandir 3,5%." O recuo deve-se ao provável aumento das taxas de juros globais, como, aliás, já ocorreu no Chile e Austrália, entre outros países. Em todos, a inflação subiu, em parte por causa dos preços da energia. "É a resposta clássica quando os preços aceleram", diz Marcelo Moura, professor do Ibmec São Paulo. O Brasil hoje está em situação totalmente distinta se comparado aos anos 70: tem reservas próximas de US$ 200 bilhões e é quase auto-suficiente na produção de petróleo, entre outras vantagens. Em compensação, como é mais integrado ao resto do mundo, também deve diminuir o ritmo de expansão.
Fonte: Estadão
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