De boas intenções o inferno está cheio: quando a boa vontade vira risco de mandato.
Por José Montalvão
A conhecida frase “de boas intenções o inferno está cheio” — ou, como muitos dizem, “de boa vontade o inferno está lotado” — carrega uma verdade dura, porém necessária: intenções nobres, discursos bonitos e gestos aparentemente solidários não têm valor algum quando não são transformados em ações corretas, legais e republicanas. Pior ainda: muitas das maiores injustiças e ilegalidades da vida pública nasceram exatamente de propósitos que se diziam “bons”, mas foram executados de forma errada.
Faço esse alerta de forma direta e responsável: você está arriscando o seu mandato. Talvez por desconhecimento da lei, talvez por excesso de confiança, ou talvez por achar que “todo mundo faz”, mas o fato é que, no vídeo divulgado, você se torna réu confesso ao admitir, com todas as letras, que está praticando assistencialismo.
E aqui não cabe romantização.
Assistencialismo não é política pública, não é ação social institucional e não é virtude administrativa. Pelo contrário: quando praticado por agente público, especialmente vereador, configura ato de improbidade administrativa, pois fere princípios básicos da administração pública, como a legalidade, a impessoalidade e a moralidade.
A lei é clara. O vereador não foi eleito para distribuir favores, ajudar individualmente eleitores ou substituir o papel do Executivo. Sua função constitucional é legislar, fiscalizar e representar os interesses coletivos, jamais usar recursos, influência ou cargo para criar dependência política ou capital eleitoral por meio de favores pessoais.
O mais grave é a incoerência.
Não se trata aqui de atacar pessoas, mas de defender princípios. A política precisa sair do campo do improviso, do “jeitinho” e da falsa bondade que, no fundo, só perpetua erros históricos. O Ministério Público existe, acompanha, investiga — e quando age, muitos dizem ser “perseguição”, quando na verdade é apenas a lei sendo aplicada.
Portanto, o alerta está feito: boa vontade não absolve ilegalidade, discurso não apaga prova, e vídeo não se apaga com retórica. Quem escolhe a vida pública precisa entender que o mandato não é instrumento de favor, é responsabilidade institucional.
A história política de Jeremoabo — e de tantos outros municípios — já mostrou, inúmeras vezes, que o inferno político também se constrói com boas intenções mal executadas.