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sábado, junho 04, 2022

O Estado não é inimigo da cidadania




Sob a égide de Bolsonaro, ele está se transformando num inimigo feroz da igualdade num país marcado por múltiplas assimetrias desde a escravidão

Por Fernando Luiz Abrucio* (foto)

O Estado deve servir para impulsionar e proteger a cidadania. Essa máxima política foi construída ao longo de séculos na Europa e nos Estados Unidos e só muito recentemente foi incorporada à lógica política brasileira, a partir de 1988 com a chamada (não por acaso) Constituição cidadã. Nos últimos 30 anos essa ideia evoluiu no Brasil e, mesmo com percalços e lacunas, foi a principal bússola do debate público. E aqui entra mais um ineditismo negativo do governo Bolsonaro: sua visão sobre o papel do Estado o torna inimigo da cidadania democrática.

O conceito de cidadão supõe a busca da igualdade como norteadora de todas as dimensões públicas da vida social. É preciso garantir direitos básicos a todos e criar condições para que cada um possa usufruir o máximo possível de sua cidadania. Trata-se de uma ideia com múltiplos pais: republicanos, liberais, democratas, socialistas, social-democratas e ecologistas. Há consensos e nuances nas visões desses grupos, mas todos concordam que a reprodução cotidiana da desigualdade na esfera pública é um mal a ser combatido.

O bolsonarismo é inimigo da ideia de igualdade cidadã. Sua proposta é de manter a desigualdade prévia de cada um, a partir da qual, ilusoriamente, se poderia exercer uma liberdade quase irrestrita, com exceção dos limites impostos pelo exercício do poder do líder maior, o mito - isto é, o presidente da República.

Na via inversa, o igualitarismo democrático é uma construção contínua de direitos e capacidades, o que exige uma ação efetiva do Estado e, concomitantemente, o seu controle. Bolsonaro propõe exatamente o contrário: que o governo seja frágil nas políticas que criam oportunidades e a possibilidade do exercício da cidadania, ao passo que o aparato estatal deve ser forte na garantia das desigualdades prévias e no exercício do poder repressivo, tornando-o incontrolável pela sociedade.

Vários acontecimentos recentes, derivados de ações bolsonaristas ou impulsionadas por seu ideário difundido nos últimos anos, mostraram como o Estado, sob a égide de Bolsonaro, está se transformando num inimigo feroz da igualdade num país marcado por múltiplas assimetrias desde a escravidão. Pode-se dividir tais episódios em três elementos estratégicos do papel do Estado frente à cidadania.

O primeiro é sua capacidade de usar os direitos para expandir capacidades de indivíduos e comunidades. O segundo é sua função de garantir a segurança e a liberdade de todos, indiscriminadamente, para que os cidadãos não sejam atingidos nem pela guerra de todos contra todos - a anomia social - e tampouco pelo poder desmesurado das forças estatais. Por fim, Estado democrático é aquele que contém instrumentos de controle sobre si, sejam externos, advindos da sociedade, sejam internos, advindos das instituições.

O igualitarismo não é uma obra pronta em nenhum país do mundo. Em todos, é preciso que haja direitos e que estes sejam alimentados por políticas públicas capazes de criar capacidades para exercer a autonomia individual e a vida comunitária.

Quando o governo Bolsonaro aprova na Câmara federal uma lei muito ampla de homeschooling, que se torna uma possibilidade para todos, e não uma situação muito excepcional para aqueles que teriam dificuldades de saúde ou de locomoção para usufruírem de um ano escolar regular, o que está sendo feito é reduzir a efetividade do Estado em construir oportunidades para os mais pobres e vulneráveis. Ou seja, para a grande maioria dos 48 milhões de estudantes da educação básica, os mesmos que o MEC bolsonarista abandonou na pandemia de covid-19.

O projeto de homeschooling bolsonarista, para além dos moralismos hipócritas que o sustentam, tem como principal consequência a perpetuação das desigualdades no Brasil. Quantos mais alunos pobres puderem fazer educação domiciliar, e certamente serão incentivados pelos bolsonaristas e algumas lideranças evangélicas que vão enriquecer vendendo sistemas de ensino feitos por semialfabetizados, mais terão reduzidas suas possibilidades de ascensão social.

Mais do que isso: ao não criar as condições para que todos possam ter escolas públicas de qualidade, que poderiam ser substituídas por um simulacro de ensino, Bolsonaro não só se vinga da ciência e dos que pensam autonomamente, como também embarga a chance daqueles que não têm acesso ao saber e ideias diferentes de mundo. Assim, o homeschooling causará um duplo empobrecimento: da renda futura dessas pessoas e do universo cultural ao qual terão acesso.

Cabe recordar que, para os gregos, a cidadania era uma forma de ampliar a capacidade de cada um e da comunidade sonharem. O bolsonarismo quer alimentar a ignorância para que todos se acomodem no status quo vigente, em suas misérias cotidianas, à espera de um salvador secular ou religioso, sem romper com as diferenças sociais históricas que determinam, no fundo, como o Estado pode abordar pessoas na favela ou no Leblon.

Se o governo Bolsonaro quisesse ampliar as capacidades de todos serem cidadãos, teria priorizado a educação, cujo ministério teve um recorde de ministros e que prefere servir ao clientelismo do orçamento secreto. Mais especificamente, se o bolsonarismo quisesse ter um modelo educacional para mudar a situação das pessoas mais pobres e de seus descendentes, estaria investindo em massa em políticas de primeira infância. A literatura internacional está repleta de evidências científicas interdisciplinares de que programas públicos de apoio e intervenção intersetorial junto aos bebês e crianças até os seis anos de idade constituem o motor mais potente de mudança social.

O presidente deveria pegar os R$ 35 bilhões das emendas parlamentares, ou pelo menos os quase R$ 20 bilhões do dinheiro federal que hoje compram de forma secreta tratores e caminhões de lixo para investir no futuro do país. Vale ressaltar que as políticas de primeira infância são feitas em diálogo e parceria com as famílias, mas dependem de uma intervenção constante do Estado em todos os momentos do desenvolvimento da criança - aliás, começando já na gravidez da mãe. Não será trancando as famílias em suas próprias casas, assombradas por líderes demagógicos, que os pobres verão seus filhos numa situação melhor no futuro.

O problema para o bolsonarismo é que desenvolver políticas públicas complexas significa investir em especialistas e servidores públicos que se movem pela ciência e pelo longo prazo. Não é por outra razão que Bolsonaro politizou gigantescamente a administração pública federal, enchendo-a de grupos que o obedecem fielmente, como milhares de apaniguados incompetentes, além de militares ocupando postos civis para os quais não têm preparação.

Para usar o Estado no desenvolvimento da cidadania, ele tem de ser o oposto do que quer o atual presidente: competente, autônomo frente a desmandos e controlável pela sociedade.

O modelo estatal bolsonarista tem uma segunda frente contra a cidadania: ele não busca garantir os direitos iguais dos cidadãos em relação à lei e sua aplicação pelas forças de segurança. O caso de Genivaldo Santos, torturado e morto na semana passada pela Polícia Rodoviária Federal em Sergipe, revela o modelo estatal que Bolsonaro defende.

A vítima foi tratada como culpado desde o início, não lhe sobrando nenhum momento de defesa da sua condição de cidadão. Sua posição social explica a postura dos policiais: negro, pobre e com problemas de saúde mental, Genivaldo seria, para o bolsonarismo, um desigual por natureza e assim deverá ser tratado pelo aparato estatal, assim como indígenas, moradores de rua, pretos, travestis e todos os que não se encaixam no perfil do “homem de bem” bolsonarista.

No fundo, Bolsonaro defende um Leviatã às avessas. O Estado representado pelo monstro com vários braços proposto por Thomas Hobbes tinha como objetivo resguardar a vida e a segurança de todos, sem exceção. Isso seria feito por contrato com participação integral da sociedade, que só aceitava repassar tanto poder à soberania estatal porque ela seria justa e equânime. O bolsonarismo quer ter o monstro com seu poder bélico em suas mãos, mas para enfraquecer a ideia de igualdade, e não para garanti-la.

O último elemento da cidadania democrática refutado pelo bolsonarismo é a ideia de accountability, isto é, de controle público. Para que haja uma sociedade com cidadãos autônomos e respeitados, é preciso, a um só tempo, ampliar e demarcar bem o poder estatal. É trágico como Bolsonaro não quer ampliar o Estado para construir oportunidades e capacidades a todos, mas quer um aparato estatal autocrático e sem fiscalização, quer seja da sociedade, quer seja das instituições. Quando o atual presidente busca enfraquecer o STF ou a Federação, ele se torna um autocrata inimigo da cidadania.

O sonho bolsonarista é duplo. De um lado, uma desresponsabilização do Estado com os mais pobres e sua desregulamentação frente a garimpeiros ilegais, milicianos e motoristas brancos da classe média para cima que andam em suas motos sem capacetes. De outro, o Estado forte será destinado à repressão dos eternos condenados à desigualdade, como também poderá ser usado para ameaçar as instituições que tentam limitar o poder presidencial. Bolsonaro quer se reeleger para que a cidadania inventada pela Constituição de 1988 tenha sua morte decretada no Brasil.

*Fernando Abrucio, doutor em ciência política pela USP e professor da Fundação Getulio Vargas.

Valor Econômico

Ministros do STF podem revisar decisões que livraram deputados bolsonaristas de cassação




A decisão do ministro Kassio Nunes Marques de suspender a cassação dos mandatos de dois deputados que apoiam o presidente Jair Bolsonaro desencadeou uma crise interna no Supremo Tribunal Federal (STF). Ministros cobram o colega para que leve os casos ao plenário, onde teriam chances de reverter os despachos individuais - foram concedidas duas liminares. O relator das ações, contudo, tem se mostrado irredutível nas escolhas que fez. As condenações tinham sido aprovadas por ampla maioria no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Em transmissão nas suas redes sociais na noite de quinta-feira, 2, Bolsonaro elogiou a decisão de Nunes Marques. Para o presidente, o TSE toma "medidas arbitrárias". Ele defendeu o deputado estadual Fernando Francischini (União Brasil-PR) que havia usado redes sociais para apontar supostas fraudes, não comprovadas, nas urnas eletrônicas. "O cara ia apertar o 17 e aparecia o 13. Ninguém falava o contrário, que ia apertar o 13 e aparecia o 17. Coisas que acontecem em larga escala e TSE não se explicou no tocante a isso. Faltavam 10 minutos e depois o TSE resolveu cassar mandato. Não precisa falar que os três do STF votaram pela cassação", disse Bolsonaro na live.

Segundo apurou o Estadão, Nunes Marques teria dito a interlocutores que está descartado o envio dos processos ao plenário virtual ou ao gabinete do presidente do Supremo, ministro Luiz Fux, para que sejam discutidos presencialmente. As tutelas provisórias antecedentes (TPA) - tipo de recurso apresentado pelos deputados bolsonaristas - não preveem a necessidade de referendo pelo resto do colegiado. O ministro, no entanto, abriu a possibilidade de as ações serem discutidas na 2ª Turma da Corte, da qual ele é presidente. Para isso, seria necessário que alguma das partes apresentasse recurso.

Caberia, portanto, ao procurador-geral da República, Augusto Aras, também aliado do presidente Jair Bolsonaro (PL), contestar a decisão de Nunes Marques e pedir a revisão do processo na Turma. Quando o deputado Francischini foi condenado em outubro do ano passado por veicular notícias falsas contra as urnas, o Ministério Público Eleitoral (MPE), comandado por Aras, argumentou que o deputado "extrapolou o uso normal de ferramenta virtual".

Caso o recurso contra Francischini seja apresentado e a ação venha a ser discutida na 2ª Turma, apenas um dos três ministros do Supremo que participaram do julgamento do parlamentar participará da revisão da decisão de Nunes Marques. O atual presidente do TSE, Edson Fachin, é o único integrante da turma que esteve envolvido na votação. Ele votou a favor da cassação do deputado, assim como os ministros Luís Roberto Barroso e Alexandre de Moraes, que integram a 1ª turma.

Ex-deputado federal, Francischini foi o mais votado para deputado estadual em 2018 no Paraná. Teve 428 mil votos. No dia da votação, ele fez uma transmissão ao vivo em rede social dizendo que urnas eletrônicas estavam fraudadas porque supostamente não registravam votos em Bolsonaro. A denúncia se mostrou falsa. O episódio motivou o processo eleitoral e a cassação pelo TSE.

A decisão de Nunes Marques foi comemorada pelos seguidores de Jair Bolsonaro. Seu filho, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) usou as redes sociais para celebrar. Francischini agradeceu.

No caso do deputado Valdevan Noventa (PL-SE), que perdeu o mandato por abuso de poder econômico e compra de votos em 2018, apenas dois ministros da 2ª Turma participaram do julgamento: Edson Fachin e Ricardo Lewandowski. Com a ação fora do plenário, Alexandre de Moraes ficaria novamente impedido de manifestar sua opinião sobre o parlamentar que ajudou a condenar. A cassação de Valdevan foi por unanimidade no TSE.

A 2ª Turma é composta pelo presidente Kassio Nunes Marques e os ministros Edson Fachin, Ricardo Lewandowski, Gilmar Mendes e André Mendonça, também indicado por Bolsonaro ao Supremo. Dentre os integrantes do colegiado, apenas o decano Gilmar Mendes não integra a atual composição do TSE. Os magistrados indicados pelo atual presidente, no entanto, atuam como substitutos na Corte eleitoral.

Em março deste ano, o TSE confirmou decisão do Tribunal Regional Eleitoral de Sergipe que havia cassado o mandato de Valdevan Noventa. Segundo o processo, sua campanha recebeu uma série de doações financeiras por meio de um esquema de falsos contribuintes. Moradores dos municípios de Estância e Arauá, em Sergipe, tiveram os nomes usados para simular doações ao candidato. As contas de campanha registraram doações em série no valor de R$ 1.050. Os supostos doadores não tinham recursos para fazer esses repasses.

Estadão / Dinheiro Rural

Lula chama Bolsonaro de ‘vagal do República’: Média de 3,6 horas trabalhadas por dia




O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva chamou o presidente Jair Bolsonaro (PL) de "vagal da República" em publicação no Twitter nesta sexta-feira, 3. Ao postar uma ilustração do chefe do Executivo pilotando uma moto aquática, o petista disse que "não sobra muito tempo para Bolsonaro trabalhar" porque ele se dedica a atividades que não são relativas ao mandato.

"Média de 3,6 horas trabalhadas por dia e dezenas de folgas autoconcedidas. Entre jogos de futebol, viagens para lazer e passeios de jetski, não sobra muito tempo para Bolsonaro trabalhar", disse Lula ao comentar uma matéria do jornal Folha de S.Paulo que fala sobre o lazer do presidente.

A imagem ainda traz termos como fome, desemprego, desabastecimento, inflação e carestia para acusar Bolsonaro de não se concentrar nos reais problemas do País.

Estadão / Dinheiro Rural

Após três décadas, Justiça manda Incra pagar indenização de R$ 42,6 milhões a fazendeiros




A Justiça Federal condenou o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) a pagar uma indenização de R$ 42,6 milhões a dois fazendeiros desapropriados em Mato Grosso do Sul.

Em 1985, o órgão desapropriou as fazendas Novo Horizonte (foto) e Escondido, com área total de 16.580,37 hectares, para assentar trabalhadores rurais sem terra. O assentamento se transformou no município de Novo Horizonte do Sul, que fica a 350 quilômetros de Campo Grande.

O processo dura mais de três décadas. Em paralelo, o Incra move uma ação rescisória para tentar cancelar a ordem de pagamento. O juiz Moises Anderson Costa Rodrigues da Silva, da 1ª Vara Federal de Dourados, decidiu não esperar o desfecho do segundo processo, justamente por causa da demora na resolução do caso, e já mandou o instituto pagar os fazendeiros.

"Há que se atentar para o fato de que os desapropriados foram desapossados dos bens há anos sem o recebimento de qualquer parcela da indenização", escreveu. "Ninguém em nenhum país do mundo compra um imóvel com valor a ser apurado daqui a vinte ou trinta anos", acrescentou.

O processo se arrastou por anos em meio a diversos recursos e perícias descartadas. O primeiro laudo foi abandonado sob suspeita de fraude. O perito teria jogado para cima o valor a ser pago ao contar vegetação de pastagem e árvores de madeira nobre em uma mesma área. Uma segunda análise também foi considerada desproporcional, porque teria feito os cálculos com base em avaliações de mercado atuais, o que voltou a atrasar a definição do montante indenizatório.

O juiz decidiu usar uma avaliação feita pelo Banco do Brasil, menos de um mês antes da desapropriação, para concessão de um empréstimo a um dos fazendeiros, que na época deu a propriedade como garantia hipotecária. O magistrado apontou que, "passado tanto tempo", há "extrema dificuldade" para definir o valor de mercado do bem no momento da imissão na posse.

"A recomendação de realização de perícia para aferir valor de mercado justifica-se pelo alto grau de fidedignidade do resultado, mas, nesse caso, a regra da metodologia científica não se sobressai em relação à prova documental, que possui melhor aptidão para estimar o valor do bem expropriado. Isso porque é bem provável que a declaração do desapropriado a respeito do valor de mercado da Fazenda Horizonte em 1985 esteja mais alinhada à realidade da época do que o resultado de um laudo pericial confeccionado após 30 anos", escreveu.

COM A PALAVRA, O INCRA

A reportagem entrou em contato com a assessoria do Incra, mas não teve retorno até o fechamento do texto. O espaço está aberto para manifestação.

Estadão / Dinheiro Rural

Jair Bolsonaro convoca apoiadores à guerra contra "ladrões da liberdade"

 




Jair Bolsonaro convoca apoiadores

Presidente Bolsonaro também reforçou pautas ideológicas como aborto, ideologia de gênero e armamento

Por Ingrid Soares 

O presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou a atacar indiretamente ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Durante discurso em Umuarama (PR) nesta sexta-feira (3/6), o chefe do Executivo falou em problemas internos no Brasil e chamou apoiadores à guerra contra o que chamou de “ladrões que querem roubar nossa liberdade". A declaração ocorreu durante visita a trecho da Estrada Boiadeira (BR-487).

"Como se não bastassem os problemas no país, nós todos aqui temos problemas internos no Brasil. Hoje, temos não mais os ladrões de dinheiro do passado. Surgiu uma nova classe de ladrão, que são aqueles que querem roubar a nossa liberdade. Eu peço que vocês cada vez mais se interessem por esse assunto. Se precisar, iremos à guerra. Mas eu quero um povo ao meu lado consciente do que está fazendo e de por quem está lutando”, bradou.

Bolsonaro disse ainda que cabe às Forças Armadas e à população defender o país. “Temos que nos informar e nos preparar”, afirmou.

“Nós todos aqui não podemos chegar lá na frente 2023, 24, 25, ver a situação que se encontra o Brasil e falar: 'O que nós não fizemos em 2022 para que nossa Pátria chegasse à situação que se encontra?' Todos nós temos um compromisso com o nosso Brasil, não apenas os militares que fizeram o juramento de defender a Pátria com sacrifício da própria vida. Todos nós temos que nos informar e nos preparar. Porque não podemos deixar que o Brasil siga o caminho de alguns outros países aqui na América do Sul”, afirmou, citando a Venezuela e a Argentina.

“Creio que vocês bem sabem do que estou falando. É a verdade. Até pouco tempo, o povo brasileiro não estava acostumado a ouvir a verdade. Eu não digo o que vocês querem ouvir, eu digo o que vocês devem ouvir”, continuou, sendo ovacionado por apoiadores.

Daniel Silveira

Bolsonaro voltou a defender o direito à liberdade de expressão e lembrou o indulto concedido ao deputado Daniel Silveira.

“Nós defendemos, além do direito de expressão, o direito de ir e vir. Não posso admitir a prisão de um parlamentar por causa de algo que eu não gostaria de ouvir. A liberdade de expressão ou nós temos ou não temos.”

Pautas ideológicas

O presidente também reforçou pautas ideológicas como aborto, ideologia de gênero e armamento.

“Começou, essa semana, a campanha de desarmamento ao norte no Canadá e vocês sabem que a arma de fogo é garantia para sobrevivência de suas famílias e questão de segurança nacional. Povo armado jamais será escravizado. Poucos na Praça dos Três Poderes podem muito, mas nenhum deles pode tudo. A nossa liberdade não tem preço e parece que alguns não querem entender. A liberdade é mais importante que a própria vida”, concluiu.

No final da tarde, a expectativa é de que Bolsonaro desembarque em Foz do Iguaçu, onde visitará as obras da Ponte da Integração Brasil-Paraguai.

Correio Braziliense / Estado de Minas

A questão social do país




Seria importante que todas as políticas sociais, tirando as setoriais, estivessem unificadas em um único ministério

Por Fabio Giambiagi (foto)

Vamos hoje para nosso nono encontro nesta “jornada de debates” com vistas ao programa de governo de quem conduzir o país de 2023 em diante. Uma das lendas urbanas existentes em nossa política diz respeito à interpretação de que o governo seria uma instituição que só trabalharia para “os privilegiados”. Trata-se de um completo equívoco.

Embora seja claramente verdadeiro que o Brasil gasta muito com grupos populacionais numericamente modestos — e o maior exemplo disso é a previdência dos servidores públicos — o fato é que, após a redemocratização de 1985, muitos grupos até então alijados da disputa distributiva passaram, por assim dizer, a fazer parte da mesa do jantar. Tornamo-nos — e isso é bom — uma sociedade, nesse sentido, mais democrática.

Infelizmente, esse esforço em favor de uma maior igualdade não foi acompanhado de uma organização econômica voltada para acelerar o ritmo do progresso. O resultado é um Estado que gasta muito e, ao mesmo tempo, deixa todos os grupos insatisfeitos, porque obviamente é impossível ficar feliz com um país que encolhe, como encolheu a renda per capita do país entre 2010 e 2021.

O fato, de qualquer forma, é que não é verdade que não tenhamos políticas sociais. Temos, a rigor — e muitas. O problema é que elas não são integradas entre si. Observe-se o que aconteceu em 2020: a despesa do Bolsa Família caiu.

Por quê? Porque o país ficou mais rico e passou a ter menos famílias pobres? Não: simplesmente porque muitas famílias que antes recebiam o Bolsa Família passaram, durante vários meses, a receber o “coronavoucher”. Havia ali dois guichês superpostos oferecendo recursos.

Tome-se outro caso: a confusão entre Loas e aposentadorias básicas. O leitor já se perguntou qual é o sentido de alguém que ganha um salário mínimo contribuir por 15 ou 20 anos para o INSS se, aos 65 anos, na mesma idade, receberá o mesmo valor que receberia pelo Loas sem ter contribuído uma única vez?

Não é de estranhar, portanto, que o percentual de contribuintes do sistema na faixa de 1 a 2 salários mínimos seja significativamente inferior ao das demais faixas de renda. Esse é, tipicamente, um caso em que um programa social deveria falar com o outro.

Os exemplos abundam, enfim. Por isso, na reflexão sobre a gestão de governo de 2023/2026, cabe um olhar especial à (re)organização ministerial. Seria importante que todas as políticas sociais, tirando as setoriais — educação, saúde e talvez segurança pública — do futuro governo estejam unificadas num único ministério, que o natural é que se chame de Políticas Sociais.

Assim, Auxílio Brasil, Loas, benefícios previdenciários, seguro desemprego, etc., estariam sob o mesmo guarda-chuva.

Cabe ressaltar, porém, que essa pasta deveria ser da chamada “cota pessoal” do presidente da República, para ser conduzida por alguém com zelo técnico, ainda que com bom traquejo político. Por quê? Porque se um político convencional botar a mão nesse ervanário, o risco de começarem a ser praticadas todo tipo de distorções é enorme.

Essa pasta tem que ter um exército de gente qualificada avaliando políticas, comparando incentivos, pensando em mecanismos de integração de excluídos ao mercado de trabalho, dialogando com o Banco Mundial para organizar seminários, aprendendo de outras experiências, conversando com economistas e autoridades de outros países, pensando, pensando, pensando.

A última coisa que o país precisa é que o ministro dessa pasta tenha que acomodar num cargo o ex-senador Fulano ou o filho do deputado Sicrano para atender aos interesses do candidato X ou tentar aproximar o partido Y da base aliada. Nesse caso, teremos uma ideia natimorta.

São recursos expressivos. Se às aposentadorias do INSS adicionarmos Auxílio Brasil, FAT e Loas, por exemplo, estaremos falando de algo em torno de 11% do PIB. É muito dinheiro. Exige cuidados redobrados. Se a ideia for levada à frente, porém, teremos dado um passo chave para a avaliação técnica das políticas.

O Globo

Boi da grana preta




Financiamentos de sertanejos e outros artistas mostram que a política cultural de bolsonaristas e petistas é basicamente a mesma: faturar com dinheiro público. 

Por Guilherme Mendes e Wilson Lima 

Em 2016, Michel Temer decidiu acabar com o Ministério da Cultura (MinC), o que provocou revolta no meio cultural. Ele logo mudou de ideia diante da repercussão negativa — artistas e produtores chegaram a ocupar as dependências do (MinC) —, mas seus apoiadores levaram a briga adiante. Meses depois, foi aberta a CPI da Lei Rouanet, que concluiu com alguns poucos pedidos de indiciamento e sugestões para melhorar a fiscalização de projetos beneficiados com recursos oriundos de renúncia fiscal, que totalizavam até ali 1,2 bilhão de reais. O material da CPI serviu ao discurso de Jair Bolsonaro contra a esquerda, a maior beneficiária do incentivo — e, ao ser eleito, o presidente anunciou a extinção da pasta. Não houve recuo. Ela foi substituída por uma Secretaria Especial de Cultura, ligada ao Ministério do Turismo. Desde o início do governo, passaram pela secretaria Henrique Pires, que saiu atirando, por causa da suspensão de projetos LGBT para TVs públicas, Roberto Alvim, que plagiou um discurso do chefe nazista Joseph Goebbels, para explicar a sua concepção de cultura, e a atriz Regina Duarte, que dispensa apresentações e comentários. Ela foi substituída pelo, digamos, ator Mário Frias.

De lá para cá, também foi aumentando o esperneio e o ranger de dentes da chamada “turma do Leblon“, com a produtora Paula Lavigne, mulher do cantor Caetano Veloso, liderando o movimento antibolsonarista na área cultural. Esse movimento aderiu imediatamente à campanha de Lula e vários artistas passaram a se manifestar pela volta do petista ao poder. No mês passado, até regravaram o jingle “Lula lá“, exibido no lançamento de sua pré-candidatura. À repulsa a Jair Bolsonaro e ao atávico esquerdismo dos artistas da MPB, da TV, do cinema e do teatro brasileiros, juntou-se a esperança de que voltem, com Lula, os tempos das vacas gordas para shows, filmes e espetáculos, bancadas com dinheiro de renúncia fiscal, dentro do âmbito da Lei Rouanet. Dinheiro público, portanto, visto que as empresas trocam parte do que é devido ao Fisco por financiamento a artistas, com a vantagem de que os financiadores podem fazer marketing das suas marcas.

A Lei Rouanet foi pensada para impulsionar artistas sem maiores recursos ou acesso a crédito, mas se tornou muito mais um instrumento para financiar nomes consagrados, que não precisariam de dinheiro público para exercer as suas atividades. Como é natural, os departamentos de marketing das empresas preferem famosos a desconhecidos — famosos que também contam com produtores com uma ótima rede de contatos no meio empresarial e que, até Jair Bolsonaro ser eleito, tinham amizades também no meio oficial, para facilitar a aprovação dos projetos movidos a renúncia fiscal. Do ponto de vista racional, faz sentido que o Estado ajude a patrocinar, direta ou indiretamente iniciativas culturais, visto que a arte é motor de desenvolvimento de uma sociedade, em vários planos. O cinema europeu, por exemplo, não existiria sem patrocínio estatal. O problema é a distorção que está ocorrendo no Brasil, desde que a Lei Rouanet entrou em vigor, no início dos anos 1990, no governo de Fernando Collor — e da distorção fazem parte desvios que deveriam ser melhor apurados. Houve, por exemplo, o caso de uma atriz já falecida que comprou um apartamento no Rio de Janeiro com dinheiro de renúncia fiscal, e não era incomum ouvir de produtores interessados em financiar projetos artísticos, via Lei Rouanet, que estava na hora de ir a Brasília para “bater umas carteiras“.

Mais uma vez, contudo, o bolsonarismo apropriou-se indevidamente de uma boa bandeira — a de pôr ordem na aplicação da Lei Rouanet —, para embalar tudo na sua alopragem ideológica, com personagens saídos de um circo macabro. Abriu, assim, o flanco para que os seus adversários do meio cultural atacassem o governo com carga pesada e sem medo de ser felizes apoiadores de Lula.

A reação à campanha lulista veio dos cantores sertanejos, a maioria antipetista. Em shows recentes, eles resgataram o discurso contra a “mamata da Rouanet“, mas acabaram levando um coice. Descortinou-se um milionário sistema de contratações por prefeituras espalhadas pelo país. Shows com artistas populares são frequentemente usados como estratégia de marketing por prefeitos que buscam visibilidade e os sertanejos têm cobrado alto para subir no palanque, quer dizer, no palco. O pretexto dos prefeitos é o de movimentar a economia local, mas o que eles movimentam mesmo são as contas bancárias das atrações. Alguns cachês ultrapassam 1 milhão de reais. A prefeitura ainda arca com despesas de hospedagem e transporte do artista e da sua equipe. É a verdadeira farra do boi da grana preta.

Mateus e Cristiano: jingle para Bolsonaro

Zé Neto, que puxou a fila de campanha bolsonarista, cobrou 400 mil reais no show que fez há poucas semanas em Sorriso (MT), às expensas da prefeitura da cidade. “Estamos aqui em Sorriso, no Mato Grosso, um dos estados que sustentaram o Brasil durante a pandemia. Nós somos artistas e não dependemos de Lei Rouanet, nosso cachê quem paga é o povo. A gente não precisa fazer tatuagem no toba para mostrar se a gente está bem ou não. A gente simplesmente vem aqui e canta e o Brasil inteiro canta com a gente”, disse, sorrindo sem corar. A prefeitura de Extrema, no sul de Minas Gerais, gastou 550 mil reais pela apresentação de Zé Neto e Cristiano na festa do peão marcada para outubro. O campeão Gusttavo Lima cobrou 1,2 milhão de reais para cantar em Conceição de Mato Dentro (MG) e outro 1 milhão de reais em Magé (RJ). O contrato com a prefeitura de São Luiz (RR) ficou em 800 mil reais. Lima também fechou por 850 mil reais com a prefeitura de Santa Terezinha do Itaipu (PR) — o recurso sairá dos royalties pagos pela hidrelétrica binacional — e por 704 mil reais com a administração de Teolândia, na Bahia, onde se apresentará na Festa da Banana. O Antagonista contabilizou ao todo 5,3 milhões de reais em contratos firmados pela produtora de Lima com prefeituras. Vários entraram na mira das promotorias estaduais. Em live, o artista foi às lágrimas e reclamou de “perseguição“.

Nomeados “embaixadores do turismo” pelo atual governo, Bruno e Marrone também foram favorecidos com shows contratados por prefeituras interioranas. Mozarlândia, uma cidade de 15 mil habitantes no norte de Goiás, topou pagar 300 mil reais para a dupla. A prefeitura de Lagarto, distante 80 quilômetros de Aracajú, contratou o show por 420 mil reais. Outra dupla bolsonarista que criticou a Lei Rouanet e foi igualmente beneficiada com contratos públicos é formada por Henrique e Juliano. Eles também se apresentaram em Santa Terezinha do Itaipu. Valor do cachê: 663,5 mil reais — montante 35,4% maior que o pago pela mesma prefeitura em 2020. Na época, o município contratou o show, mas ele foi cancelado em virtude da pandemia.

Para surpresa de ninguém, além de contratos com prefeituras, os sertanejos também bicaram a Lei Rouanet que tanto criticam. Crusoé apurou que a dupla Mateus e Cristiano, que compôs e cantou um jingle para Bolsonaro durante a visita de Elon Musk, captou 199 mil reais via Lei Rouanet, para a gravação de um DVD ao vivo da dupla, em 2020 — na época, a Secretaria Especial de Cultura já era comandada por Mário Frias. No início deste ano, a dupla conseguiu um aditivo ao contrato, que a autorizou a captar mais 26,1 mil reais para gravar o DVD, totalizando 225,1 mil reais. Segundo as portarias da Secretaria Nacional de Fomento e Incentivo à Cultura, ligada ao Ministério do Turismo, a dupla justificou o pedido de apoio financeiro para “divulgar seu novo material de trabalho, além de revisar clássicos”. “O desempenho da apresentação pretende mostrar uma compilação de canções inéditas e canções populares que fazem parte de um repertório tradicional reconhecido, harmonizando em um clima agradável a possibilidade para se ouvir a boa música brasileira”, argumentam os cantores. A dupla, que afirma ter 26 anos de carreira, compôs a música para Bolsonaro a pedido do marqueteiro do PL, Duda Lima. O refrão da canção diz que “no mito eu boto fé / É ele que defende a nação / Que tem nossa bandeira no seu coração”.

Nesta semana, alguns parlamentares ventilaram a ideia de instalação de uma ‘CPI dos Sertanejos’, mas o presidente da Câmara, Arthur Lira, sinalizou que não há clima — nem tempo — para uma nova investigação parlamentar às vésperas da eleição. Seria realmente difícil reunir deputados em Brasília em plena campanha. Além disso, a CPI esbarraria em restrições legais para a convocação de prefeitos e secretários de Cultura, como ocorreu quando bolsonaristas tentaram convocar governadores petistas para a CPI da Pandemia. Afora o fato de que a apuração acabaria atingindo artistas simpáticos a Lula, como a cantora baiana Daniela Mercury, que fez campanha para Lula, no último Dia do Trabalho, em show bancado pela Prefeitura de São Paulo. O cachê de 100 mil reais acabou cancelado após O Antagonista ter noticiado a história. A cantora Anitta, em 2019, também foi criticada por seu cachê de 500 mil reais, em show custeado pela Prefeitura de Parintins (AM). Dias atrás, diante da repercussão dos contratos milionários dos sertanejos, ela debochou. “E eu achando que tava só fazendo uma tatuagem no tororó”, disse Anitta, numa rede social. Enquanto artistas, do lado A ou do lado B do espectro político, faturam alto às custas do erário, o pagador de impostos assiste atônito da plateia.

Revista Crusoé

Bolsonaro veta blindagem de escritórios de advocacia a operações da polícia




O presidente Jair Bolsonaro sancionou nesta sexta-feira, 3, lei que altera o Estatuto da Advocacia, o Código de Processo Civil e o Código de Processo penal para incluir dispositivos sobre a atividade privativa de advogado. No entanto, o texto foi publicado no Diário Oficial com um de seus principais dispositivos vetados pelo Executivo: o que restringia operações policiais em escritórios de advocacia.

A razão para o veto, segundo registra despacho da Presidência da República, foi o fato de a proposição "contrariar interesse público, tendo em vista que pode impactar no livre convencimento motivado dos magistrados, além de poder comprometer e a atuação da polícia judiciária".

"Cumpre ressaltar que compete ao Poder Judiciário, sempre de forma fundamentada, avaliar no caso concreto a medida judicial a ser aplicada e ao Delegado de Polícia e ao órgão ministerial expor as razões que justificariam a cautelar. Assim, qualquer juízo decisório a respeito da admissibilidade, ou não, da cautelar deve ser realizado na hipótese em concreto, e não abstratamente, sob pena de ir de encontro à legislação processual vigente", registra o texto.

Na mesma linha, foi vetado dispositivo que garantia que um representante da OAB e o advogado alvo de busca pudessem acompanhar a análise dos documentos e dos dispositivos apreendidos ou interceptados por investigadores. O governo Jair Bolsonaro argumentou que há diligências que devem ser sigilosas, e, assim, eventual acesso à documentação ocorreria somente de forma diferida.

"Assim, ao exigir a presença do advogado investigado e representante da OAB em todos os atos, poderia prejudicar a eficiência dos órgãos persecutórios na elucidação das infrações penais, e, com isso, favorecer o combate à criminalidade", registra trecho de justificativa para o veto.

Outros itens foram mantidos conforme projeto aprovado pelo Congresso, como o impedimento, ao advogado, de fechar colaboração premiada contra quem seja ou tenha sido seu cliente, sob pena de processo disciplinar.

COM A PALAVRA, A OAB

"A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) recebeu com satisfação a sanção da lei que atualiza o Estatuto da Advocacia. O texto publicado no Diário Oficial da União foi possível graças ao trabalho da diretoria da OAB Nacional, presidentes de seccionais, conselheiras e conselheiros federais e seccionais, membros de comissões e de caixas de assistência junto ao Legislativo e ao Executivo.

Reconhecemos os inúmeros avanços presentes no texto sancionado. Trabalharemos, no entanto, pela derrubada dos vetos às alíneas a, b, c, f, g e h do parágrafo sexto. São vetos a dispositivos que coíbem buscas e apreensões arbitrárias em escritórios de advocacia e, portanto, precisamos preservar esses pontos para assegurar a proteção ao Estado de Direito."

Beto Simonetti, presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB)

Estadão / Dinheiro Rural

Brasil descumpre mais de 80% das recomendações da ONU para direitos humanos




Mais de 80% das recomendações feitas ao Brasil pelo Alto Comissariado das Nações Unidas (ONU) para os Direitos Humanos não foram cumpridas e quase a metade delas está em retrocesso, diz novo diagnóstico da ação do governo nesse setor. É a primeira vez que essa categoria de classificação foi observada no Brasil desde que o conselho foi instituído, em 2006, e passou a estabelecer recomendações e a monitorar avanços e problemas no mundo. As áreas mais vulneráveis são povos indígenas, meio ambiente e violência policial.

A cada quatro anos, os 193 países signatários devem prestar contas da situação dos direitos humanos ao Alto Comissariado por meio da Revisão Periódica Universal (RPU). Trata-se de um mecanismo internacional da ONU que cruza as informações entre as nações. No Brasil, o Coletivo RPU Brasil, uma coalizão de organizações da sociedade civil, é responsável pelo monitoramento da atuação do governo e pela elaboração de um diagnóstico da situação.

Das 242 recomendações, apenas uma foi cumprida pelo Brasil. Foi a que pedia a ratificação da Convenção 189 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) sobre trabalhadores domésticos.

"Normalmente, em nossas avaliações periódicas, usamos os termos 'cumprida', 'parcialmente cumprida' ou 'pendente' para determinar a situação de cada uma das recomendações", explicou a coordenadora-geral da Gestos-Soropositividade, Comunicação e Gênero, Alessandra Nilo, uma das organizações integrantes do coletivo. "Mas diante do que está acontecendo na Amazônia, não dava para enquadrar em nenhuma dessas", diz. "Tivemos que criar uma categoria nova, 'em retrocesso'"

Conforme o levantamento, 46% de todas as recomendações feitas (242) estão em retrocesso. Outras 35% estão em pendência. Somadas, apontam 81% de recomendações não cumpridas. Só 17% dos tópicos estão em implementação, ainda que parcialmente. Apenas um está sendo, de fato, cumprido. Para o coletivo, "os dados são gravíssimos e inéditos" na história da participação do Brasil na revisão. O governo brasileiro deve apresentar oficialmente os seus dados em 8 de agosto, em Genebra, na Suíça.

"Há dois anos, o Estado brasileiro apresentou dados desatualizados, inclusive referentes a governos anteriores e de organismos que já foram extintos", diz Fernanda Lapa, diretora-executiva do Instituto de Desenvolvimento e Direitos Humanos, que coordena o coletivo. "Esperamos que, desta vez, o Estado pare de negar os fatos e apresente informações consistentes para debater com a sociedade civil."

No levantamento feito pelo Coletivo RPU, as orientações da ONU foram sistematizadas por temas. São assuntos como povos indígenas e ambiente, saúde e vida digna, igualdade e não discriminação de gênero, racismo, violência policial, tortura, entre outros. A situação é mais grave para os povos indígenas e meio ambiente. Das 27 recomendações nesta área, nenhuma foi cumprida, nem mesmo parcialmente. E dezesseis delas estão em retrocesso.

Um dos pontos avaliados é a saúde indígena. Esse setor sofreu com redução de orçamento, reestruturação do programa Mais Médicos e a extinção da Secretaria Especial de Saúde Indígena. "Nosso relatório mostra forte acirramento dos ataques aos povos indígenas e seus territórios, com inúmeras violações de seus direitos por parte do Estado", e diz o secretário da Rede de Cooperação Amazônica (RCA), Luis Donisete Grupioni.

"Na contramão das recomendações da ONU, o governo brasileiro adotou ações deliberadas contra órgãos federais que deveriam proteger e promover os direitos desses povos, promovendo o esfacelamento de políticas públicas diferenciadas. Todos os processos de reconhecimento territorial do País estão paralisados", acrescenta.

Violência policial 'alarmante'

A violência policial é outro tema considerado "em situação alarmante" pelo coletivo RPU. Em maio, operação policial na Vila Cruzeiro, no Rio, deixou pelo menos 23 mortos, a segunda mais letal da história, atrás apenas da chacina do Jacarezinho, no ano passado. Também resultado de ação da polícia do Rio, teve 28 óbitos. Das sete recomendações voltadas à mitigação desses crimes, todas foram consideradas em retrocesso. O mesmo ocorre com as sete recomendações do relatório sobre tortura. Todas retrocederam.

"Essa violência também acontece no sistema prisional brasileiro, em que se usa a tortura como método institucional de controle da população negra, pobre e favelada, que é a maioria nesses espaços", comentou o pesquisador da Justiça Global Antonio Neto. "E a resposta do Estado para isso é o enfraquecimento do sistema nacional de prevenção e combate á tortura."

No relatório sobre saúde e vida digna, uma das treze recomendações avaliadas estava parcialmente cumprida: a de estratégias de combate ao HIV. Ainda assim, há problemas. Não houve aumento de recursos para estratégias de prevenção. Quatro recomendações sobre saúde reprodutiva foram consideradas 'em retrocesso'. Vão do direito à assistência pré-natal ao acesso à interrupção voluntária da gravidez nos casos já previstos por lei.

Governo contesta metodologia

O Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, em nota, informou que "os percentuais apresentados não possuem relação com a metodologia oficial do mecanismo RPU, que não trabalha com as categorias cumprida, em cumprimento, não cumprida e em retrocesso".

Ainda de acordo com a nota da pasta, "as recomendações recebidas pelo Brasil têm caráter abrangente, com objetivos abertos e de difícil mensuração e, por vezes, representam uma situação ideal que o País deve buscar de forma contínua. O ministério assegura que vem acatando as recomendações e desenvolvido políticas públicas voltadas para os grandes temas".

Estadão / Dinheiro Rural

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