Publicado em 20 de dezembro de 2025 por Tribuna da Internet

Cassação de Eduardo pode se refletir sobre a candidatura de Flávio
Pedro do Coutto
A decisão da Mesa Diretora da Câmara dos Deputados de cassar os mandatos de Eduardo Bolsonaro e Alexandre Ramagem, embora sustentada tecnicamente pelo regimento — no caso de Eduardo, por ultrapassar o limite de ausências injustificadas às sessões plenárias, e no de Ramagem, por perda de direitos políticos após condenação judicial — transcende o campo jurídico. Ela se projeta de forma direta sobre o terreno político, especialmente ao ser interpretada dentro da moldura eleitoral de 2026.
A cassação de Eduardo Bolsonaro repercute de modo particular porque ele não é apenas mais um parlamentar ausente. É um símbolo do bolsonarismo no Legislativo e um dos principais articuladores do grupo político que orbita sua família. Sua saída do Congresso enfraquece a presença institucional desse bloco em um momento delicado: o de construção e consolidação da candidatura presidencial de Flávio Bolsonaro.
ALCANCE ORGÂNICO – Há dois caminhos possíveis para analisar esse impacto. De um lado, a perda do mandato limita o alcance orgânico do bolsonarismo no Parlamento, reduzindo sua capacidade de articulação, influência e visibilidade, elementos essenciais no processo de formação de alianças. Eduardo funcionava como ponte entre militância, bancada e opinião pública, e sua ausência desorganiza parte desse ecossistema.
De outro, a cassação será inevitavelmente incorporada ao discurso político da família: o da “perseguição institucional”. Essa narrativa, consolidada desde a inelegibilidade de Jair Bolsonaro e intensificada com as recentes condenações judiciais de aliados, pode servir como combustível para mobilizar o eleitor conservador mais engajado, estimulando a construção de um sentimento de reação e unidade. Porém, essa tática possui alcance limitado fora dessa bolha: transformar rejeição em voto permanece sendo o maior desafio de Flávio Bolsonaro na arena nacional.
CANDIDATURA ÚNICA – O centro e a direita não possuem, até agora, um nome capaz de aglutinar completamente o campo ideológico ao redor de uma candidatura única. Figuras como Ronaldo Caiado, Ratinho Junior, Romeu Zema e Eduardo Leite representam projetos próprios, com ambições e estratégias distintas, e uma coalizão ampla entre eles — sobretudo em torno de Flávio Bolsonaro — parece, neste momento, improvável. O jogo político mostra que somados, eles não necessariamente expandem o eleitorado bolsonarista; podem fragmentá-lo.
A hipótese de uma união ampla do campo conservador contra Lula, embora teoricamente possível, encontra obstáculos práticos: divergências regionais, personalistas e programáticas. Além disso, a recusa de Tarcísio de Freitas em disputar a Presidência, mantendo foco na reeleição em São Paulo, remove do tabuleiro um nome competitivo com perfil técnico e moderado. E mesmo que o governador paulista volte atrás — algo sempre possível na política — ainda resta a questão central: seu partido, sua base, e suas alianças aceitariam o reposicionamento?
FRAGMENTAÇÃO – O cenário, hoje, projeta um primeiro turno com fragmentação dentro do campo não-lulista e uma vantagem natural para o atual presidente, que entra no pleito com maior capilaridade eleitoral. Dificilmente a cassação de Eduardo, isoladamente, será suficiente para redefinir essa equação, mas ela adiciona ao quadro uma camada simbólica potente: coloca à prova a capacidade do bolsonarismo de reorganizar-se sem uma de suas vozes mais ativas no Congresso.
Se a queda de Eduardo será um obstáculo ou um estandarte vai depender menos do ato em si e mais do que Flávio Bolsonaro — e o PL — forem capazes de fazer politicamente com ela. A cassação, portanto, não encerra um capítulo; inaugura um novo teste de força para o projeto político da família em um 2026 que já se anuncia áspero, estratégico e crucial para o futuro da direita brasileira.