terça-feira, dezembro 16, 2025

PL da Dosimetria pode ser até pior que anistia

 


Terça-feira, 16 de dezembro de 2025


PL da Dosimetria pode ser até pior que anistia


Declaração de Marcelo Crivella expõe como o PL da Dosimetria pode estimular novos ataques à democracia.


Em uma das últimas edições de Cartas Marcadas, fiz uma radiografia dos escândalos que cercam o Republicanos, um partido que passou a ocupar lugar recorrente em investigações e operações que apuram a relação de políticos com o crime organizado.


A sucessão desses episódios ajudou a revelar não apenas casos isolados, mas um padrão de atuação política. Na edição de hoje, volto a esse partido por outro motivo, mas igualmente central: o debate em torno do chamado PL da Dosimetria.


A proposta que mexe com o tratamento jurídico dos crimes contra o Estado de Direito e com as consequências impostas aos responsáveis pelos atos de 8 de Janeiro é de autoria do deputado Marcelo Crivella, ex-prefeito do Rio de Janeiro. Qual o seu partido? Sim, o Republicanos.


É verdade que Crivella pedia a anistia e o texto que foi aprovado pela Câmara não concede o perdão, mas sim a redução de penas dos envolvidos. Por isso, o ex-prefeito do Rio acabou perdendo protagonismo no debate para o relator Paulinho da Força, do Solidariedade de SP.


Talvez seja por esse motivo que uma declaração de Crivella, fundamental para entender o perigo da aprovação do PL da Dosimetria, tenha passado despercebida. É sobre ela que vamos nos debruçar.


Vamos aos fatos.

O PL da Dosimetria é só outro nome para anistia aos golpistas


Nós o chamamos de: perigoso e vergonhoso.


Enquanto isso, a grande mídia, como o Estadão, o chama de “a coisa certa”.


Sem um jornalismo independente como o Intercept, quem exporia as mentiras dos golpistas? Seus apologistas?


Nosso trabalho depende do seu apoio. Você pode nos ajudar a responsabilizar os golpistas e seus aliados hoje com uma doação de R$ 20?


Dá para acreditar? Nós publicamos esse trecho na nossa página do Instagram. Para assistir, clique aqui.


A declaração tem relevância porque 
o PL da Dosimetria será analisado nesta semana pela Comissão de Constituição e Justiça do Senado, sob relatoria do senador Esperidião Amin, do PP do Espírito Santo. E a proposta, aprovada pela Câmara, tem sido celebrada como uma opção menos ofensiva à estabilidade democrática do país. Isso é falso.


Embora o texto mantenha percentuais mais elevados para crimes hediondos, milícias e organizações criminosas, o contraste com o tratamento dado aos crimes contra o Estado de Direito é evidente. Na prática, a tentativa de golpe passa a contar com um caminho penal mais curto, previsível e permeado por mecanismos de redução de pena.


Ao reconhecer publicamente que esse desenho legislativo pode incentivar novas ações semelhantes às de janeiro de 2023, Marcelo Crivella explicita um efeito desconsiderado por muitos analistas: uma nova tentativa de golpe no país, caso ocorra, seria punida com muito menos firmeza.


O PL da Dosimetria, portanto, pode ser até mais lesivo do que a proposta de anistia porque não apenas revisa o passado, mas também estabelece parâmetros que influenciam diretamente a punição a futuras investidas contra a democracia.


Às vésperas da votação no Senado, a proposta coloca o Congresso diante de uma escolha que transcende o debate penal.


Trata-se de decidir se o 8 de Janeiro será tratado como um marco a partir do qual se reforçam os limites institucionais ou como um episódio cujas consequências podem ser diluídas, abrindo espaço para que a história se repita.


Estamos nos aproximando da última edição do Cartas Marcadas neste ano. Antes de fechar esse ciclo, quero ouvir você: o que achou das edições recentes?


Que temas merecem mais atenção, aprofundamento ou continuidade?


Seu retorno ajuda a orientar as próximas investigações e a definir os caminhos do que vem pela frente.


Responda, critique, sugira. Esse espaço também é construído a partir do diálogo com quem lê.


Nos vemos na terça-feira que vem?

Até lá,

Paulo Motoryn
Editor de Brasília


Obs. A newsletter Cartas Marcadas só é possível graças aos leitores que optam por apoiar nosso trabalho. Obrigado a todos vocês que doam todo mês.


Se você ainda não o faz, por favor, considere tornar-se um apoiador mensal.


Precisamos de 100 novos membros até o final do ano para continuar produzindo essas investigações e análises.

Em destaque

A PEC da reforma administrativa é adequada? SIM

  A PEC da reforma administrativa é adequada? SIM   É preciso readequar o custeio do Estado, revendo remunerações, adicionais, altos benefíc...

Mais visitadas