Publicado em 26 de fevereiro de 2024 por Tribuna da Internet
Andréia Sadi
GloboNews
Ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) ouvidos pelo blog classificaram o ato do ex-presidente Jair Bolsonaro que aconteceu neste domingo (25) na Avenida Paulista, em São Paulo, como um “grito de desespero” diante do avanço das investigações do roteiro do golpe e do temor do ex-presidente da prisão.
Na avaliação de um integrante da corte, Bolsonaro antecipou sua estratégia de defesa — que chamam de “absurdo jurídico”— para tentar criar um ambiente junto a seus apoiadores de que não havia nada de errado em discutir uma minuta de golpe de Estado.
SUBMETER AO CONGRESSO? – Na admissão da existência da minuta do golpe por parte de Bolsonaro, durante seu discurso, um ministro do STF anotou: “mas como ele diz que ia submeter [a minuta] ao Congresso se, com golpe de Estado, quem garante que ia ter Congresso? Tinha uma versão [da minuta] até para prender o Pacheco [presidente do Senado]”.
Para a Polícia Federal, Bolsonaro admitiu que está liderando o golpe. E, ao pedir anistia, reconhece também crimes investigados.
Magistrados avaliam que está cada vez mais clara a mudança no entendimento de Bolsonaro e de seus aliados de que o cerco está se fechando, pois, antes, falava-se no ex-presidente como autor intelectual, como se propostas de golpe fossem apresentados a ele.
ERA PRÓ-ATIVO – No entanto, com o avanço da PF, evidencia-se que Bolsonaro estava “materializando” a proposta —nas palavras de um ministro da Corte. “Não só era ativo, como era pró-ativo”.
Apesar de Bolsonaro ter evitado ataques ao STF, ministros viram uma terceirização de ataques, numa ação coordenada, a Silas Malafaia —chamado por integrantes da Corte, nos bastidores, de ‘ventríloquo”.
Investigadores avaliam que há limites até mesmo para um líder religioso como Malafaia e que se houver uso da igreja para ataques à democracia, ele não será poupado.
LÍDER DA DIREITA – Politicamente, Bolsonaro mostrou mais uma vez que é o líder da direita. Ele usou o ato como uma espécie de ordem para que não o abandonem, pois isso pode ter efeitos negativos para eventuais sucessores e aliados, como o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, e o prefeito paulistano, Ricardo Nunes —às vésperas da eleição municipal.
Nem mesmo os aliados de Bolsonaro, porém, acreditam que o ex-presidente sobreviverá ao fim das investigações sem uma condenação.
No STF e na PF, a avaliação é de que se houver prisão, ela ocorrerá apenas após transitado em julgado — quando não há mais possibilidade de recurso.