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quinta-feira, maio 05, 2022

Bertolt Brecht*: As cinco dificuldades para escrever a verdade




Hoje, o escritor que deseje combater a mentira e a ignorância tem de lutar, pelo menos, contra cinco dificuldades. É-lhe necessária a coragem de dizer a verdade, numa altura em que por toda a parte se empenham em sufocá-la; a inteligência de a reconhecer, quando por toda a parte a ocultam; a arte de a tornar manejável como uma arma; o discernimento suficiente para escolher aqueles em cujas mãos ela se tornará eficaz; finalmente, precisa de ter habilidade para difundir entre eles. Estas dificuldades são grandes para os que escrevem sob o jugo do fascismo; aqueles que fugiram ou foram expulsos também sentem o peso delas; e até os que escrevem num regime de liberdades burguesas não estão livres da sua acção.

1- A CORAGEM DE DIZER A VERDADE

É evidente que o escritor deve dizer a verdade, não a calar nem a abafar, e nada escrever contra ela. É sua obrigação evitar rebaixar-se diante dos poderosos, não enganar os fracos, naturalmente, assim como resistir à tentação do lucro que advém de enganar os fracos. Desagradar aos que tudo possuem equivale a renunciar seja o que for. Renunciar ao salário do seu trabalho equivale por vezes a não poder trabalhar, e recusar ser célebre entre os poderosos é muitas vezes recusar qualquer espécie de celebridade. Para isso precisa-se de coragem. As épocas de extrema opressão costumam ser também aquelas em que os grandes e nobres temas estão na ordem do dia. Em tais épocas, quando o espírito de sacrifício é exaltado ruidosamente, precisa o escritor de muita coragem para tratar de temas tão mesquinhos e tão baixos como a alimentação dos trabalhadores e o seu alojamento.

Quando os camponeses são cobertos de honrarias e apontados como exemplo, é corajoso o escritor que fala da maquinaria agrícola e dos pastos baratos que aliviariam o tão exaltado trabalho dos campos. Quando todos os altifalantes espalham aos quatro ventos que o ignorante vale mais do que o instruído, é preciso coragem para perguntar: vale mais porquê? Quando se fala de raças nobres e de raças inferiores, é corajoso o que pergunta se a fome, a ignorância e a guerra não produzem odiosas deformidades. É igualmente necessária coragem para se dizer a verdade a nosso próprio respeito, sobre os vencidos que somos. Muitos perseguidos perdem a faculdade de reconhecer as suas culpas. A perseguição parece-lhes uma monstruosa injustiça. Os perseguidores são maus, dado que perseguem, e eles, os perseguidos, são perseguidos por causa da sua virtude. Mas essa virtude foi esmagada, vencida, reduzida à impotência. Bem fraca virtude ela era! Má, inconsistente e pouco segura virtude, pois não é admissível aceitar a fraqueza da virtude como se aceita a humidade da chuva. É necessária coragem para dizer que os bons não foram vencidos por causa da sua virtude, mas antes por causa da sua fraqueza. A verdade deve ser mostrada na sua luta com a mentira e nunca apresentada como algo de sublime, de ambíguo e de geral; este estilo de falar dela convém justamente à mentira. Quando se afirma que alguém disse a verdade é porque houve outros, vários, muitos ou um só, que disseram outra coisa, mentiras ou generalidades, mas aquele disse a verdade, falou em algo de prático, concreto, impossível de negar, disse a única coisa que era preciso dizer.

Não se carece de muita coragem para deplorar em termos gerais a corrupção do mundo e para falar num tom ameaçador, nos sítios onde a coisa ainda é permitida, da desforra do Espírito. Muitos simulam a bravura como se os canhões estivessem apontados sobre eles; a verdade é que apenas servem de mira a binóculos de teatro. Os seus gritos atiram algumas vagas e generalizadas reivindicações, à face dum mundo onde as pessoas inofensivas são estimadas. Reclamam em termos gerais uma justiça para a qual nada contribuem, apelam pela liberdade de receber a sua parte dum espólio que sempre têm partilhado com eles. Para esses, a verdade tem de soar bem. Se nela só há aridez, números e factos, se para a encontrar forem precisos estudos e muito esforço, então essa verdade não é para eles, não possui a seus olhos nada de exaltante. Da verdade, só lhes interessa o comportamento exterior que permite clamar por ela. A sua grande desgraça é não possuírem a mínima noção dela.

2- A INTELIGÊNCIA DE RECONHECER A VERDADE

Como é difícil dizer a verdade, já que por toda a parte a sufocam, dizê-la ou não parece à maioria uma simples questão de honestidade. Muitas pessoas pensam que quem diz a verdade só precisa de coragem. Esquecem a segunda dificuldade, a que consiste em descobri-la. Não se pode dizer que seja fácil encontrar a verdade.

Em primeiro lugar, já não é fácil descobrir qual verdade merece ser dita. Hoje, por exemplo, as grandes nações civilizadas vão soçobrando uma após outra na pior das barbáries diante dos olhos pasmados do universo.

Acresce ainda o facto de todos sabermos que a guerra interna, dispondo dos meios mais horríveis, pode transformar-se dum momento para o outro numa guerra exterior que só deixará um montão de escombros no sitio onde outrora havia o nosso continente. Esta é uma verdade que não admite dúvidas, mas é claro que existem outras verdades. Por exemplo: não é falso que as cadeiras sirvam para a gente se sentar e que a chuva caia de cima para baixo. Muitos poetas escrevem verdades deste género. Assemelham-se a pintores que esboçassem naturezas mortas a bordo dum navio em risco de naufragar. A primeira dificuldade de que falamos não existe para eles, e contudo têm a consciência tranquila. “Esgalham” o quadro num desprezo soberano pelos poderosos, mas também sem se deixarem impressionar pelos gritos das vítimas. O absurdo do seu comportamento engendra neles um “profundo” pessimismo que se vende bem; os outros é que têm motivos para se sentirem pessimistas ao verem o modo como esses mestres se vendem. Já nem sequer é fácil reconhecer que as suas verdades dizem respeito ao destino das cadeiras e ao sentido da chuva: essas verdades soam normalmente de outra maneira, como se estivessem relacionadas com coisas essenciais, pois o trabalho do artista consiste justamente em dar um ar de importância aos temas de que trata.

Só olhando os quadros de muito perto é que podemos discernir a simplicidade do que dizem: “Uma cadeira é uma cadeira” e “Ninguém pode impedir a chuva de cair de cima para baixo”. As pessoas não encontram ali a verdade que merece a pena ser dita.

Alguns consagram-se verdadeiramente às tarefas mais urgentes, sem medo aos poderosos ou á pobreza, e no entanto não conseguem encontrar a verdade. Faltam-lhe conhecimentos. As velhas superstições não os largam, assim como os preconceitos ilustres que o passado frequentemente revestiu de uma forma bela. Acham o mundo complicado em demasia, não conhecem os dados nem distinguem as relações. A honestidade não basta; são precisos conhecimentos que se podem adquirir e métodos que se podem aprender. Todos os que escrevem sobre as complicações desta época e sobre as transformações que nela ocorrem necessitam de conhecer a dialéctica materialista, a economia e a história. Estes conhecimentos podem adquirir-se nos livros e através da aprendizagem prática, por mínima que seja a vontade necessária. Muitas verdades podem ser encontradas com a ajuda de meios bastante mais simples, através de fragmentos de verdades ou dos dados que conduzem à sua descoberta. Quando se quer procurar, é conveniente ter-se um método, mas também se pode encontrar sem método e até sem procura. Contudo, através dos diversos modos como o acaso se exprime, não se pode esperar a representação da verdade que permite aos homens saber como devem agir. As pessoas que só se empenham em anotar os factos insignificantes são incapazes de tornar manejáveis as coisas deste mundo. O objectivo da verdade é uno e indivisível. As pessoas que apenas são capazes de dizer generalidades sobre a verdade não estão à altura dessa obrigação.

Se alguém está pronto a dizer a verdade e é capaz de a reconhecer, ainda tem de vencer três dificuldades.

3-A ARTE DE TORNAR A VERDADE MANEJÁVEL COMO UMA ARMA

O que torna imperiosa a necessidade de dizer a verdade são as consequências que isso implica no que diz respeito à conduta prática. Como exemplo de verdade inconsequente ou de que se poderão tirar consequências falsas, tomemos o conceito largamente difundido, segundo o qual em certos países reina um estado de coisas nefasto, resultante da barbárie. Para esta concepção, o fascismo é uma vaga de barbárie que alagou certos países com a violência de um fenómeno natural.

Os que assim pensam, entendem o fascismo como um novo movimento, uma terceira força justaposta ao capitalismo e ao socialismo (e que os domina). Para quem partilha esta opinião, não só o movimento socialista, mas também o capitalismo teriam podido, se não fosse o fascismo, continuar a existir, etc. Naturalmente que se trata de uma afirmação fascista, de uma capitulação perante o fascismo. O fascismo é uma fase histórica na qual o capitalismo entrou; por consequência, algo de novo e ao mesmo tempo de velho. Nos países fascistas, a existência do capitalismo assume a forma do fascismo, e não é possível combater o fascismo senão enquanto capitalismo, senão enquanto forma mais nua, mais cínica, mais opressora e mais mentirosa do capitalismo.

Como se poderá dizer a verdade sobre o fascismo que se recusa, se quem diz essa verdade se abstêm de falar contra o capitalismo que engendra o fascismo? Qual será o alcance prático dessa verdade?

Aqueles que estão contra o fascismo sem estar contra o capitalismo, que choramingam sobre a barbárie causada pela barbárie, assemelham-se a pessoas que querem receber a sua fatia de assado de vitela, mas não querem que se mate a vitela. Querem comer vitela, mas não querem ver sangue. Para ficarem contentes, basta que o magarefe lave as mãos antes de servir a carne. Não são contra as relações de propriedade que produzem a barbárie, mas são contra a barbárie.

As recriminações contra as medidas bárbaras podem ter uma eficácia episódica, enquanto os auditores acreditarem que semelhantes medidas não são possíveis na sociedade onde vivem. Certos países gozam do raro privilégio de manter relações de propriedade capitalistas por processos aparentemente menos violentos. A democracia ainda lhes presta os serviços que noutras partes do mundo só podem ser prestados mediante o recurso à violência, quer dizer, aí a democracia chega para garantir a propriedade privada dos meios de produção. O monopólio das fábricas, das minas, dos latifúndios gera em toda a parte condições bárbaras; digamos que em alguns sítios a democracia torna essas condições menos visíveis. A barbárie torna-se visível logo que o monopólio já só pode encontrar protecção na violência nua.

Certas nações que conseguem preservar os monopólios bárbaros sem renunciar às garantias formais do direito, nem a comodidades como a arte, a filosofia, a literatura, acolhem carinhosamente os hóspedes cujos discursos procuram desculpar o seu país natal de ter renunciado a semelhantes confortos: tudo isso lhes será útil nas guerras vindouras. É licito dizer-se que reconheceram a verdade, aqueles que reclamam a torto e a direito uma luta sem quartel contra a Alemanha, apresentada como verdadeira pátria do mal da nossa época, sucursal do inferno, caverna do Anticristo? Desses, não será exagerado pensar que não passam de impotentes e nefastos imbecis, já que a conclusão do seu blá-blá-blá aponta para a destruição desse pais inteiro e de todos os seus habitantes (o gás asfixiante, quando mata, não escolhe os culpados).

O homem frívolo, que não conhece a verdade, exprime-se através de generalidades, em termos nobres e imprecisos. Encanta-o perorar sobre “os” alemães ou lançar-se em grandes tiradas sobre “o” Mal, mas a verdade é que nós, aqueles a quem o homem frívolo fala, ficamos embaraçados, sem saber que fazer de semelhantes ditames. Afinal de contas, o nosso homem decidiu deixar de ser alemão? E lá por ele ser bom, o inferno vai desaparecer? São desta espécie as grandes frases sobre a barbárie. Para os seus autores, a barbárie vem da barbárie e desaparece graças à educação moral que vem da educação. Que miséria a destas generalidades, que não visam qualquer aplicação pratica e, no fundo, não se dirigem a ninguém.

Não nos admiremos que se digam de esquerda, “mas” democratas, os que só conseguem elevar-se a tão fracas e improfícuas verdades. A “esquerda democrática” é outra destas generalidades-álibís onde correm a acoitar-se as pessoas inconsequentes, isto é, os incapazes de viver até as últimas consequências as verdades que quer a esquerda, quer a democracia contêm. Reclamar-se alguém da “esquerda democrática” significa, em termos práticos, que pertence ao grupo dos ineptos para revolucionar ou conservar as coisas, ao clã dos generalistas da verdade.

Não é a mim, fugido da Alemanha com a roupa que tinha no corpo, que me vão apresentar o fascismo como uma espécie de força motriz natural impossível de dominar. A escuridade dessas descrições esconde as verdadeiras forças que produzem as catástrofes. Um pouco de luz, e logo se vê que são homens a causa das catástrofes. Pois é, amigos: vivemos num tempo em que o homem é o destino do homem.

O fascismo não é uma calamidade natural, que se possa compreender a partir da “natureza” humana. Mas mesmo confrontados com catástrofes naturais, há um modo de descrevê-las digno do homem, um modo que apela para as suas qualidades combativas.

O cronista de grandes catástrofes como o fascismo e a guerra (que não são catástrofes naturais) deve elaborar uma verdade praticável, mostrar as calamidades que os que possuem os meios de produção infligem às massas imensas dos que trabalham e não os possuem.

Se se pretende dizer eficazmente a verdade sobre um mau estado de coisas, é preciso dizê-la de maneira que permita reconhecer as suas causas evitáveis. Uma vez reconhecidas as causas evitáveis, o mau estado de coisas pode ser combatido.

4- DISCERNIMENTO SUFICIENTE PARA ESCOLHER OS QUE TORNARÃO A VERDADE EFICAZ

Tirando ao escritor a preocupação pelo destino dos seus textos, as usanças seculares do comércio da coisa escrita no mercado das opiniões deram-lhe a impressão de que a sua missão terminava logo que o intermediário, cliente ou editor, se encarregava de transmitir aos outros a obra acabada. O escritor pensava: falo e ouve-me quem me quiser ouvir. Na verdade, ele falava e quem podia pagar ouvia-o. Nem todos ouviam as suas palavras, e os que as ouviam não estavam dispostos a ouvir tudo o que se lhes dizia. Tem-se falado muito desta questão, mas mesmo assim ainda não chega o que se tem dito: limitar-me-ei aqui a acentuar que “escrever a alguém” tornou-se pura e simplesmente “escrever”. Ora não se pode escrever a verdade e basta: é absolutamente necessário escrevê-la a “alguém” que possa tirar partido dela. O conhecimento da verdade é um processo comum aos que lêem e aos que escrevem. Para dizer boas coisas, é preciso ouvir bem e ouvir boas coisas. A verdade deve ser pesada por quem a diz e por quem a ouve. E para nós que escrevemos, é essencial saber a quem a dizemos e quem no-la diz.

Devemos dizer a verdade sobre um mau estado de coisas àqueles que o consideram o pior estado de coisas, e é desses que devemos aprender a verdade. Devemos não só dirigir-nos às pessoas que têm uma certa opinião, mas também aos que ainda a não têm e deviam tê-la, ditada pela sua própria situação. Os nossos auditores transformam-se continuamente! Até se pode falar com os próprios carrascos quando o prémio dos enforcamentos deixa de ser pago pontualmente ou o perigo de estar com os assassinos se torna muito grande. Os camponeses da Baviera não costumam querer nada com revoluções, mas quando as guerras duram demais e os seus filhos, no regresso, não arranjam trabalho nas quintas, tem sido possível ganhá-los para a revolução.

Para quem escreve, é importante saber encontrar o tom da verdade. Um acento suave, lamentoso, de quem é incapaz de fazer mal a uma mosca, não serve. Quem, estando na miséria, ouve tais lamúrias, sente-se ainda mais miserável. Em nada o anima a cantilena dos que, não sendo seus inimigos, não são certamente seus companheiros de luta. A verdade é guerreira, não combate só a mentira, mas certos homens bem determinados que a propagam.

5- HABILIDADE PARA DIFUNDIR A VERDADE

Muitos, orgulhosos de ter a coragem de dizer a verdade, contentes por a terem encontrado, porventura fatigados com o esforço necessário para lhe dar uma forma manejável, aguardam impacientemente que aqueles cujos interesses defendem a tomem em suas mãos e consideram desnecessário o uso de manhas e estratagemas para a difundir. Frequentemente, é assim que perdem todo o fruto do seu trabalho. Em todos os tempos, foi necessário recorrer a “truques” para espalhar a verdade, quando os poderosos se empenhavam em abafá-la e ocultá-la. Confúcio falsificou um velho calendário histórico nacional, apenas lhe alterando algumas palavras. Quando o texto dizia: “o senhor de Kun condenou à morte o filósofo Wan por ter dito frito e cozido”, Confúcio substituía “condenou à morte” por “assassinou”. Quando o texto dizia que o Imperador Fulano tinha sucumbido a um atentado, escrevia “foi executado”. Com este processo, Confúcio abriu caminho a uma nova concepção da história.

Na nossa época, aquele que em vez de “povo”, diz “população”, e em lugar de terra”, fala de “latifúndio”, evita já muitas mentiras, limpando as palavras da sua magia de pacotilha. A palavra “povo” exprime uma certa unidade e sugere interesses comuns; a “população” de um território tem interesses diferentes e opostos. Da mesma forma, aquele que fala em “terra” e evoca a visão pastoral e o perfume dos campos favorece as mentiras dos poderosos, porque não fala do preço do trabalho e das sementes, nem no lucro que vai parar aos bolsos dos ricaços das cidades e não aos dos camponeses que se matam a tornar fértil o “paraíso”. “Latifúndio” é a expressão justa: torna a aldrabice menos fácil. Nos sítios onde reina a opressão, deve-se escolher, em vez de “disciplina”, a palavra “obediência”, já que mesmo sem amos e chefes a disciplina é possível, e caracteriza-se portanto por algo de mais nobre que a obediência. Do mesmo modo, “dignidade humana” vale mais do que “honra”: com a primeira expressão o indivíduo não desaparece tão facilmente do campo visual; por outro lado, conhece-se de ginjeira o género de canalha que costuma apresentar-se para defender a honra de um povo, e com que prodigalidade os gordos desonrados distribuem “honrarias” pelos famélicos que os engordam.

Ao substituir avaliações inexactas de acontecimentos nacionais por notações exactas, o método de Confúcio ainda hoje é aplicável. Lénine, por exemplo, ameaçado pela polícia do czar, quis descrever a exploração e a opressão da ilha Sakalina pela burguesia russa. Substituiu “Rússia” por “Japão” e “Sakalina” por “Coreia”. Os métodos da burguesia japonesa faziam lembrar a todos os leitores os métodos da burguesia russa em Sakalina, mas a brochura não foi proibida, porque o Japão era inimigo da Rússia. Muitas coisas que não podem ser ditas na Alemanha a propósito da Alemanha, podem sê-lo a propósito da Áustria. Há muitas maneiras de enganar um Estado vigilante.

Voltaire combateu a fé da Igreja nos milagres, escrevendo um poema libertino sobre a Donzela de Orleans, no qual são descritos os milagres que sem dúvida foram necessários para Joana d’Arc permanecer virgem no exército, na Corte e no meio dos frades.

Pela elegância do seu estilo e a descrição de aventuras galantes inspiradas na vida relaxada das classes dirigentes, levou estas a sacrificar uma religião que lhes fornecia os meios de levar essa vida dissoluta. Mais e melhor deu assim às suas obras a possibilidade de atingir por vias ilegais aqueles a quem eram destinadas. Os poderosos que Voltaire contava entre os seus leitores favoreciam ou toleravam a difusão dos livros proibidos, e desse modo sacrificavam a polícia que protegia os seus prazeres. E o grande Lucrécio sublinha expressamente que, para propagar o ateísmo epicurista confiava muito na beleza dos seus versos.

Não há dúvida de que um alto nível literário pode servir de salvo-conduto à expressão de uma ideia. Contudo, muitas vezes desperta suspeitas. Então, pode ser indicado baixá-lo intencionalmente. É o que acontece, por exemplo, quando sob a forma desprezada do romance policial, se introduz à socapa, em lugares discretos, a descrição dos males da sociedade. O grande Shakespeare baixou o seu nível por considerações bem mais fracas, quando tratou com uma voluntária ausência de vigor o discurso com que a mãe de Coriolano tentou travar o filho, que marchava sobre Roma: Shakespeare pretendia que Coriolano desistisse do seu projecto, não por causa de razões sólidas ou de uma emoção profunda, mas por uma certa fraqueza de carácter que o entregava aos seus velhos hábitos. Encontramos igualmente em Shakespeare um modelo de manhas na difusão da verdade: o discurso de Marco António perante o corpo de César, quando repete com insistência que Brutus, assassino de César, é um homem honrado, descrevendo ao mesmo tempo o seu acto, e a descrição do acto provoca mais impressão que a do autor.

Jonathan Swift propôs numa das suas obras o seguinte meio de garantir o bem-estar da Irlanda: meter em salmoura os filhos dos pobres e vendê-los como carniça no talho. Através de minuciosos cálculos, provava que se podem fazer grandes economias quando não se recua diante de nada. Swift armava voluntariamente em imbecil, defendendo uma maneira de pensar abominável e cuja ignomínia saltava aos olhos de todos. O leitor podia-se mostrar mais inteligente, ou pelo menos mais humano que Swift, sobretudo aquele que ainda não tinha pensado nas consequências decorrentes de certas concepções.

São consideradas baixas as actividades úteis aos que são mantidos no fundo da escala: a preocupação constante pela satisfação de necessidades; o desdém pelas honrarias com que procuram engodar os que defendem o país onde morrem de fome; a falta de confiança no chefe quando o chefe nos leva a todos à catástrofe; a falta de gosto pelo trabalho quando ele não alimenta o trabalhador; o protesto contra a obrigação de ter um comportamento de idiotas; a indiferença para com a família, quando de nada serve a gente interessar-se por ela. Os esfomeados são acusados de gulodice; os que não têm nada a defender, de cobardia; os que duvidam dos seus opressores, de duvidar da sua própria força; os que querem receber a justa paga pelo seu trabalho, de preguiça, etc.

Numa época como a nossa, os governos que conduzem as massas humanas à miséria, têm de evitar que nessa miséria se pense no governo, e por isso estão sempre a falar em fatalidade. Quem procura as causas do mal, vai parar à prisão antes que a sua busca atinja o governo. Mas é sempre possível opormo-nos à conversa fiada sobre a fatalidade: pode-se mostrar, em todas as circunstâncias, que a fatalidade do homem é obra de outros homens. Até na descrição de uma paisagem se pode chegar a um resultado conforme à verdade, quando se incorporam à natureza as coisas criadas pelo homem.

RECAPITULAÇÃO

A grande verdade da nossa época (só seu conhecimento em nada nos faz avançar, mas sem ela não se pode alcançar nenhuma outra verdade importante) é que o nosso continente se afunda na barbárie porque nele se mantêm pela violência determinadas relações de propriedade dos meios de produção. De que serve escrever frases corajosas mostrando que é bárbaro o estado de coisas em que nos afundamos (o que é verdade), se a razão de termos caído nesse estado não se descortina com clareza? É nossa obrigação dizer que, se se tortura, é para manter as relações de propriedade. Claro que ao dizermos isso perdemos muitos amigos; aqueles que são contra a tortura porque julgam ser possível manter sem ela as relações de propriedade (o que é falso).

Devemos dizer a verdade sobre as condições bárbaras que reinam no nosso país a fim de tornar possível a acção que as fará desaparecer, isto é, que transformará as relações de propriedade.

Devemos dizê-la aos que mais sofrem com as relações de propriedade e estão mais interessados na sua transformação, ou seja: aos operários e aos que podemos levar a aliarem-se com eles, por não serem proprietários dos meios de produção, embora associados aos lucros e benefícios da exploração de quem produz. E, é claro, devemos proceder com astúcia.

Devemos resolver em conjunto, e ao mesmo tempo, estas cinco dificuldades, já que não podemos procurar a verdade sobre condições bárbaras sem pensar nos que sofrem essas condições e estão dispostos a utilizar esse conhecimento. Além disso, temos de pensar em apresentar-lhes a verdade sob uma forma susceptível de se transformar numa arma nas suas mãos, e simultaneamente com a astúcia suficiente para que a operação não seja descoberta e impedida pelo inimigo.

São estas as virtudes exigidas ao escritor empenhado em dizer a verdade.

*Bertolt Brecht – poeta e dramaturgo alemão (texto escrito em 1934). 

Tradução Ernesto Sampaio. Publicado no “Diário de Lisboa”, em 25 de abril de 1982

Revista Prosa Verso e Arte

Vendilhões da democracia - Editorial

 




É estarrecedor que membros de MDB e PSDB, partidos ligados às lutas democráticas, sejam coniventes com Bolsonaro. Por benefícios de curto prazo, transigem com princípios inegociáveis

É triste constatar que a maioria do MDB, partido cuja história está diretamente vinculada à restauração da democracia no País e à Constituição de 1988, não veja problemas em aderir ao bolsonarismo. Segundo revelou o Estadão, se o MDB declinar da decisão de ter candidatura própria ao Palácio do Planalto, a maioria do partido inclina-se por apoiar a reeleição de Jair Bolsonaro. Os dados são de uma sondagem feita pelo MDB entre seus prefeitos, bancadas e delegados eleitos pelos diretórios estaduais.

Ainda que não diminua sua responsabilidade, é preciso reconhecer que o MDB não está sozinho nessa proximidade com o presidente da República que afronta as instituições, põe em dúvida o processo eleitoral e tenta envolver as Forças Armadas em devaneios golpistas. Também parte significativa do PSDB, especialmente na Câmara dos Deputados, não vê empecilhos em alinhar-se ao bolsonarismo. Citam-se os dois partidos por seu histórico de defesa do regime democrático, mas há também outras legendas que tratam Jair Bolsonaro como um útil parceiro.

Observa-se, assim, um nítido decaimento da consciência cívica não apenas em parte da população – há, por exemplo, quem saia à rua para pedir o fechamento da Corte constitucional –, mas da própria classe política. É um nível de retrocesso ainda mais preocupante, pois se dá em pessoas que, pela própria trajetória profissional, deveriam ser especialmente cuidadosas com o regime democrático e as suas instituições. Como um deputado, por exemplo, pode apoiar um presidente da República que questiona, sem nenhuma prova, a lisura das eleições? Como um parlamentar pode apoiar um movimento político que, entre suas causas, defende o AI-5, pede o fechamento do Congresso e postula o retorno da ditadura militar?

É constrangedor, deve-se admitir, que parte da população defenda essas barbaridades, numa imitação irrefletida do que Jair Bolsonaro defendeu ao longo de sua carreira política. Nenhuma das bandeiras antidemocráticas do bolsonarismo ajuda a resolver, por mínimo que seja, algum dos problemas e desafios nacionais. Além disso, não faz sentido que alguém que se considere defensor das liberdades de expressão e de opinião manifeste apoio à reedição do AI-5. Agir assim expressa profunda ignorância histórica, constitui evidente manipulação política.

Mas ainda mais chocante e constrangedor é constatar que partidos políticos que, de uma forma ou de outra, participaram da luta pela redemocratização – o PSDB, por exemplo, nasceu do MDB, que era oposição ao governo militar – sejam coniventes com a agenda bolsonarista. Nessa indignação aqui não há nenhuma ingenuidade. É notório que esses partidos, especialmente os seus grupos mais próximos ao bolsonarismo, estão sendo fartamente alimentados pelo governo federal por meio das mais variadas emendas e de outras verbas públicas. Ninguém esconde isso, nem mesmo Jair Bolsonaro. Com sua falta de modos, o bolsonarismo instaurou em Brasília um ambiente de escárnio em relação à compra de apoio político. Tudo é respondido com um “e daí?”.

O grande problema, para o qual os partidos perigosamente fazem vista grossa, é que o bolsonarismo não é apenas um governo fraco e omisso, com o qual políticos hábeis podem lucrar muito no curto prazo. Jair Bolsonaro ameaça o livre funcionamento das instituições, a começar pela Justiça Eleitoral. Ou seja, ele coloca em risco a própria continuidade dos partidos. Na contagem paralela de votos do bolsonarismo, quem garante que os votos dados para o MDB e o PSDB irão mesmo para os dois partidos? No sonho bolsonarista de ter um Judiciário refém do Executivo, não há espaço para demandas contrárias aos interesses de Jair Bolsonaro.

A conivência dos partidos, especialmente MDB e PSDB, com o golpismo de Jair Bolsonaro é muito perigosa. Tolera-se o intolerável. Normaliza-se um antirrepublicano e inconstitucional exercício do poder. E tudo isso vindo de legendas que, como se viu nas eleições de 2020, não precisam de Jair Bolsonaro para ser competitivas nas urnas.

O Estado de São Paulo

O valor do mar no PIB brasileiro

 




Grupo Técnico pretende definir, em 2022, uma metodologia para essa mensuração

Por Primeiro-Tenente (RM2-T) Luciana Santos de Almeida

O Brasil possui em sua jurisdição uma área oceânica com cerca de 5,7 milhões de km2, que é fundamental para a economia do País. Esse extenso espaço marítimo dispõe de grande diversidade de recursos naturais, a exemplo de pescados, bem como riquezas minerais e energéticas, incluindo fosfato, hidratos de gás e petróleo.

Geralmente, as pessoas associam o mar a lazer e férias – e de fato, o turismo faz parte –, mas nem todos se dão conta da importância econômica de todas essas atividades que envolvem, ainda, transporte marítimo, pesca e aquicultura, indústria naval e esportes náuticos.

Nesse contexto, surge a necessidade de calcular a contribuição do oceano para a economia do Brasil, ou seja, o “PIB do Mar”. Esse total corresponderia a cerca de 19% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional, sendo 2,6% oriundos de atividades diretamente relacionadas ao mar e 16,4% das atividades indiretamente relacionadas, de acordo com a Tese de Doutorado da professora Andréa Bento Carvalho, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, que realizou o primeiro estudo científico sobre o valor da contribuição do mar para a economia do País, propondo uma metodologia para esse fim.

A professora também é uma das organizadoras de um inédito livro acadêmico coordenado pela Diretoria-Geral de Navegação (DGN). Intitulado “Economia Azul como vetor do Desenvolvimento Nacional”, a obra trará discussões sobre conceitos; governança; ciência; tecnologia e inovação; e debates econômicos para uma economia próspera do mar no Brasil.

“O Brasil não possui dados e estatísticas específicas para a contabilização e contribuição econômica dos recursos ofertados pelo mar. Mais simplificadamente, não há nas contas nacionais brasileiras distinção entre indústrias marinhas e não marinhas, de tal forma que a economia do mar, ou ‘PIB do Mar’, como é chamado em alguns países, não é estimada”, afirma a Doutora Andréa Carvalho na tese “Economia do Mar: conceito, valor e importância para o Brasil”.

No País inexiste, até o momento, uma metodologia oficialmente reconhecida para o cálculo do “PIB do Mar”, não sendo possível, assim, quantificar, de forma metódica, uniforme, contínua e perene, o valor gerado pelo somatório das atividades ligadas ao mar. Por isso, foi criado em 2020 o Grupo Técnico “PIB do Mar”, no âmbito da Subcomissão para o Plano Setorial para os Recursos do Mar (PSRM) da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar e coordenado pelo Ministério da Economia, para definir o conceito “Economia do Mar” para o Brasil, e identificar os setores e atividades que integram e/ou contribuem para a Economia Azul.

Além disso, visa elaborar metodologia que permita mensurar o “PIB do Mar”, contribuindo para o acompanhamento estatístico regular de sua evolução e apresentar sugestão para sua institucionalização, no âmbito do Governo Federal.

De acordo com o Subsecretário de Planejamento Governamental do Ministério da Economia e Coordenador do Grupo Técnico “PIB do Mar”, Fernando Sertã Meressi, a equipe do GT está efetivamente trabalhando desde fevereiro de 2021, quando todos os representantes do Grupo foram indicados, inclusive os do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), instituição central para a efetivação desse trabalho.

“O GT está previsto para terminar em julho de 2022, mas muito provavelmente precisaremos de mais prazo, devido à complexidade do trabalho. Nosso objetivo é termos a metodologia pronta em 2022”, afirmou.

O subsecretário explicou que a tese da professora Andréa é uma importante referência para o GT, porém, o Grupo Técnico pretende seguir metodologia diferente. Junto com o IBGE, preferiu não utilizar essa metodologia, pois seria um método mais complexo e que demandaria prazo mais longo, informou Meressi.

Em contrapartida, o método que o GT está utilizando é a computação do valor adicionado calculado pelo IBGE, referente a cada atividade econômica que contribui de forma relevante para o “PIB do Mar”, seja de forma total ou parcial. No caso de a atividade contribuir parcialmente será utilizado um critério de rateio, esclareceu o coordenador do GT. Por exemplo, nem todo o setor hoteleiro do País contribui para o “PIB do Mar”.

Assim, será necessário ter um critério de rateio para considerar apenas a parte referente ao turismo de sol e praia, disse Meressi, que também afirmou que, por enquanto, não há estimativa do número/percentual que resultará do estudo do Grupo Técnico. “Hoje, o que temos são os 19% calculados na pesquisa da professora Andréa, que são válidos, pois resultaram de uma tese de doutorado, mas não são números oficiais. O número oficial será o do IBGE”, acrescentou.

Principais dificuldades de mensuração

De acordo com Meressi, são duas as principais dificuldades de mensurar o “PIB do Mar”. “A primeira se deve ao fato de as contas nacionais não fazerem este recorte, se a produção ocorreu no mar, ou fora dele. É o exemplo da exploração de petróleo e gás natural. Nas contas nacionais não aparece onde o petróleo foi extraído, se na terra ou no mar”, comparou.

O subsecretário também apresentou outros exemplos como a Gestão de Portos e Terminais, cuja contribuição para o “PIB do Mar” é parcial, pois há portos marítimos e fluviais. “Logo, é preciso um critério de rateio. Este é o trabalho que o grupo está fazendo no momento”, esclareceu.

A segunda dificuldade refere-se à ausência de estatística recente sobre o valor da pesca, ou seja, para se ter um valor mais preciso é necessário ter esses registros. A Secretaria de Aquicultura e Pesca (SAP), do Ministério da Agricultura, está realizando um trabalho para apurar a produção de pescado no País. A SAP, inclusive, possui representante no Grupo Técnico.

Desafios da Economia Azul  

A importância econômica do espaço marítimo não é uma exclusividade do Brasil. Estudos da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) indicam que, até 2030, é previsto um crescimento anual de 3,5% para as indústrias globais baseadas nos oceanos, com perspectiva de geração de milhões de empregos.

Também segundo projeções da OCDE, a demanda pelo comércio marítimo triplicará entre 2015 e 2050, respondendo os navios por mais de 75% do transporte global de carga.

O Diretor-Geral de Navegação da Marinha do Brasil, Almirante de Esquadra Wladmilson Borges de Aguiar, explica que a Economia Azul surge a partir da necessidade de garantir a sustentabilidade ambiental e ecológica dos oceanos e mares, ao mesmo tempo em que há o crescimento da economia do mar.

“Se por um lado, essa dinâmica instrumenta o uso dos recursos vivos e não vivos em benefício do desenvolvimento, por outro, acarreta crescente preocupação com a saúde dos oceanos, principalmente para assegurar que as futuras gerações também possam usufruir os preciosos recursos neles existentes”, pontuou.

Nesse contexto, um desafio que se apresenta é a implantação de modelos de atividade econômica em arranjos produtivos locais (clusters), os quais podem servir como mecanismos catalisadores do desenvolvimento, complementa o Diretor-Geral. “Formar um cluster marítimo significa agrupar indústrias, empresas, instituições (governo, órgãos de classe, universidades), serviços e atividades ligadas à Economia Azul para fomentar o desenvolvimento da área, preservando o meio ambiente”, explicou.

O Almirante Borges destaca que a Economia Azul vem se mostrando cada vez mais participativa na geração de divisas para o País. “Essa realidade reforça a necessidade de investimento contínuo nesse setor em acordo com as premissas de soberania de um país, no escopo de que tão relevante quanto um Poder Naval pronto é um Poder Marítimo pujante e adequado às ambições econômicas e políticas de um Estado”, afirmou.

Publicação de documento

Esse assunto foi tema de estudo consolidado em uma publicação lançada pela fundação Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), em fevereiro deste ano. O trabalho ressalta a importância de mensurar de maneira contínua e sistemática o “PIB do mar” brasileiro, por intermédio de metodologia específica, bem como identificar as motivações para essa iniciativa. Para baixá-lo, basta acessar o site do IPEA.

Agência Marinha / DefesaNet

Angústia e pânico do brasileiro hoje




Por José Nêumanne (foto)

Em Nêumanne entrevista, Joaquim Falcão relata cenário eleitoral brasileiro como resultado da angústia, detectada pelo sociólogo Lavareda, e do pânico, que ele considera efeito dela

Na entrevista publicada nesta semana no canal José Nêumanne Pinto no YouTube, o primeiro-secretário da Academia Brasileira de Letras, Joaquim Falcão, fez uma declaração estarrecedora: “o Brasil vive uma crise de angústia”. Leu-a no livro Emoções Ocultas e Estratégias Eleitorais, do especialista em pesquisas Antônio Lavareda. E o professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) completou com outra bomba, da própria lavra: “E começa a entrar em pânico”. O tema da conversa é um assunto que, nos velhos tempos, se chamaria de cabuloso: a condenação do deputado bolsonarista Daniel Silveira a oito anos e nove meses, a ter cumprimento iniciado em cela de cadeia, e a anulação da pena por concessão pessoal, parcial e intransferível do ídolo dele, o presidente Jair Bolsonaro.

Lúcido, inteligente e corajoso, o jurista, que se especializou em analisar as decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) com profunda serenidade, não pretendeu assustar ninguém nem fazer estardalhaço. Mas apenas mediu a temperatura política desta temporada pré-eleitoral, em que, como lembrou o colega Josias de Souza na UOL, o candidato à reeleição desafia a autoridade da última instância de nossa Justiça. E rasga os preceitos constitucionais e legais que garantem a igualdade da disputa eleitoral a ser efetivada daqui a cinco meses. Logo ali, na primeira curva do caminho, o capitão que saiu do Exército acusado de terrorismo, mercê de graça parcial e corporativista de oito dos doze membros do plenário do Superior Tribunal Militar depois de condenado em primeira instância com excesso de provas a 30 anos de prisão, abusou da regra três, onde o menos vale mais. O doutor em educação pela Universidade de Genebra, Suíça, passou ao largo da demonização generalizada da tal polarização, que torna a disputa nas urnas uma guerra de bandidos profissionaisl E constata o óbvio ululante (apud Nelson Rodrigues) de que o candidato da direita estúpida detém o monopólio absoluto da narrativa do debate eleitoral de baixos calão e padrão. No “pugilato tremendo” a que se refere Castro Alves na obra-prima O Livro e a América, neste caso o porvir não vence, mas, ao contrário, é derrotado de forma fragorosa.

Este escriba, mais ousado do que corajoso, toma aqui emprestada a lente translúcida da análise com que foram presenteados os espectadores da entrevista para citar como exemplos dois fatos que não chegaram a ser abordados pelo autor de Mensalão, Diário de um Julgamento. A primeira abordagem a ser feita diz respeito à constatação, também indiscutível, de que tudo quanto tem sido argumentado para condenar e punir o ex-PM do Rio com tanto peso não passa de uma imitação de baixíssimo clero da plêiade de crimes eleitorais infringidos por seu candidato e comandante, Jair Bolsonaro. Este tem cuspido e rasgado os códigos jurídicos vigentes sem ser detido em seu avanço desaforado e desrespeitoso na desmoralização das instituições e de seus guardiões. O chefe do desgoverno federal inspira, incentiva e participa de manifestações públicas contra a lei e a ordem, de cuja fictícia defesa assumiu protagonismo na caça aos votos, em 2018, imitando as motociatas de Mussolini na Itália há um século. E nas ameaças explícitas a quem o critica, mesmo sem agir, de facto, para detê-lo. Nunca tantos foram tão covardes na defesa da letra constitucional, abusando desta pelo falso apelo a seu nobre instituto mantenedor do espírito das leis e da prática do governo do povo, pelo povo e com o povo.

A angústia, detectada por Lavareda e reproduzida por Falcão, vem do absurdo de não punir o chefe do batalhão, substituindo-o pelo meganha raso do fim do pelotão. O fato de o reles Silveira ser chamado a pagar as penas que deveriam ser aplicadas a seu profeta de más intenções, palavras e decisões é que o torna um réprobo tornado herói. E ainda sua condição de condenado e preso por responder por crime de terceiro, embora próximo. A vaga garantida na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara é a prova mais cabal de que o Poder Legislativo, tido como representante direto da cidadania, não passa de um álibi surreal de um sistema que se orgulha de agraciar o criminoso, condenar o juiz e tratar a lei como trapo colorido.

O entrevistado permitirá, por especial obséquio, ao entrevistador a lembrança de que o monopólio da disputa entre mentiras proferidas nos palanques adversos como tábuas da lei ocorre porque nesse sórdido sistema os pretensos contendores são, na verdade, cúmplices no desgoverno e na desrepresentação. Com a licença devida ao neologismo complicado. Na falsa quarta-feira de cinzas de um carnaval fora do tempo, com a quaresma tendo o sentido invertido na fé popular, o falso adversário do desgovernante, investido com a autoridade da oposição de araque, que confirma a peleja democrática, ajuda na condução da procissão do pânico. O ex-dirigente sindical, que nunca trabalhou na vida, já se tinha dado ao luxo de substituir a Bandeira Nacional, instituição da República, e em conseqüência da democracia, por um farrapo vermelho, que representa o sangue, o suor e as lágrimas do povo jogado ao relento das calçadas por uma elite política nojenta e pusilânime. Lulinha da Silva Guerra e Ódio abandona todos os hinos da representação coletiva da Nação – o Nacional, o da Independência, o dos Expedicionários, que ajudaram a conjurar o nazifascismo na Itália, etc., pela representação musical de um fiasco total chamado comunismo, socialismo ou seja qual for sua denominação. Ao lado do favorito à própria reeleição (pela segunda vez), a tal da social-democracia confirmava a derrota no Brasil das “vítimas da fome”, deixadas para trás aqui depois de serem assassinadas aos milhões por assassinos bestiais, como Stalin, Pol Pot, Mao, Hoxxa, Fidel e todos os seus flagelos.

*

Na entrevista publicada nesta semana no canal José Nêumanne Pinto no YouTube, o primeiro-secretário da Academia Brasileira de Letras, Joaquim Falcão, fez uma declaração estarrecedora: “o Brasil vive uma crise de angústia”. Leu-a no livro Emoções Ocultas e Estratégias Eleitorais, do especialista em pesquisas Antônio Lavareda. E o professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) completou com outra bomba, da própria lavra: “E começa a entrar em pânico”. O tema da conversa é um assunto que, nos velhos tempos, se chamaria de cabuloso: a condenação do deputado bolsonarista Daniel Silveira a oito anos e nove meses, a ter cumprimento iniciado em cela de cadeia, e a anulação da pena por concessão pessoal, parcial e intransferível do ídolo dele, o presidente Jair Bolsonaro.

Lúcido, inteligente e corajoso, o jurista, que se especializou em analisar as decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) com profunda serenidade, não pretendeu assustar ninguém nem fazer estardalhaço. Mas apenas mediu a temperatura política desta temporada pré-eleitoral, em que, como lembrou o colega Josias de Souza na UOL, o candidato à reeleição desafia a autoridade da última instância de nossa Justiça. E rasga os preceitos constitucionais e legais que garantem a igualdade da disputa eleitoral a ser efetivada daqui a cinco meses. Logo ali, na primeira curva do caminho, o capitão que saiu do Exército acusado de terrorismo, mercê de graça parcial e corporativista de oito dos doze membros do plenário do Superior Tribunal Militar depois de condenado em primeira instância com excesso de provas a 30 anos de prisão, abusou da regra três, onde o menos vale mais. O doutor em educação pela Universidade de Genebra, Suíça, passou ao largo da demonização generalizada da tal polarização, que torna a disputa nas urnas uma guerra de bandidos profissionaisl E constata o óbvio ululante (apud Nelson Rodrigues) de que o candidato da direita estúpida detém o monopólio absoluto da narrativa do debate eleitoral de baixos calão e padrão. No “pugilato tremendo” a que se refere Castro Alves na obra-prima O Livro e a América, neste caso o porvir não vence, mas, ao contrário, é derrotado de forma fragorosa.

Este escriba, mais ousado do que corajoso, toma aqui emprestada a lente translúcida da análise com que foram presenteados os espectadores da entrevista para citar como exemplos dois fatos que não chegaram a ser abordados pelo autor de Mensalão, Diário de um Julgamento. A primeira abordagem a ser feita diz respeito à constatação, também indiscutível, de que tudo quanto tem sido argumentado para condenar e punir o ex-PM do Rio com tanto peso não passa de uma imitação de baixíssimo clero da plêiade de crimes eleitorais infringidos por seu candidato e comandante, Jair Bolsonaro. Este tem cuspido e rasgado os códigos jurídicos vigentes sem ser detido em seu avanço desaforado e desrespeitoso na desmoralização das instituições e de seus guardiões. O chefe do desgoverno federal inspira, incentiva e participa de manifestações públicas contra a lei e a ordem, de cuja fictícia defesa assumiu protagonismo na caça aos votos, em 2018, imitando as motociatas de Mussolini na Itália há um século. E nas ameaças explícitas a quem o critica, mesmo sem agir, de facto, para detê-lo. Nunca tantos foram tão covardes na defesa da letra constitucional, abusando desta pelo falso apelo a seu nobre instituto mantenedor do espírito das leis e da prática do governo do povo, pelo povo e com o povo.

A angústia, detectada por Lavareda e reproduzida por Falcão, vem do absurdo de não punir o chefe do batalhão, substituindo-o pelo meganha raso do fim do pelotão. O fato de o reles Silveira ser chamado a pagar as penas que deveriam ser aplicadas a seu profeta de más intenções, palavras e decisões é que o torna um réprobo tornado herói. E ainda sua condição de condenado e preso por responder por crime de terceiro, embora próximo. A vaga garantida na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara é a prova mais cabal de que o Poder Legislativo, tido como representante direto da cidadania, não passa de um álibi surreal de um sistema que se orgulha de agraciar o criminoso, condenar o juiz e tratar a lei como trapo colorido.

O entrevistado permitirá, por especial obséquio, ao entrevistador a lembrança de que o monopólio da disputa entre mentiras proferidas nos palanques adversos como tábuas da lei ocorre porque nesse sórdido sistema os pretensos contendores são, na verdade, cúmplices no desgoverno e na desrepresentação. Com a licença devida ao neologismo complicado. Na falsa quarta-feira de cinzas de um carnaval fora do tempo, com a quaresma tendo o sentido invertido na fé popular, o falso adversário do desgovernante, investido com a autoridade da oposição de araque, que confirma a peleja democrática, ajuda na condução da procissão do pânico. O ex-dirigente sindical, que nunca trabalhou na vida, já se tinha dado ao luxo de substituir a Bandeira Nacional, instituição da República, e em conseqüência da democracia, por um farrapo vermelho, que representa o sangue, o suor e as lágrimas do povo jogado ao relento das calçadas por uma elite política nojenta e pusilânime. Lulinha da Silva Guerra e Ódio abandona todos os hinos da representação coletiva da Nação – o Nacional, o da Independência, o dos Expedicionários, que ajudaram a conjurar o nazifascismo na Itália, etc., pela representação musical de um fiasco total chamado comunismo, socialismo ou seja qual for sua denominação. Ao lado do favorito à própria reeleição (pela segunda vez), a tal da social-democracia confirmava a derrota no Brasil das “vítimas da fome”, deixadas para trás aqui depois de serem assassinadas aos milhões por assassinos bestiais, como Stalin, Pol Pot, Mao, Hoxxa, Fidel e todos os seus flagelos.

*Jornalista, poeta e escritor

Blog do José Neumanne

França de Macron deve seguir distante de Brasil de Bolsonaro, dizem analistas




O presidente francês, Emmanuel Macron, foi reeleito com 58,6% dos votos

Por Daniela Fernandes

Com a reeleição do presidente Emmanuel Macron, a França deverá manter relação distante com o Brasil do governo de Jair Bolsonaro (PL), segundo especialistas ouvidos pela BBC Brasil. Uma eventual reaproximação dependerá do resultado das eleições presidenciais brasileiras em outubro e de uma mudança real na política ambiental do país.

"As relações entre os dois países devem se manter frias pelo menos até as eleições no Brasil. Se Lula for eleito em outubro, deve haver uma mudança importante na relação bilateral. A posição francesa em relação ao acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia poderá ser destravado com a chegada de Lula ao poder, desde que haja vontade política dos dois lados", afirma Gaspard Estrada, diretor-executivo do Observatório Político da América Latina e Caribe da universidade Sciences Po, em Paris.

Estrada acrescenta que, caso Bolsonaro seja reeleito, a tendência é a de que as relações entre os dois países permaneçam distantes, a não ser que haja uma alteração significativa na política de meio ambiente do governo brasileiro.

O especialista afirma que, no caso de um terceiro nome vencer as presidenciais no Brasil, hipótese que considera "muito improvável" em função das pesquisas espontâneas a seis meses do pleito, "qualquer nome seria melhor do que o do Bolsonaro" para reaproximar a França do Brasil, mas ressalta que o avanço efetivo nessa direção dependeria das propostas desse eventual terceiro nome.

Macron foi reeleito com 58,6% dos votos, enquanto sua rival, Marine Le Pen, da direita radical, obteve 41,4%, o melhor resultado já conquistado pela Reunião Nacional (ex-Frente Nacional) em uma corrida presidencial na França.

A votação foi marcada por uma forte abstenção, de 28%, a segunda maior desde 1969, além de mais de 8% de votos em branco e nulos. Na França, o voto não é obrigatório.

Macron não tem boas relações com o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro (PL), que zombou da aparência da primeira-dama francesa, Brigitte Macron, nas redes sociais, causando indignação no governo francês, e cancelou um compromisso com o chanceler da França, Jean-Yves Le Drian, para cortar o cabelo.

Um forte ponto de atrito entre os dois chefes de Estado é o desmatamento da Amazônia, que já provocou várias trocas de farpas desde 2019, quando os incêndios na floresta ganharam destaque mundial.

No final do ano passado, Macron afirmou que a relação entre o Brasil e a França "já foi melhor" e ressaltou, em uma reunião do G20, a necessidade de ampliar a cooperação para a preservação da Amazônia.

O presidente francês também tem se recusado a avançar no processo de ratificação do acordo entre o Mercosul e a União Europeia, firmado em 2019 após 20 anos de negociações, devido à política ambiental do governo brasileiro.

No único debate desta campanha presidencial francesa, realizado entre Macron e Le Pen, às vésperas do segundo turno, quando o frango brasileiro foi evocado pela líder da direita radical como um exemplo de concorrência desleal, Macron retrucou que a França se recusou a avançar no acordo Mercosul-União Europeia.

Essa postura francesa ocorre, segundo Macron, porque não houve respeito dos compromissos climáticos do Acordo de Paris, nem da biodiversidade e ressaltou que a Europa propôs medidas para lutar contra o "desmatamento importado". Elas visam proibir a entrada no continente europeu de alguns produtos, como carne, soja, café e madeira, que provenham de áreas desmatadas.

Relação distante com a América Latina

A França (representada por Macron) comanda até o final de junho a presidência rotativa da União Europeia e espera obter um acordo sobre a proibição de importações ligadas ao desmatamento durante esse período.

A França também propôs, como lembrou Macron durante o debate na TV, incluir no acordo Mercosul-União Europeia a chamada "cláusula espelho", o que na prática obrigaria os produtores do Mercosul a respeitar as mesmas exigências que são feitas aos agricultores e industriais europeus. Essa proposta francesa também precisa ser aprovada pelos demais 26 países-membros da União Europeia.

Macron foi criticado por sua política ambiental, vista como insuficiente e deixada em segundo plano por uma parte da população.

Para conquistar o eleitorado jovem, que preferiu majoritariamente no primeiro turno o candidato Jean-Luc Mélenchon, da esquerda radical, e eleitores da esquerda em geral, Macron prometeu no final da campanha presidencial tornar a questão uma prioridade de seu segundo mandato, que começa em maio.

Nesse contexto político, dificilmente o líder francês mudará de posição em relação ao acordo Mercosul-União Europeia enquanto o Brasil continuar registrando recordes de desmatamento na Amazônia, como ocorreu no primeiro trimestre deste ano.

Analistas estimam que mudanças na política ambiental brasileira só poderiam ocorrer se um novo governo sair das urnas nas eleições presidenciais deste ano.

Mas, se Le Pen tivesse vencido as eleições presidenciais, as relações comerciais com o Brasil poderiam recuar. Além de restabelecer controles de mercadorias na fronteira, mesmo que elas já tivessem sido inspecionadas em outro país membro, o que violaria o acordo de livre circulação de mercadorias, Le Pen também queria excluir a agricultura dos acordos comerciais firmados pelo bloco europeu.

Macron não teve uma relação próxima com outros países da América Latina. Ele só visitou a Argentina para uma reunião do G20 e não fez nenhuma visita oficial à região, apesar da maior fronteira da França ser entre a Guiana Francesa e o Brasil.

'Bolsonaro não felicitou Macron por sua vitória na presidencial até o momento'.

O Itamaraty divulgou uma curta nota no dia seguinte à eleição francesa cumprimentando o presidente francês e reafirmando "a disposição do Brasil de trabalhar pelo aprofundamento dos laços históricos que unem os dois países".

Já os presidentes da Colômbia, da Argentina, do México e do Chile saudaram Macron, como também líderes de vários outros países, incluindo a Rússia.

Pré-candidatos às eleições presidenciais no Brasil, como João Doria (PSDB), Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB), felicitaram o presidente francês. Atual líder nas pesquisas, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) publicou em redes sociais uma foto sua ao lado de Macron e o cumprimentou "pela ampla vitória nas urnas", afirmando ainda torcer "pelo sucesso de seu governo."

Lula foi recebido por Macron no Palácio do Eliseu em novembro passado com o protocolo oficial tradicionalmente concedido a ex-chefes de Estado.

Embora Lula não ocupe nenhum cargo público, eles discutiram no encontro temas globais e ligados ao Brasil, como os impactos sociais da crise sanitárira, a transição climática e a luta contra o desmatamento.

Avanço da direita radical na França

'Marine Le Pen teve seu melhor desempenho em uma eleição presidencial'

Marine Le Pen disputou sua terceira eleição presidencial pela legenda fundada por seu pai, Jean-Marie Le Pen, nos anos 1970. Ela foi derrotada, mas teve um desempenho inédito, ultrapassando 40% dos votos. É um avanço considerável da direita radical na França, afirmam especialistas.

Le Pen moderou seu discurso, embora tenha mantido em seu programa vários fundamentos do partido da época de seu pai. Ela conquistou cerca de 2,6 milhões de votos a mais do que em 2017 e ampliou seu resultado no segundo turno em quase oito pontos percentuais.

Le Pen e Jean-Luc Mélenchon, da esquerda radical, que ficou em terceiro lugar no primeiro turno, com 22% dos votos, esperam agora conseguir um bom desempenho nas eleições legislativas de junho para impedir que Macron obtenha maioria parlamentar.

"Le Pen ganhou sua aposta, apesar de não ter vencido as eleições. Ela se projeta no horizonte dos próximos cinco anos (quando haverá uma nova disputa presidencial)", diz o professor Jean-Jacques Kourliandsky, do Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas e diretor do Observatório da América Latina da Fundação Jean Jaurès, ligada ao Partido Socialista.

Segundo o analista, a alta taxa de abstenção nessas eleições presidenciais francesas mostra que há uma "disfunção grave da democracia" e que, se os eleitores consideram que não vale a pena votar ou que é melhor protestar votando, a oferta política não corresponde mais às expectativas dos eleitores e o sistema eleitoral não permite uma representação desse eleitorado.

Como o Brasil, a França também está dividida. Em seu discurso após a divulgação de sua vitória, Macron prometeu unir o país. Mas a polarização na França é sobretudo de ordem econômica.

As pessoas de maior renda, com maior nível de ensino e de grandes centros urbanos, além de aposentados de classe média e alta, optaram mais por Macron. Já as classes de menor renda, operários, desempregados e moradores de pequenas localidades rurais, além de agricultores, preferiram Le Pen.

BBC Brasil

Rússia ataca alvos na Ucrânia para atrasar chegada de armas




Bombardeios atingiram subestações de energia em Lviv, próxima à fronteira com a Polônia e porta de entrada dos armamentos enviados pelo Ocidente. Moscou também intensifica ofensiva na região de Donbass, no leste do país.

As Forças Armadas da Rússia bombardearam diversos alvos em toda a Ucrânia na noite de terça-feira (03/05) e nesta quarta-feira. No oeste do país, foram atingidas infraestruturas de transporte e armazenamento que estariam sendo utilizadas para receber armamentos enviados pelo Ocidente. Ao mesmo tempo, houve uma intensificação da ofensiva de Moscou na região do Donbass, no leste do país.

Segundo os militares russos, foram usados mísseis de precisão, lançados a partir de submarinos e aviões, para destruir subestações de energia de cinco estações ferroviárias na Ucrânia.

Alguns dos ataques atingiram Lviv, cidade próxima à fronteira com a Polônia que tem sido a porta de entrada para o fornecimento de armas pela Otan. Explosões foram ouvidas na noite de terça-feira na cidade, que recebeu apenas ataques esporádicos durante a guerra e se tornou um porto seguro para os civis que fogem de outros lugares da Ucrânia.

O prefeito de Lviv disse que os bombardeios danificaram três subestações de energia, derrubando eletricidade em partes da cidade e interrompendo o fornecimento de água. Duas pessoas ficaram feridas.

O ministro da Defesa russo, Serguei Shoigu, reafirmou nesta quarta-feira que a Rússia tentará destruir comboios de armas enviadas pelo Ocidente. "Os Estados Unidos e seus aliados da Otan estão continuamente fornecendo armamento para a Ucrânia", disse. "Consideramos qualquer transporte da Otan chegando ao território do país com armamentos ou materiais destinados ao exército ucraniano como um alvo a ser destruído."

Apenas nesta quarta-feira, teriam sido 77 ataques de Moscou, que atingiram 36 alvos militares, derrubaram seis drones e mataram até 310 militares ucranianos, segundo o Ministério da Defesa russo. Não foi possível confirmar a informação de forma independente.

Expectativa sobre Dia da Vitória

A sequência de ataques ocorreu enquanto a Rússia se prepara para celebrar o Dia da Vitória em 9 de maio, que marca a derrota da Alemanha nazista para a União Soviética, na Segunda Guerra Mundial.

Neste ano, há expectativa para saber se o presidente russo, Vladimir Putin, aproveitará a ocasião para declarar uma vitória limitada na Ucrânia ou expandir o que ele tem chamado de "operação militar especial'' para uma guerra mais ampla.

'Analistas avaliam que Putin poderia usar celebração do Dia da Vitória, em 9 de maio, para declarar vitória parcial na Ucrânia ou decretar guerra total'

Uma declaração de guerra total permitiria a Putin decretar lei marcial e mobilizar reservistas para fazer frente à perda de militares russos no combate. O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, rejeitou na quarta-feira essa hipótese como "falsa" e "sem sentido".

Enquanto isso, Belarus, país que a Rússia utilizou como base de preparação para a sua invasão pelo norte da Ucrânia, anunciou a realização de exercícios militares. O Ministério da Defesa belarusso disse que os exercícios, que começaram nesta quarta-feira, não ameaçam nenhum vizinho, mas um alto funcionário ucraniano afirmou que o país estará pronto para reagir se Belarus se juntar à guerra.

Intensificação da batalha em Donbass

As armas de países do Ocidente enviadas à Ucrânia ajudaram suas forças a resistir à ofensiva inicial da Rússia e devem desempenhar um papel central na batalha pela região de Donbass, que Moscou considera sua prioridade no momento após não ter conseguido tomar o controle de Kiev nas primeiras semanas da guerra.

O governador de Donetsk, que fica na região do Donbass, disse que os ataques russos deixaram 21 mortos na terça-feira, o maior número de mortes conhecidas desde 8 de abril, quando um ataque com mísseis contra a estação ferroviária de Kramatorsk matou pelo menos 59 pessoas.

O ministro da Defesa da Ucrânia, Oleksandr Motuzyanyk, afirmou que a Rússia havia realizado 50 ataques aéreos na terça-feira, e que 18 foguetes haviam sido lançados de caças russos a partir do espaço aéreo do Már Cáspio. "O comando militar russo está tentando aumentar o ritmo de sua operação de ataque no leste da Ucrânia", afirmou.

A Rússia enviou um número significativo de militares para a região e parece estar tentando avançar pelo norte enquanto tenta cortar as forças ucranianas, de acordo com uma análise do Ministério da Defesa britânico. Mas militares ucranianos têm contido a investida usando armas de longo alcance para atingir os russos.

Cerco a siderúrgica

Militares da Ucrânia afirmaram na terça-feira que as forças russas teriam começado a invadir a siderúrgica de Azovstal, em Mariupol, onda há militares e civis ucranianos abrigados e sob cerco de Moscou. Mas o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, negou na quarta-feira que isso esteja ocorrendo.

"Não há assalto. Vemos que há casos de escalada devido ao fato de que os combatentes assumem posições de tiro. Essas tentativas estão sendo reprimidas muito rapidamente", disse Peskov.

Serguei Shoigu, o ministro da Defesa russo, afirmou que os combatentes na siderúrgica haviam sido "bloqueados de forma segura" no seu interior, enquanto as forças russas continuam a exigir sua rendição – algo que eles se recusaram repetidamente a fazer.

No final de semana, 101 pessoas, incluindo mulheres, idosos e 17 crianças, as mais novas de 6 meses, foram retiradas com sucesso da siderúrgica, onde estavam abrigadas desde o início da guerra, há dois meses.

Não está claro quantos combatentes ucranianos ainda estão lá dentro. Os militares russos estimam que seriam cerca de 2 mil, dos quais 500 estariam feridos. Algumas centenas de civis também permanecem no local, segundo a vice-primeira-ministra ucraniana, Iryna Vereshchuk.

Novas sanções

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, propôs nesta quarta-feira o sexto pacote de sanções contra Moscou, que inclui o embargo gradual às importações de petróleo da Rússia.

Pela proposta, os países da União Europeia reduziriam a participação russa no fornecimento da commodity ao longo do ano de modo a alcançar o banimento total no final de 2022. Segundo fontes da Comissão, a proposta prevê exceções a Hungria e Eslováquia, que são altamente dependentes do petróleo russo e não têm acesso ao mar. Para esses dois países, o período de transição deverá ser estendido até o fim de 2023. As medidas precisam da aprovação unânime dos países do bloco.

O novo pacote de sanções também prevê a inclusão de mais nomes na lista de restrições, incluindo militares de alta patente e indivíduos relacionados ao massacre de Bucha, e a suspensão do banco Sberbank, o maior da Rússia, e de mais dois outros dois grandes bancos do sistema de transições interbancárias Swift.

Deutsche Welle

Na Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT) recebe o apoio de mais de 100 lideranças políticas

 


Na última segunda-feira, 2, o pré-candidato ao governo da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT), esteve na cidade de Santa Maria da Vitória, na Bacia do Corrente, oeste da Bahia. Apoiado pelo ex-presidente Lula (PT) e o governador Rui Costa (PT), a candidatura de Jerônimo tem ganhado o apoio de lideranças importantes do interior baiano. Desta vez, […]

Na Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT) recebe o apoio de mais de 100 lideranças políticas apareceu primeiro em O Cafezinho.

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MP-BA quer que prefeitura retire mesas e cadeiras colocadas na rua por bares em bairros boêmios de Salvador

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