Por José Nêumanne (foto)
Em Nêumanne entrevista, Joaquim Falcão relata cenário eleitoral brasileiro como resultado da angústia, detectada pelo sociólogo Lavareda, e do pânico, que ele considera efeito dela
Na entrevista publicada nesta semana no canal José Nêumanne Pinto no YouTube, o primeiro-secretário da Academia Brasileira de Letras, Joaquim Falcão, fez uma declaração estarrecedora: “o Brasil vive uma crise de angústia”. Leu-a no livro Emoções Ocultas e Estratégias Eleitorais, do especialista em pesquisas Antônio Lavareda. E o professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) completou com outra bomba, da própria lavra: “E começa a entrar em pânico”. O tema da conversa é um assunto que, nos velhos tempos, se chamaria de cabuloso: a condenação do deputado bolsonarista Daniel Silveira a oito anos e nove meses, a ter cumprimento iniciado em cela de cadeia, e a anulação da pena por concessão pessoal, parcial e intransferível do ídolo dele, o presidente Jair Bolsonaro.
Lúcido, inteligente e corajoso, o jurista, que se especializou em analisar as decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) com profunda serenidade, não pretendeu assustar ninguém nem fazer estardalhaço. Mas apenas mediu a temperatura política desta temporada pré-eleitoral, em que, como lembrou o colega Josias de Souza na UOL, o candidato à reeleição desafia a autoridade da última instância de nossa Justiça. E rasga os preceitos constitucionais e legais que garantem a igualdade da disputa eleitoral a ser efetivada daqui a cinco meses. Logo ali, na primeira curva do caminho, o capitão que saiu do Exército acusado de terrorismo, mercê de graça parcial e corporativista de oito dos doze membros do plenário do Superior Tribunal Militar depois de condenado em primeira instância com excesso de provas a 30 anos de prisão, abusou da regra três, onde o menos vale mais. O doutor em educação pela Universidade de Genebra, Suíça, passou ao largo da demonização generalizada da tal polarização, que torna a disputa nas urnas uma guerra de bandidos profissionaisl E constata o óbvio ululante (apud Nelson Rodrigues) de que o candidato da direita estúpida detém o monopólio absoluto da narrativa do debate eleitoral de baixos calão e padrão. No “pugilato tremendo” a que se refere Castro Alves na obra-prima O Livro e a América, neste caso o porvir não vence, mas, ao contrário, é derrotado de forma fragorosa.
Este escriba, mais ousado do que corajoso, toma aqui emprestada a lente translúcida da análise com que foram presenteados os espectadores da entrevista para citar como exemplos dois fatos que não chegaram a ser abordados pelo autor de Mensalão, Diário de um Julgamento. A primeira abordagem a ser feita diz respeito à constatação, também indiscutível, de que tudo quanto tem sido argumentado para condenar e punir o ex-PM do Rio com tanto peso não passa de uma imitação de baixíssimo clero da plêiade de crimes eleitorais infringidos por seu candidato e comandante, Jair Bolsonaro. Este tem cuspido e rasgado os códigos jurídicos vigentes sem ser detido em seu avanço desaforado e desrespeitoso na desmoralização das instituições e de seus guardiões. O chefe do desgoverno federal inspira, incentiva e participa de manifestações públicas contra a lei e a ordem, de cuja fictícia defesa assumiu protagonismo na caça aos votos, em 2018, imitando as motociatas de Mussolini na Itália há um século. E nas ameaças explícitas a quem o critica, mesmo sem agir, de facto, para detê-lo. Nunca tantos foram tão covardes na defesa da letra constitucional, abusando desta pelo falso apelo a seu nobre instituto mantenedor do espírito das leis e da prática do governo do povo, pelo povo e com o povo.
A angústia, detectada por Lavareda e reproduzida por Falcão, vem do absurdo de não punir o chefe do batalhão, substituindo-o pelo meganha raso do fim do pelotão. O fato de o reles Silveira ser chamado a pagar as penas que deveriam ser aplicadas a seu profeta de más intenções, palavras e decisões é que o torna um réprobo tornado herói. E ainda sua condição de condenado e preso por responder por crime de terceiro, embora próximo. A vaga garantida na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara é a prova mais cabal de que o Poder Legislativo, tido como representante direto da cidadania, não passa de um álibi surreal de um sistema que se orgulha de agraciar o criminoso, condenar o juiz e tratar a lei como trapo colorido.
O entrevistado permitirá, por especial obséquio, ao entrevistador a lembrança de que o monopólio da disputa entre mentiras proferidas nos palanques adversos como tábuas da lei ocorre porque nesse sórdido sistema os pretensos contendores são, na verdade, cúmplices no desgoverno e na desrepresentação. Com a licença devida ao neologismo complicado. Na falsa quarta-feira de cinzas de um carnaval fora do tempo, com a quaresma tendo o sentido invertido na fé popular, o falso adversário do desgovernante, investido com a autoridade da oposição de araque, que confirma a peleja democrática, ajuda na condução da procissão do pânico. O ex-dirigente sindical, que nunca trabalhou na vida, já se tinha dado ao luxo de substituir a Bandeira Nacional, instituição da República, e em conseqüência da democracia, por um farrapo vermelho, que representa o sangue, o suor e as lágrimas do povo jogado ao relento das calçadas por uma elite política nojenta e pusilânime. Lulinha da Silva Guerra e Ódio abandona todos os hinos da representação coletiva da Nação – o Nacional, o da Independência, o dos Expedicionários, que ajudaram a conjurar o nazifascismo na Itália, etc., pela representação musical de um fiasco total chamado comunismo, socialismo ou seja qual for sua denominação. Ao lado do favorito à própria reeleição (pela segunda vez), a tal da social-democracia confirmava a derrota no Brasil das “vítimas da fome”, deixadas para trás aqui depois de serem assassinadas aos milhões por assassinos bestiais, como Stalin, Pol Pot, Mao, Hoxxa, Fidel e todos os seus flagelos.
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Na entrevista publicada nesta semana no canal José Nêumanne Pinto no YouTube, o primeiro-secretário da Academia Brasileira de Letras, Joaquim Falcão, fez uma declaração estarrecedora: “o Brasil vive uma crise de angústia”. Leu-a no livro Emoções Ocultas e Estratégias Eleitorais, do especialista em pesquisas Antônio Lavareda. E o professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) completou com outra bomba, da própria lavra: “E começa a entrar em pânico”. O tema da conversa é um assunto que, nos velhos tempos, se chamaria de cabuloso: a condenação do deputado bolsonarista Daniel Silveira a oito anos e nove meses, a ter cumprimento iniciado em cela de cadeia, e a anulação da pena por concessão pessoal, parcial e intransferível do ídolo dele, o presidente Jair Bolsonaro.
Lúcido, inteligente e corajoso, o jurista, que se especializou em analisar as decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) com profunda serenidade, não pretendeu assustar ninguém nem fazer estardalhaço. Mas apenas mediu a temperatura política desta temporada pré-eleitoral, em que, como lembrou o colega Josias de Souza na UOL, o candidato à reeleição desafia a autoridade da última instância de nossa Justiça. E rasga os preceitos constitucionais e legais que garantem a igualdade da disputa eleitoral a ser efetivada daqui a cinco meses. Logo ali, na primeira curva do caminho, o capitão que saiu do Exército acusado de terrorismo, mercê de graça parcial e corporativista de oito dos doze membros do plenário do Superior Tribunal Militar depois de condenado em primeira instância com excesso de provas a 30 anos de prisão, abusou da regra três, onde o menos vale mais. O doutor em educação pela Universidade de Genebra, Suíça, passou ao largo da demonização generalizada da tal polarização, que torna a disputa nas urnas uma guerra de bandidos profissionaisl E constata o óbvio ululante (apud Nelson Rodrigues) de que o candidato da direita estúpida detém o monopólio absoluto da narrativa do debate eleitoral de baixos calão e padrão. No “pugilato tremendo” a que se refere Castro Alves na obra-prima O Livro e a América, neste caso o porvir não vence, mas, ao contrário, é derrotado de forma fragorosa.
Este escriba, mais ousado do que corajoso, toma aqui emprestada a lente translúcida da análise com que foram presenteados os espectadores da entrevista para citar como exemplos dois fatos que não chegaram a ser abordados pelo autor de Mensalão, Diário de um Julgamento. A primeira abordagem a ser feita diz respeito à constatação, também indiscutível, de que tudo quanto tem sido argumentado para condenar e punir o ex-PM do Rio com tanto peso não passa de uma imitação de baixíssimo clero da plêiade de crimes eleitorais infringidos por seu candidato e comandante, Jair Bolsonaro. Este tem cuspido e rasgado os códigos jurídicos vigentes sem ser detido em seu avanço desaforado e desrespeitoso na desmoralização das instituições e de seus guardiões. O chefe do desgoverno federal inspira, incentiva e participa de manifestações públicas contra a lei e a ordem, de cuja fictícia defesa assumiu protagonismo na caça aos votos, em 2018, imitando as motociatas de Mussolini na Itália há um século. E nas ameaças explícitas a quem o critica, mesmo sem agir, de facto, para detê-lo. Nunca tantos foram tão covardes na defesa da letra constitucional, abusando desta pelo falso apelo a seu nobre instituto mantenedor do espírito das leis e da prática do governo do povo, pelo povo e com o povo.
A angústia, detectada por Lavareda e reproduzida por Falcão, vem do absurdo de não punir o chefe do batalhão, substituindo-o pelo meganha raso do fim do pelotão. O fato de o reles Silveira ser chamado a pagar as penas que deveriam ser aplicadas a seu profeta de más intenções, palavras e decisões é que o torna um réprobo tornado herói. E ainda sua condição de condenado e preso por responder por crime de terceiro, embora próximo. A vaga garantida na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara é a prova mais cabal de que o Poder Legislativo, tido como representante direto da cidadania, não passa de um álibi surreal de um sistema que se orgulha de agraciar o criminoso, condenar o juiz e tratar a lei como trapo colorido.
O entrevistado permitirá, por especial obséquio, ao entrevistador a lembrança de que o monopólio da disputa entre mentiras proferidas nos palanques adversos como tábuas da lei ocorre porque nesse sórdido sistema os pretensos contendores são, na verdade, cúmplices no desgoverno e na desrepresentação. Com a licença devida ao neologismo complicado. Na falsa quarta-feira de cinzas de um carnaval fora do tempo, com a quaresma tendo o sentido invertido na fé popular, o falso adversário do desgovernante, investido com a autoridade da oposição de araque, que confirma a peleja democrática, ajuda na condução da procissão do pânico. O ex-dirigente sindical, que nunca trabalhou na vida, já se tinha dado ao luxo de substituir a Bandeira Nacional, instituição da República, e em conseqüência da democracia, por um farrapo vermelho, que representa o sangue, o suor e as lágrimas do povo jogado ao relento das calçadas por uma elite política nojenta e pusilânime. Lulinha da Silva Guerra e Ódio abandona todos os hinos da representação coletiva da Nação – o Nacional, o da Independência, o dos Expedicionários, que ajudaram a conjurar o nazifascismo na Itália, etc., pela representação musical de um fiasco total chamado comunismo, socialismo ou seja qual for sua denominação. Ao lado do favorito à própria reeleição (pela segunda vez), a tal da social-democracia confirmava a derrota no Brasil das “vítimas da fome”, deixadas para trás aqui depois de serem assassinadas aos milhões por assassinos bestiais, como Stalin, Pol Pot, Mao, Hoxxa, Fidel e todos os seus flagelos.
*Jornalista, poeta e escritor
Blog do José Neumanne