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quarta-feira, janeiro 05, 2022

Como diferentes países estão enfrentando a variante ômicron




Contagiosa cepa do coronavírus desencadeou novas medidas mundo afora, de doses de reforço a lockdowns, restrições de viagem e redução do período de quarentena.

Por Beatrice Christofaro

Neste início de 2022, o terceiro ano em que o mundo convive com a pandemia de covid-19, muitos países estão enfrentando novos surtos causados pela contagiosa variante ômicron.

A seguir, algumas das medidas adotadas mundo afora:

Quarta dose em Israel

Um dos pioneiros na vacinação contra a covid-19, Israel está apostando no reforço da imunização. É o primeiro país a oferecer amplamente uma quarta dose para conter a onda de ômicron.

Inicialmente, somente imunodeprimidos receberam a dose adicional, mas desde o último domingo (02/01), pessoas acima dos 60 e profissionais da área da saúde também podem obter o reforço.

No ano passado, Israel foi o primeiro país a oferecer doses de reforço. Agora, novos dados sobre a eficácia de uma quarta dose deverão ser úteis para outros países.

Lockdowns na Holanda e na Áustria

Para conter a disseminação da ômicron, a Holanda impôs um lockdown nacional em dezembro. Todos os estabelecimentos comerciais não essenciais permanecerão fechados até 9 de janeiro.

As medidas, que também afetaram as celebrações de fim de ano, se mostraram impopulares. Nos mais recentes protestos, no primeiro domingo do ano, milhares desafiaram uma proibição de reunião em Amsterdã para marchar contra o lockdown.

Em novembro, a Áustria também impôs um lockdown nacional por três semanas, interrompendo com sucesso uma alta nos casos de covid-19. Agora, a maioria das regiões do país aplicam as medidas apenas a pessoas não vacinadas, que só têm autorização para sair de casa para atividades essenciais, como ir ao supermercado ou ao médico.

Restrições de entrada no Japão e na Tailândia

Enquanto países asiáticos conseguiram em grande parte conter a ômicron até agora, muitos estão se preparando para uma possível alta de casos. A Índia viu um aumento significativo nas infecções nos últimos dias.

Assim que os primeiros casos da variante foram detectados, governos como os do Japão e da Tailândia reimpuseram restrições de viagem nas últimas semanas.

A maioria dos estrangeiros está proibida de entrar no Japão. O país tem atualmente regras de viagem que estão entre as mais rígidas do mundo.

Na Tailândia, cujo setor turístico foi duramente afetado pela pandemia, estrangeiros ainda podem entrar, mas precisam fazer quarentena. Um programa de entrada apenas mediante teste negative foi suspenso.

Quarentena em debate na Alemanha

Pouco depois do Natal, a Alemanha se preparou para uma possível onda de ômicron introduzindo novas restrições e encontros privados e proibindo grandes eventos.

O governo está debatendo se deveria encurtar o período de quarentena de 14 dias para pessoas que testaram positivo para a acovid-19 ou foram expostas à doença.

Especialistas afirmaram estar preocupados com a infraestrutura essencial, como o setor de saúde, a polícia e os bombeiros, se muitas pessoas tiverem que ficar em isolamento ao mesmo tempo.

Se encurtar a quarentena, a Alemanha seguiria o exemplo da França e da Espanha, que reduziram o período de isolamento de dez para sete dias. Na França, isso se aplica somente aos totalmente vacinados, e estes podem encurtar a quarentena ainda mais, para cinco dias, se tiverem um teste PCR negativo.

Isolamento mais curto nos EUA

Enquanto a Alemanha discute encurtar o período de isolamento, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos EUA está revisando se o período de quarentena exigido deveria ser mais longo.

No momento, os infectados ou expostos ao coronavírus têm que se isolar por apenas cinco dias. Críticos afirmam que a medida coloca a produtividade à frente da saúde e poderia fazer com que as pessoas voltassem ao trabalho enquanto ainda estão contagiosas.

A alta de casos provocada pela ômicron também expôs uma falta de testes no país, que o presidente Joe Biden prometeu retificar.

Deutsche Welle

Biden e Trump se enfrentam à distância, um ano após o ataque ao Capitólio




Adversários no passado e talvez no futuro, Joe Biden e Donald Trump vão depor separadamente nesta quinta-feira (6), um ano após o ataque de 6 de janeiro ao Capitólio.

O ex-presidente republicano foi o primeiro a anunciar que daria uma entrevista coletiva de sua mansão na Flórida, enquanto em Washington o Congresso relembrará dos ataques de 6 de janeiro de 2021.

E afirmou: "Lembre-se que a insurreição aconteceu no dia 3 de novembro", dia das eleições presidenciais que o republicano afirma, sem a menor prova, ter vencido. De acordo com as pesquisas, a maioria dos apoiadores republicanos também pensa assim.

Trump, que perdeu as eleições de 2020 por mais de sete milhões de votos para o democrata Biden, não pretende ser discreto, apesar da investigação parlamentar que tenta esclarecer se ele e seu entorno desempenharam algum papel neste ataque que chocou os Estados Unidos.

Muito pelo contrário: o ex-presidente busca uma cisão no seu partido e afastar todos aqueles que não apoiam o seu discurso de que as eleições foram roubadas.

"Pode-se dizer que o comportamento de Trump não tem precedentes na história americana. Nenhum ex-presidente tentou tanto desacreditar seu sucessor e o processo democrático", avalia Carl Tobias, professor de direito da Universidade de Richmond.

Resta saber sobre o que Biden falará nesta quinta-feira no Capitólio, local onde milhares de apoiadores de seu adversário republicano tentaram impedir que o Congresso certificasse a eleição presidencial.

Biden insiste em que a democracia americana está em um "ponto de inflexão" e que ele pode salvá-la.

"O presidente falará sobre o trabalho que ainda resta a fazer para garantir e fortalecer a nossa democracia e nossas instituições, para rejeitar o ódio e as mentiras que vimos em 6 de janeiro, para unir o país", declarou nesta terça-feira a porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki.

Desde que foi eleito, Biden relutou em enfrentar o "outro", fórmula usada pelo presidente democrata e pela Casa Branca para evitar nomear quem, talvez, terá que se enfrentar novamente nas eleições de 2024.

Oficialmente, Biden pretende concorrer novamente e o republicano dá a entender que considera a possibilidade.

Para Lara Brown, professora de ciência política da George Washington University, "o presidente e a vice-presidente (Kamala) Harris não podem entrar neste campo de 'ataque verbal direto' porque eles não querem dar a impressão de uma 'caça às bruxas'" orquestrada pela Casa Branca, como Trump costuma dizer.

- "Ingênuo" -

"A administração Biden acreditava que, tomando decisões políticas corretas, tudo isso desapareceria, mas acho que isso é ser ingênuo", completou.

Segundo Biden, a melhor forma de enfrentar Trump seria reconciliar a classe média americana com a democracia representativa, garantindo empregos, poder de compra e serenidade diante da globalização.

Mas o presidente demora a alcançar os resultados esperados: os Estados Unidos sofrem uma nova onda da pandemia, suas reformas sociais estão paralisadas no Congresso, o custo de vida está aumentando...

Rachel Bitecofer, uma estrategista próxima ao campo democrata, acredita que Biden deveria enfrentar Trump e o Partido Republicano de forma mais direta.

Diante de um Trump que acaba de endossar o líder húngaro ultraconservador Viktor Orban em um comunicado, "devemos ser muito francos sobre o que isso significa", diz.

É, segundo Bitecofer, uma forma do ex-presidente transmitir "o que ele quer para os Estados Unidos e não é um futuro democrático".

Mas "há relutância em reconhecer o quão forte é o ataque da direita à democracia", diz ela.

"As ameaças atuais contra a democracia são reais e preocupantes", diz Carl Tobias, mas "os Estados Unidos superaram crises muito mais perigosas, especialmente a Guerra Civil".

AFP / Estado de Minas

Como imunizantes contra covid-19 podem alavancar vacinas que combatem câncer




Vacinas personalizadas contra câncer partem da amostra de sangue e de tumores dos pacientes, dos quais se faz uma análise genética

Por Mariana Alvim, em São Paulo

Em meados de novembro, representantes de duas das principais fabricantes de vacinas contra a covid-19, a BioNTech e a Moderna, se reuniram em um congresso nos Estados Unidos para discutir a "volta ao câncer" no desenvolvimento de vacinas de RNA.

O título do evento, "Vacinas de RNA: da covid de volta ao câncer", explicita o desvio inesperado na trajetória dessas jovens empresas de biotecnologia, fundadas há cerca de uma década: elas foram criadas tendo como um dos principais objetivos o desenvolvimento de terapias de RNA contra o câncer, mas com a pandemia de coronavírus, acabaram usando a tecnologia para criar imunizantes contra a covid-19 em tempo recorde.

A vacina da BioNTech, em parceria com a Pfizer, foi a primeira a ser aprovada para uso emergencial contra a covid-19 nos Estados Unidos, em dezembro de 2020; poucos dias depois naquele mês, foi dado o aval para o imunizante da Moderna, que também usa a tecnologia de RNA. Das duas, apenas a vacina da Pfizer/BioNTech é aplicada no Brasil.

Mas essas vacinas não conquistaram apenas a marca de serem as primeiras aprovadas para covid-19 nos EUA. Na verdade, elas foram as primeiras de tecnologia RNA na história a serem permitidas para uso em humanos e comercialização — considerando não apenas a covid, mas todas as doenças.

"Construímos uma tecnologia que nos permitiu trazer uma vacina dentro de algumas semanas, e quando a pandemia estourou, percebemos que essa tecnologia também poderia usada para trazer uma potente vacina contra a covid, no menor tempo possível" relatou o diretor executivo da BioNTech, Uğur Şahin, no congresso anual da Sociedade para Imunoterapia de Câncer dos EUA (SITC).

'Construímos uma tecnologia que nos permitiu trazer uma vacina dentro de algumas semanas', comemorou Uğur Şahin, diretor executivo da BioNTech

"O processo para fazer uma vacina de mRNA personalizada contra câncer, versus o processo de fazer uma vacina de mRNA contra o SARS-CoV-2, é exatamente o mesmo. Isso significa que a tecnologia desenvolvida para tratar de um único paciente é a mesma adaptada para vacinas contra a covid-19 para grandes populações."

Depois da corrida inesperada provocada pela covid-19, especialistas na tecnologia de RNA avaliam que as conquistas científicas durante a pandemia poderão impulsionar também tratamentos contra o câncer através de vacinas.

Vacina contra o câncer — como assim?

Imunizantes como da BioNTech e da Moderna, baseados em RNA, são um tipo de vacina gênica. Esta categoria é mais moderna do que vacinas tradicionais com vírus inativado, que vêm sendo usadas há décadas para proteger contra contra hepatite A, poliomielite — e também teve uma contra a própria covid-19, como a CoronaVac.

Ao falar de genética, que é a área das vacinas gênicas, surgem letrinhas que são bastante conhecidas: o DNA e o RNA. O DNA é composto por uma fita dupla de códigos, formando uma hélice; e o RNA, por uma fita simples que levará à produção de proteínas a partir do código genético do DNA.

Uma boa analogia apresentada pelo repórter Tim Smedley em uma matéria recente da BBC Future é: se o DNA fosse um cartão de banco, o RNA seria como o leitor desse cartão.

Há vacinas de DNA em estudo, mas vamos falar aqui das de RNA, que estão unindo tecnologias que podem servir da covid-19 ao câncer.

Enquanto vacinas tradicionais entregam ao corpo um pedacinho inofensivo do vírus, incapaz de provocar doença ou deixar o patógeno se reproduzir, as de RNA consistem em um código genético criado em laboratório que levará à produção de proteínas simulando as do vírus, provocando então uma resposta do sistema de defesa. Por transmitir essas instruções, o nome completo dessa tecnologia é RNA mensageiro (mRNA).

As vacinas de RNA contra a covid-19 orientam as células humanas a produzirem cópias da proteína spike encontrada na superfície do coronavírus. Essa produção é incapaz de provocar uma infecção de verdade.

Como disse o próprio diretor da BioNTech, Uğur Şahin, no congresso da SITC, as etapas de produção de uma vacina de RNA contra a covid-19 são bem parecidas com aquelas contra o câncer.

'A BioNTech e Moderna usaram tecnologias que vinham desenvolvendo contra o câncer para produzir vacinas de RNA contra a covid-19'

A BioNTech e a Moderna têm trabalhado com a proposta das vacinas personalizadas contra o câncer.

Nelas, em vez de cientistas coletarem o material genético de um vírus, eles extraem amostras do sangue, tecidos ou mesmo do tumor de um paciente; identificam mutações e outras informações genéticas; e em seguida produzem proteínas simulando a composição de células malignas. O objetivo, novamente, é levar a uma resposta imune do corpo.

Mas diferente das vacinas contra a covid-19, destinadas a milhões de pessoas ao redor do mundo como estratégia de prevenção, os tratamentos personalizados propostos contra o câncer serviriam para pessoas já diagnosticadas com a doença — e seriam no geral customizados individualmente, com a análise do DNA de cada paciente e identificação de mutações e outras características das células cancerosas.

Sediada na Alemanha, a BioNTech tem atualmente dois produtos na fase 2 de ensaios clínicos (testes com humanos, que costumam ter três fases) que consistem em vacinas para câncer: iNeST e FixVac.

A iNeST tem uma proposta altamente individualizada e linhas em estudo na fase 2 contra um tipo de câncer de pele melanoma e o câncer colorretal, em parceria com a empresa Genentech. Já a vacina FixVac serviria para grupos de pacientes com tipos parecidos de câncer e tem na fase 2 suas linhas para tratamento de melanoma avançado e cânceres de cabeça e pescoço induzidos pelo vírus HPV (papilomavírus humano).

A Moderna não tem as letras "rna" no seu nome por acaso — a empresa fundada nos EUA tem esta tecnologia como foco, e tratamentos experimentais contra o câncer são um dos investimentos da empresa. Atualmente, ela tem a Vacina Personalizada contra Câncer (PCV, ou mRNA-4157) na fase 2 de ensaios clínicos, e a vacina KRAS na fase 1. Ambas têm participação da farmacêutica Merck.

A PCV propõe-se a tratar vários tipos de câncer, mas a fase 2 dos ensaios clínicos está trabalhando especificamente com pacientes com melanoma. Já a vacina KRAS mira cânceres que têm mutações frequentes no gene KRAS, sobretudo os de pâncreas, pulmão e colorretal.

Também no congresso da SITC, o diretor clínico da Moderna, Robert Meehan, afirmou que os testes com a vacina personalizada mRNA-4157 acabaram ajudando para que a empresa pudesse rapidamente desenvolver sua vacina contra a covid-19 (mRNA-1273).

"A mRNA-4157 ajudou a preparar o terreno — com prazo de 6 a 8 semanas desde a coleta de amostras do tumor ou do sangue até a entrega das vacinas para pacientes com câncer — para a entrega do primeiro lote de mRNA-1273 ocorrer em 25 dias, do sequenciamento ao término da produção", comemorou Meehan.

"A mRNA-1273 foi (resultado de) um acúmulo de 10 anos de pesquisas básicas e clínicas na Moderna."

A empresa americana está testando também vacinas de RNA contra os vírus da gripe, HIV e zika, além de doenças autoimunes e outras condições de saúde. A BioNTech também está na fase de estudos pré-clínicos (ainda sem humanos) com vacinas de RNA contra o HIV, tuberculose e malária, entre outros.

A reportagem tentou entrevistas com representantes dessas empresas, mas não obteve resposta.

Pesquisa no Brasil contra o HPV

A cientista Jamile Ramos da Silva, doutora em ciências pela Universidade de São Paulo (USP), explica que o estudo de vacinas de RNA começou a tomar corpo nos anos 1990.

"Só que por muito tempo, essas vacinas se mostravam altamente frágeis: se você simplesmente inocular esse RNA, ele pode ser entendido pelo corpo humano como infecção e ser destruído (antes de ele produzir o efeito desejado). O nosso corpo não era preparado pra enxergar isso como vacina, e as tecnologias foram aprimoradas ao longo do tempo", conta a pesquisadora, que defendeu sua tese de doutorado no início de dezembro, explorando três tipos de vacinas baseadas em RNA para tratamento de tumores induzidos pelo HPV.

Para impedir a destruição imediata do RNA, uma solução que passou a ser estudada foi envolver este material genético em uma capa de gordura, as chamadas nanopartículas lipídicas. Em 2005, foi publicado um artigo científico demonstrando que essas nanopartículas poderiam ser produzidas em escala; e em 2018, o FDA (a agência eguladora de medicamentos dos EUA) aprovou pela primeira vez um medicamento que envolve a entrega do RNA encapsulado por uma nanopartícula lipídica.

"Essa capa de gordura é muito semelhante à composição da membrana plasmática das nossas células. Isso permite que, no corpo humano, elas não sejam tóxicas, não gerem reação."

A solução reanimou o desenvolvimento de vacinas de RNA para infecções virais, câncer, entre outras doenças.

Jamile da Silva é pesquisadora colaboradora da ImunoTera, uma empresa de biotecnologia fundada por pesquisadoras que estudavam juntas no Instituto de Ciências Biomédicas da USP e tiveram incentivos da universidade para empreender. Por isso, a ImunoTera é chamada de uma spin-off da USP, ou seja, uma empresa derivada das pesquisas realizadas na universidade.

A ImunoTera, sediada em São Paulo, está se preparando para realizar nos próximos anos ensaios clínicos com candidatas a vacinas terapêuticas contra o câncer, incluindo as de RNA. A empresa explora também tratamentos contra doenças infecciosas.

'Luana Moraes, Jamile Ramos da Silva e Bruna Porchia estão estudando aplicações da tecnologia de RNA na ImunoTera, empresa nascida na USP'

A tecnologia patenteada pela ImunoTera junta uma proteína ativadora ao chamado antígeno viral — ou seja, uma proteína correspondente ao vírus que se quer combater. Em sua pesquisa de doutorado, orientada pelo professor Luís Carlos de Souza Ferreira, Jamile Ramos da Silva usou a plataforma da ImunoTera contendo um antígeno do HPV, o vírus do papiloma humano, que pode causar alguns tipos de câncer.

A pesquisadora também fez um período do doutorado na Universidade da Pensilvânia, EUA, instituição de referência nos estudos com vacinas de RNA.

Já existe uma vacina preventiva contra o HPV, aplicada gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil em meninas de 9 a 14 anos e meninos de 11 a 14 anos idade, além de alguns grupos específicos. Esta não é uma vacina de RNA, mas sim do tipo recombinante.

Já as vacinas de RNA em estudo e que têm como alvo o HPV visam ajudar no tratamento de cânceres induzidos por este vírus. Em seu trabalho de doutorado, Jamile da Silva afirma ter tido resultados "altamente promissores" nos três tipos de vacina de RNA que testou em camundongos.

Fundadora e diretora científica da ImunoTera, Bruna Porchia Ribeiro ressalta que o futuro das vacinas terapêuticas provavelmente não as colocará como tratamento único contra o câncer. Elas deverão ser associadas a outras intervenções, como a quimioterapia e a radioterapia.

"Dificilmente a gente vai ter um único remédio pra tratar (câncer). A gente tem uma gama enorme de tipos de câncer — cada um tem a sua peculiaridade, a sua forma de tratamento. Associar terapias realmente é uma estratégia que vem sendo muito debatida nessa área e explorada por outros pesquisadores. Você tem a chance de diminuir a quimioterapia e trazer mais qualidade de vida pro paciente associando à imunoterapia. Esse é o caminho para tratamento de câncer para os próximos anos", diz Porchia.

Uma 'nova era da medicina'

'Análise genética permite identificar mutações e características das células cancerosas — e a partir disso, uma vacina de RNA pode ser produzida'

Jamile Ramos da Silva lembra que, ao iniciar seu doutorado em 2016, resultados positivos com vacinas de RNA estavam começando a aparecer, mas eram incipientes. Agora, finalizado o doutorado e uma pandemia de coronavírus depois, ela enxerga que a tecnologia avançou para outro patamar.

"Como na pandemia tivemos a necessidade de desenvolver vacinas mais rápidas e seguras, foi uma oportunidade de testar isso em ensaios clínicos e mostrar que, de fato, essas vacinas são passíveis de serem utilizadas em humanos. Porque a gente não tinha anteriormente nenhuma aprovada e licenciada. Isso abre um leque para que sejam testadas outras vacinas, não só contra a covid, mas também para imunoterapia (para câncer)", aponta a cientista.

Além da eficácia e segurança demonstradas nos ensaios clínicos e na própria imunização de grandes populações durante a pandemia, as vacinas de RNA disseminaram a tecnologia e deram um lucro sem precedentes a empresas que estão explorando sua aplicação em outras doenças, com destaque ao câncer. Isso deverá também alavancar a área da imunoterapia.

Um relatório para investidores da BioNTech mostrou que, considerando o período de janeiro a setembro, a receita da empresa saltou de €136,9 milhões (R$ 872 milhões) em 2020 para €13,4 bilhões (R$ 86 bilhões) em 2021. Para o mesmo período de nove meses, a Moderna divulgou ter tido receita de US$ 232 milhões em 2020 e, em 2021, de US$ 11,2 bilhões. Ambas companhias atribuíram estes expressivos aumentos na receita às vacinas contra a covid-19.

O oncologista Alessandro Leal destaca que, embora a pandemia de coronavírus tenha deixado um "grande legado" para o desenvolvimento de vacinas de RNA, a proposta para o câncer é diferente.

"Todo mundo infectado com a covid-19 tem a proteína spike (circulando no organismo), então a vacina pode ser universal. Só que nossos traços genéticos são diferentes: a gente espera que os traços genéticos dos tumores das pessoas sejam diferentes. Então é preciso fazer uma vacina específica para o sistema imunológico reconhecer as mutações, as alterações genéticas do tumor de uma pessoa ou de outra", aponta Leal, membro da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) e consultor médico do Programa de Medicina de Precisão do Hospital Albert Einstein, em São Paulo.

"É algo que acompanha uma nova era da medicina, que a gente conhece como medicina personalizada ou de precisão. O desenvolvimento de novas tecnologias de sequenciamento genético tem permitido a individualização do tratamento", aponta Leal.

Entretanto, o oncologista destaca que personalização implica em altos custos, o que não é trivial no leque de tratamentos para câncer, que já são caros.

"Quando você tem esse nível de individualização, há aumento de custos", diz, apontando para etapas custosas como o sequenciamento genético e a confecção, em laboratório, de moléculas de RNA envoltas em cápsulas de gordura.

Apesar desta forte demanda financeira, Leal diz que as vacinas personalizadas de RNA contra o câncer são "um caminho sem volta" e explica que os tumores que mais podem se beneficiar dessa terapia são aqueles que tendem a ter uma melhor resposta com imunoterapias hoje. Exemplos deles são alguns tipos de câncer de intestino, de mama, pulmão e melanoma. 

BBC Brasil

Um choque para a esquerda: a direita que admira e apoia Vladimir Putin.

 




Mesmo que seja pelos motivos errados, existe uma parcela do conservadorismo populista que se encanta pelo líder russo - e ele retribui de várias maneiras.

Por Vilma Gryzinski

Para quem se acostumou à comodidade de pensar que Vladimir Putin é um aliado da esquerda, pelos laços com regimes como os de Cuba e da Venezuela e o antiamericanismo visceral, é uma surpresa descobrir que um dos debates do momento nos Estados Unidos é sobre o apoio da direita ao autocrata russo.

Como tantas outras coisas, a discussão foi empurrada por Tucker Carlson, o influente polemista da Fox, quando disse, no começo de dezembro, que a Rússia só queria “proteger suas fronteiras” ao fazer uma formidável concentração de tropas bem do lado da Ucrânia – uma jogada que Putin está repetindo para arrancar um compromisso dos Estados Unidos que o país vizinho não entrará para a Otan, a aliança militar ocidental, nem receberá armamentos de fora, o que seria praticamente uma rendição.

Conquistar a faixa da direita mais populista é uma das provas da prodigiosa sagacidade de Vladimir Putin, um gênio do mal, mas gênio.

O fenômeno começou na era Trump. Acusado, equivocadamente, de ter um acordo secreto com o regime russo para promover sua eleição, Donald Trump sempre demonstrou uma notável docilidade em relação ao russo.

Mesmo que isso não tenha se traduzido politicamente – a Rússia foi mais penalizada ainda -, Trump chegou a dizer que, entre os serviços de inteligência americanos que denunciavam a campanha russa pelos meios digitais para influenciar a eleição presidencial, e a negativa de Putin, ficava com a segunda hipótese.

A declaração culminou uma guinada nos alinhamentos ideológicos nos Estados Unidos. Durante a Guerra Fria, os democratas eram mais propensos a negociações e concessões em relação à União Soviética, uma tendência que se projetou para a Rússia quando o império comunista acabou.

Os republicanos eram a linha dura, os “falcões” que desafiavam os adversários soviéticos em todos os campos – e empurraram a extraordinariamente incruenta dissolução do maior inimigo que os Estados Unidos já tiveram.

Diante do encantamento de Donald Trump com Putin, muitos de seus partidários começaram a achar que o russo não era tão mau assim, não deveria ser rejeitado porque “ainda vamos precisar dele” no combate ao extremismo muçulmano e estava do lado do conservadorismo social em temas como religião, homossexualidade, educação, nacionalismo e patriotismo.

Rick Lowry, da direita mais tradicional como diretor da revista National Review, resumiu assim esse admiração:

“Os motivos do apelo de Putin aos populistas americanos são muitos. Eles admiram sua força e sua audácia na promoção dos interesses da Rússia. Acham que tem os inimigos certos, o mesmo establishment que tripudiou sobre Donald Trump. Veem nele um antídoto ao cosmopolitanismo da União Europeia e uma renovada reafirmação da soberania nacional. Invejam sua reação a causas progressistas da moda e sua aliança com a Igreja russa para formar uma frente unida em favor do que consideram os valores tradicionais da civilização ocidental”.

É claro que Lowry considera tudo um trágico engano que favorece um regime brutal e autoritário que “prende opositores, assassina críticos, invade e esquarteja países vizinhos, enriquece uma cleptocracia e instaura uma ditadura vitalícia”.

A direita populista americana não é a única conquista de Putin nesse campo. Os líderes mais conhecidos dessa tendência ideológica na Europa são todos admiradores de Putin – quando não devedores, como Marine Le Pen, que recorreu a um banco russo quando seu partido estava endividado e precisando de dinheiro. Nigel Farage, o homem do Brexit, e o italiano Matteo Salvini são outros admiradores de Putin.

Na Alemanha, a capacidade de manipulação do ex-agente da KGB atinge o ápice. Falam a favor do regime russo tanto o partido mais à esquerda, Die Linke, quanto o mais à direita, o Alternativa para a Alemanha. Outro campo fértil do momento: o movimento antivacinação. O canal RT (originalmente, Russia Today, um eficiente instrumento de propaganda) intensificou as teorias conspiratórias pouco antes da eleição de setembro.

A motivação de Putin e seu regime, herdeiros das famosas habilidades soviéticas nas artes negras da contrainformação, é cristalina: tudo que desfavorece os Estados Unidos, a União Europeia e a aliança ocidental é bom para a Rússia. Como as democracias têm um de seus principais pilares no dissenso, o terreno é fertilíssimo para as jogadas dirigidas.

Reconhecer que Putin é um gênio nesse tipo de manipulação não significa achar que ele seja um agente positivo.

Cooptar Tucker Carlson, com todo o poder de influência que ele tem sobre a direita americana, é uma prova de sua maestria nesse tipo de armação.

A questão da Ucrânia vai mostrar no curto prazo se Putin consegue intimidar os Estados Unidos e seus aliados europeus a ponto de aceitarem alguma vantagem para ele. Putin aposta que ninguém quer se enredar num conflito real, de consequências incontroláveis, por causa da Ucrânia. E que Joe Biden não tem impulsão suficiente para aguentar uma queda de braço. Em outras palavras, seria mais fraco do que Donald Trump.

O jogo ainda está na fase intermediária. Uma de suas atrações paralelas é ver como a esquerda coincide com a direita populista em defender posições favoráveis à Rússia de Putin. Não tem como não reconhecer que o homem é fera.

Revista Veja

Potências nucleares se comprometem a evitar conflito atômico

 





Em meio ao agravamento das tensões políticas e econômicas, declaração conjunta assinada por EUA, Rússia, China, Reino Unido e França traz mensagem pacífica e afirma que "não há vencedores em uma guerra nuclear".

As cinco maiores potências nucleares, em uma rara demonstração de unidade, se comprometeram nesta segunda-feira (03/22) a evitar a disseminação de armas atômicas e um possível conflito nuclear.

Estados Unidos, Rússia, China, Reino Unido e França deixaram de lado as tensões diplomáticas, políticas e econômicas para reafirmarem seus comprometimentos com um futuro, ao menos, mais seguro em relação às armas nucleares.

A declaração conjunta foi divulgada pelos cinco países signatários do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP), válido desde 1970, após o anúncio do adiamento, em razão da pandemia de covid-19, do processo de revisão do acordo, que estava marcado para o dia de 4 de janeiro.

As cinco nações – chamadas de P5 ou N5 – também são membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU.

Apesar de Rússia e China estarem em oposição a seus parceiros ocidentais em uma variedade de temas – que vão desde questões de economia a direitos humanos – as potências nucleares afirmaram em conjunto que "uma guerra nuclear não pode ser vencida e jamais deve ser travada".

Evitar "uso não autorizado" das armas

Segundo a declaração, as cinco nações consideram que "evitar a guerra entre os Estados com poder nuclear e a redução de riscos estratégicos são nossas responsabilidades primordiais".

"Pretendemos manter e, mais além, reforçar nossas medidas nacionais para evitar o uso não autorizado ou não proposital das armas nucleares."

Na declaração, os países prometem cumprir um artigo fundamental do TNP, sob o qual os Estados se comprometem com o total desarmamento no futuro das armas nucleares.

"Nos manteremos comprometidos com nossas obrigações para com o TNP, incluindo as previstas no Artigo 6º", que estabelece o desarmamento completo sob rígido controle.

Segundo a ONU, 191 países assinaram o tratado, que prevê em suas cláusulas uma revisão de suas operações a cada cinco anos.

A declaração surge em um momento em que as tensões entre a Rússia e os EUA atingem o ponto mais alto desde o fim da Guerra Fria, impulsionadas pelas ameaças russas à Ucrânia. Moscou, por sua vez, teme a possibilidade de uma expansão da Otan para o Leste Europeu.

Ao mesmo tempo, crescem as preocupações em relação ao desentendimento entre a China e os EUA envolvendo o domínio de Pequim sobre Taiwan.

A declaração também vem em um momento em que as potências mundiais tentam reavivar o acordo nuclear de 2015 com o Irã, do qual os EUA se afastaram durante a presidência do republicano Donald Trump, em 2018.

Países modernizam arsenais nucleares

O conceito de que não haveria vencedores em uma guerra nuclear foi inicialmente evocado pelo líder soviético Mikhail Gorbachev e pelo presidente americano Ronald Reagan em 1985, mas esta é a primeira vez que foi utilizado por estas cinco nações, observa Marc Finaud, diretor para estudos de proliferação de armas do Centro de Políticas de Segurança de Genebra.

Jean-Marie Collin seção francesa da Campanha Internacional para a Abolição das Armas Nucleares (Ican), considerou positiva a declaração conjunta, mas observou que "o fato de que, ao mesmo tempo, todos estão modernizando e renovando seus arsenais nucleares, compromete [a iniciativa]".

O TNP reconhece essas cinco nações como potências nucleares, mas não inclui a Índia e o Paquistão, que também desenvolveram esses armamentos. Muitos observadores acreditam que Israel também já possua armas nucleares, embora o país jamais tenha reconhecido isso.

Esses três países não são signatários do TNP. A Coreia do Norte, que reconhecidamente já desenvolveu armas nucleares, abandonou o acordo em 2003.

Deutsche Welle

Covid, 2 anos depois: 5 coisas que descobrimos desde o início da pandemia

 




Já se passaram dois anos desde que um novo coronavírus foi descoberto após um surto na China.

Por Peter Ball

O país anunciou a descoberta do Sars-Cov-2, causador da covid-19, em 31 de dezembro de 2019 e, desde então, o mundo mudou em uma velocidade estonteante. A pandemia que se seguiu mudou desde a forma como trabalhamos até os tratamentos médicos disponíveis para nós.

Veja cinco coisas que aprendemos desde o início da pandemia.

'Antes da pandemia, o desenvolvimento da vacinas demorava pelo menos 4 anos'

1. As vacinas de mRNA funcionam e podem ser feitas com rapidez

Assim que a covid-19 atingiu o status de pandemia, começou uma corrida entre pesquisadores para fazer uma vacina que pudesse proteger a população.

Algumas empresas farmacêuticas decidiram apostar em um tipo relativamente novo de tecnologia, que ainda não havia sido aplicada em uma vacina aprovada para uso humano - o mRNA.

A aposta deu certo. Usando mRNA, não só a Pfizer/BioNTech (e depois a Moderna) conseguiu desenvolver uma vacina para covid-19 mais rápido do que qualquer outra empresa como também abriu a porta para uma série de novos tratamentos usando tecnologia semelhante.

O processo funciona pegando um pequeno pedaço de código genético, chamado mRNA, e revestindo-o de gordura. Esse material pode então ser absorvido pelas células, que o usam como um conjunto de instruções para produzir novo material.

Nas vacinas contra o coronavírus, o mRNA instrui nossas células a criar uma pequena parte do vírus da covid. O sistema imunológico do corpo então aprende a reconhecer o vírus e fica pronto para atacá-lo se seu corpo foi infectado.

Mas o mRNA tem potencial para ser usado de muitas outras maneiras. Além de poder ser usado para criar novas vacinas para doenças como HIV, gripe e zika, ele pode ser usado para treinar o sistema imunológico do corpo para atacar as células cancerígenas, para criar as proteínas que faltam nas células de pessoas com fibrose cística ou para ensinar o sistema de defesa do corpo em pessoas com esclerose múltipla a parar de atacar o sistema nervoso.

A pesquisa sobre tratamentos de mRNA vem acontecendo há décadas, mas as vacinas contra a covid-19 são a primeira vez em que foi comprovado que a tecnologia funciona na prática. Esse sucesso pode impulsionar pesquisas com potencial de mudar a vida de milhões de pessoas.

'A pandemia afetou os mais pobres com mais força'

2. A covid-19 se espalha pelo ar com muito mais facilidade do que pensávamos inicialmente

Cerca de quatro meses após o início da pandemia, a Organização Mundial da Saúde ainda não aconselhava as pessoas a usarem máscaras. "Não recomendamos o uso de máscaras, a menos que você esteja doente", disse Maria Van Kerkhove, líder técnica do combate à covid-19 na organização.

Mas as evidências científicas que surgiram desde então mudaram essa visão. Hoje, assim como durante a maior parte da pandemia, a OMS afirma que as pessoas devem "tornar o uso de máscara uma parte normal de estar perto de outras pessoas".

Pesquisadores descobriram que o vírus da covid-19 é transmitido não apenas por grandes gotas de saliva ou muco que ficam no ar por um curto período depois que alguém tosse ou espirra.

O vírus também pode se espalhar por meio de aerossóis - partículas muito menores que podem permanecer no ar por muito mais tempo.

Hoje sabemos que a transmissão de covid-19 se dá principalmente por via aérea. A transmissão de Sars-CoV-2 após tocar em superfícies é agora considerada relativamente mínima.

"Em março [de 2020], as pessoas me perguntavam quanto tempo elas precisavam passar limpando as compras. Todo mundo estava hipervigilante e hiperparanóico", diz Paula Cannon, professora de Microbiologia e Imunologia Molecular da Escola de Medicina da Universidade do Sul da Califórnia.

"Desde então, aprendemos que o vírus transportado pelo ar em espaços internos mal ventilados é a causa provável da maioria das transmissões e a razão pela qual bares e ambientes fechados são tão arriscados", explica.

O vírus é emitido por pessoas sem máscara enquanto falam, cantam ou simplesmente respiram e permanece no ar se o ambiente não for ventilado.

Lavar as mãos e limpar as superfícies ainda são bons hábitos, mas agora há muito mais ênfase no uso da máscara e na ventilação.

'O trabalho de casa se tornou muito mais comum'

3. O trabalho de casa veio para ficar

Milhões de pessoas em todo o mundo começaram a trabalhar em casa em vez de ir aos escritórios e outros locais de trabalho durante a pandemia.

A pandemia mostrou que esse tipo de trabalho não reduz a produtividade e fez muitas empresas abandonarem a resistência que tinham em adotá-lo.

O Twitter anunciou em maio de 2020 que seus funcionários poderiam trabalhar de casa em tempo integral mesmo após o fim da pandemia, desde que sua função lhes permita fazer esse trabalho.

"Os últimos meses provaram que podemos fazer esse trabalho", disse a empresa.

O Facebook fez um anúncio semelhante no início do ano, mas não são apenas os gigantes da tecnologia que pretendem fazer a mudança.

Uma pesquisa realizada com 1.200 empresas pela Enterprise Technology Research mostrou que a porcentagem de trabalhadores em todo o mundo que estão trabalhando permanentemente em casa deve dobrar em 2021.

Em uma pesquisa global com mais de 200 mil pessoas em 190 países, a Boston Consulting descobriu que 89% das pessoas esperavam poder trabalhar em casa pelo menos algumas vezes na semana após o fim da pandemia. É um aumento considerável em relação ao índice antes da pandemia: apenas 31% das pessoas tinham esse desejo.

Mas para muitas pessoas, geralmente com empregos menos seguros e com menor remuneração, as oportunidades de trabalho flexível podem ser mais limitadas. Isso poderia aumentar ainda mais as desigualdades na sociedade.

'Hoje sabemos que a transmissão do vírus se dá principalmente pela via aérea'

4. A pandemia atingiu mais as pessoas em situação de vulnerabilidade social

A pandemia de covid-19 nos lembrou que uma crise pode piorar a enorme desigualdade social que já existe no mundo.

No Reino Unido, um estudo realizado por pesquisadores do UK Biobank descobriu que na parte mais pobre do país 11,4% das pessoas contraíram covid, enquanto nas áreas mais privilegiadas a taxa foi mais baixa (7,8%).

A equipe também descobriu que pessoas de minorias étnicas foram afetadas de forma desproporcional, algo que também aconteceu nos Estados Unidos.

Em Nova York, dados de 2020 mostraram que hispânicos e negros foram 34% e 28% das mortes de covid, respectivamente, embora componham 29% e 22% da população.

Uma pesquisa na Califórnia mostrou que pacientes negros não-hispânicos tinham 2,7 vezes mais chances de hospitalização, em comparação com pacientes brancos não-hispânicos.

Em muitos países não existem dados precisos sobre os efeitos da covid, mas globalmente uma das maiores disparidades está nas taxas de vacinação. Em países de renda alta e média, cerca de 70% das pessoas estão totalmente vacinadas, de acordo com os dados do Our World in Data. Isso cai para apenas 4% nos países de baixa renda. Mesmo em países de renda média baixa, a taxa ainda é de apenas 32%.

À medida que as autoridades médicas distribuem doses de reforço e que a variante omicron se espalha pelo mundo, as consequências da lenta implantação de vacinas em países menos desenvolvidos podem se tornar ainda mais mortais.

'A pandemia matou milhões antes do desenvolvimento das vacinas'

5. Não temos certeza de como, ou se, a pandemia de covid-19 vai terminar

Em muitas doenças, como a varíola, é possível atingir a imunidade de rebanho da população através da vacinação massiva da população - ou seja, o número de pessoas imunizadas é tão alto que o vírus não consegue circular.

Para outras doenças, como a gripe, isso é mais difícil de alcançar devido a constantes mutações dos vírus ou a diminuição da resposta do sistema imunológico com o tempo.

No caso da covid-19, o desenvolvimento da pandemia mostra cada vez mais que podemos estar diante do segundo caso. A diminuição da resposta do sistema imunológico com o tempo, inclusive, é o motivo pelo qual muitos países (incluindo o Brasil) estão implementando programas de reforço das vacinas.

De acordo com Shabir A Madhi, professor da Universidade de Witwatersrand, na África do Sul, a resposta imunológica após a infecção ou vacinação contra covid-19 dura aproximadamente de seis a nove meses.

Embora as vacinas sejam eficazes na proteção contra consequências mais graves da covid, mesmo as melhores não parecem impedir as pessoas de transmitir o vírus a outras pessoas.

"Com as vacinas que temos, mesmo que reduzam a transmissão, o conceito de imunidade de rebanho não faz sentido", diz Salvador Peiró, do instituto de pesquisa FISABIO em Valência, na Espanha.

E o Sars-CoV-2 tem sofrido rápidas mutações que geram novas variantes - algumas mais transmissíveis e podem ser mais resistentes ao efeito das vacinas.

As variantes também mostram que teremos que "conviver" com o vírus conforme ele evolui, atualizando vacinas regularmente para adaptá-las. Nesse cenário, os países com alto índice de vacinação voltarão a ter uma vida mais ou menos dentro da normalidade, sabendo que embora algumas pessoas devam ficar doentes, os sistemas de saúde não ficarão sobrecarregados.

Enquanto isso, um pequeno número de territórios com baixos níveis de covid, como a Nova Zelândia e Hong Kong, enfrentam um dilema. Sem nenhum sinal de que a covid foi erradicada em todo o mundo, eles terão que continuar com quarentena estrita e restrições de viagem ou enfrentar o dia em que vão relaxar as medidas de permitir a entrada de mais covid. 

BBC Brasil

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